Briga de galos

[…] estamos passando de uma era de escassez de informações para uma era de superabundância de informações. Por definição, os poderosos no futuro continuarão a exercer domínio sobre a mente dos homens, mas os métodos de manipulação serão alterados. A tecnologia do poder está mudando da ênfase do passado na privacidade e ocultação para as técnicas mais contemporâneas de distração, viés, concepções erradas e estupidez deliberada.

Trecho retirado do artigo “De Orwell para Gadwell e de volta para Orwell” escrito pelo jornalista americano Steve Sailer (1958-.

O poder não pode ser destruído, somente dividido e distribuído. Ele pode despedaçar-se em uma guerra anárquica de todos contra todos. Ou ele pode solidificar-se como uma tirania. Ou então pode consolidar-se como uma sociedade livre governada por leis universalmente reconhecidas.

Trecho do livro “A Raiva contra Deus – como o ateísmo levou-me à fé”, do jornalista britânico Peter Hitchens (1951-

    Prezados leitores, na semana passada tentei ser otimista, contra minha natureza pessimista, que de acordo com meus estudos é geneticamente determinada pelas condições em que o homo sapiens viu-se nas savanas africanas. Nesta semana permitam-se voltar ao meu modo default, e desfiar minha ladainha de lamentações pelas pesquisas eleitorais. Em uma era como a nossa, em que pressupomos que quanto mais informações melhor, as pesquisas são vistas como um serviço à democracia, pois permitem aos eleitores decidir sobre o voto com mais fundamentação, com base nas reais chances do candidato.

    Discordo dessa posição porque no Brasil as pesquisas estimulam um clima de corrida de cavalos, em que os eleitores ficam ansiosos por apostar no puro sangue com chances de vencer. A eleição de João Doria para a prefeitura de São Paulo já no primeiro turno, é um exemplo claro da influência desmesurada das porcentagens sobre nossa decisão de voto. Os paulistanos, assim como os demais brasileiros, foram bombardeados pelos institutos de pesquisa com os índices de aprovação dos “cavalos” que estavam no páreo. Esses institutos asseguram-nos que são sérios, que seus métodos de amostragem permitem uma boa representatividade da população. Não digo nem que sim nem que não, e ao que me consta eles nunca passaram por uma auditoria, apesar de prestarem um serviço que é cada vez mais relevante em nossa democracia que é unicamente eleitoral.

    Claro, não há necessidade legal de o IBOPE ou o DATAFOLHA serem fiscalizados, não são empresa de capital aberto que precisam ter seus números validados ou terem seus controles internos examinados por auditores independentes. Por outro lado, espanta-me que nós reclamemos tanto das urnas eletrônicas, que não nos dão recibo do voto e levam a toda sorte de teorias sobre a manipulação dos resultados, e acreditemos piamente que perguntar as intenções de voto de algumas centenas de pessoas na rua equivale a saber com certeza que candidato os milhões vão escolher no dia da eleição. Não me entendam mal. Seria temerário da minha parte dizer que os institutos de pesquisa deliberadamente distorcem os números, mas tomar os números obtidos pelos pesquisadores como absolutos é um pouco ingênuo do ponto de vista estatístico.

    Infelizmente é assim que nós brasileiros participamos do processo democrático. As únicas notícias que nos interessam a respeito dos candidatos são os índices que eles conseguem, sempre expostos na capa dos jornais. É nesse sentido que as eleições municipais em São Paulo foram emblemáticas. As últimas pesquisas indicavam Dória na frente e o atual prefeito Fernando Haddad do PT dando um “sprint” para chegar ao segundo turno. Isso causou pânico naqueles que consideravam que o principal objetivo neste momento é destruir o PT. Afinal temos sido informados há vários meses que o partido montou o maior esquema de corrupção na história do Brasil. Não sei se isso é verdade. A respeito se o PT é o partido mais corrupto que já tomou o poder no país devo fazer um parêntese.

    Há enganação nos trópicos desde que os portugueses seduziram os índios com suas miçangas em troca do pau-brasil. Para relembrar-lhes a história, os europeus as consideravam quinquilharias, já os nativos as viam como preciosidades exóticas, afinal os primeiros habitantes daqui não dominavam a técnica de fabricação de vidro. Quando eu era criança, o escândalo financeiro da época era o caso Delfin, depois vieram as tramoias de Naji Nahas na bolsa de valores, o escândalo do BANESPA em São Paulo, o do BANESTADO no Paraná. A diferença entre todos eles e o mensalão e o petróleo, característicos da era PT, é que há mecanismos mais eficientes de investigação atualmente, mecanismos estes que por razões que saberemos talvez daqui a algumas décadas estão sendo usados de maneira especialmente eficiente contra a turma dos defensores dos trabalhadores.

    O que importa reter a respeito desse meu parêntese é que a enxurrada de manchetes sobre prisões de peixes graúdos, trechos escabrosos de delações premiadas e valores vultosos de propinas levaram nós brasileiros a crer que o partido de Lula é um antro de corrupção, e portanto, é preciso que nos livremos desses agentes do mal. Daí a sofreguidão vista em São Paulo em prol do voto útil logo na largada, quando a sensatez deveria orientar-nos a votar de acordo com nossas convicções sobre a melhor proposta, para depois no segundo turno escolhermos o menos pior. Infelizmente, as pesquisas divulgadas regularmente permitiram esse tipo de comportamento utilitarista de transformar o primeiro turno em plebiscito de repúdio ao PT no poder.

    Nesse dérbi, Celso Russomano viveu novamente a sina de cavalo paraguaio, pecha da qual talvez ele não mais se livre, típica da nossa mentalidade de vermos e pior, vivenciarmos, as eleições como rinhas, quando na verdade deveriam ser oportunidade de cobrarmos propostas de candidatos e de exigir deles determinados compromissos. Em tal clima de mera luta pelo poder de estar por cima da carne seca não é de se admirar que, de acordo com dados do jornal O Estado de São Paulo, neste ano ao menos 96 candidatos, pré-candidatos e cabos eleitorais foram assassinados. Podem chamar-me de rabugenta, ou de simplista, mas nossa obsessão com pesquisas eleitorais é tanto um sintoma dessa mentalidade de nós contra eles, quanto uma causa, porque estimulam nosso sentimento de competição em relação ao páreo eleitoral.

    Vivemos um momento delicado em nosso país. O governo Temer acaba de anunciar nos jornais, como esforço de propaganda, que vai tirar o país do vermelho. O que essa frase de efeito, típica dos marqueteiros, significa? Que estamos atolados em problemas e que nossos mandatários irão resolvê-los? Ou que o Brasil chafurdou durante 13 anos em políticas de esquerda e que agora é hora de uma guinada à direita? Se for este o caso, o que significará para os brasileiros comuns a guinada à direita? Que o ônus das reformas que nos dizem ser urgentemente necessárias recairá sobre aqueles que não tem lobby constituído para exercer pressão sobre as instituições que decidem, e somente são chamados a participar da democracia eleitoral, vulgo briga de galos na hora da votação? Qual o propósito de usar figuras de linguagem que nos deixam alarmados? Fazer-nos mais resignados a aceitar medidas duras de engolir em tempos normais?

    Prezados leitores, como assinala o jornalista inglês Peter Hitchens, o poder sempre existirá e o ser humano, anjo caído que é, sempre abusará do poder se tiver a oportunidade de fazê-lo. A questão que deveria ser a principal para nós não é simplesmente como erradicar o PT do poder de uma vez por todas e substituir os vermelhos por outra patota menos chamuscada por denúncias. Deveria ser como distribuir melhor os poderes republicanos para sermos mais bem governados. Talvez enfocar isso seja pedir muito para nós brasileiros, que gostamos tanto das brigas de galo.

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Arautos do caos ou senhores da luz?

Evoluímos para suspeitarmos de tudo e nos preocuparmos com tudo: o medo e a preocupação são ferramentas de sobrevivência. Os caçadores e coletores que sobreviveram às tempestades repentinas e aos predadores eram aqueles que tendiam a perscrutar o horizonte em busca de novas ameaças, em vez de sentarem e apreciarem a paisagem. Eles nos transmitiram os genes do estresse. Essa é a razão pela qual achamos histórias sobre coisas que dão errado muito mais interessantes do que histórias sobre coisas que dão certo. Essa é a razão por que más notícias vendem e os jornais estão cheias delas.

Trecho do artigo “Nossa era de ouro”, escrito por Johan Norberg, jornalista sueco autor do livro “Progresso: 10 razões para esperar pelo futuro”

Na crise, Brasil vira ‘rei’ do pote de plástico: Busca por porta-mantimentos e marmitas faz Tupperware brasileira liderar vendas globais

Título de um artigo publicado no jornal O Globo de 25 de setembro sobre o aumento de vendas da empresa americana Tupperware no Brasil devido à diminuição na procura de refeições fora do lar

    Prezados leitores, para quem não tinha ouvido falar de Johan Norberg, permitam-me apresentar-lhes um sujeito de 43 anos, cujo objetivo em seu último livro é mostrar que nunca houve uma época melhor na história da humanidade para estar vivo. Afinal de contas, a pobreza, a desnutrição, o analfabetismo, o trabalho e a mortalidade infantil estão diminuindo a um ritmo jamais visto antes. O risco de sermos vítimas de guerra, ditadura ou desastre natural é o menor jamais registrado. E, apesar de todas essas melhorias gritantes na qualidade de vida do homo sapiens, este pobre bípede continua a focalizar somente o que acontece de ruim, a dar ouvidos a quem fala sobre o caos iminente, como Donald Trump nos Estados Unidos, ou Marine Le Pen na França, e a considerar que os bons tempos já passaram e que hoje tudo é decadência.

    A explicação de Norberg, conforme descrita acima, é a de que esse pessimismo e essa angústia permanentes em relação ao futuro ajudaram nós seres humanos a sobrevivermos nas savanas africanas e garantirmos nossa perpetuação como espécie, pelo menos até agora. Em suma, no esquema darwiniano, é fundamental seguir à risca a lei de Murphy, formulada por um cientista da NASA, Edward Murphy, pela qual devemos considerar o fracasso como certo para melhor prepararmo-nos contra quaisquer eventualidades. O lado negro de sempre vislumbrar o pior cenário é que acabamos negligenciando as imensas conquistas já realizadas e pior, ficamos obcecados com o que acontece de ruim, como se a derrota fosse a norma.

    Não restará dúvida a quem lê meus humildes artigos que pertenço ao clube dos arautos do caos. Em uma semana, reclamo da introdução do parlamentarismo pelo tapetão por meio do impeachment de Dona Dilma Rousseff. Na outra semana, proclamo meu voto em Donald Trump com a justificativa que se Hillary Clinton for eleita a chance de uma Terceira Guerra Mundial será exponencialmente maior. Na semana seguinte, comento a divisão entre rentistas que vivem de emprestar dinheiro ao governo, e trabalhadores que estão sentindo na carne a desindustrialização precoce do Brasil. Em suma, meu enfoque é sempre naquilo que está dando muito errado, ou que pode dar muito errado.

    Para fazer um mea culpa e tentar compensar todo o meu irrefreável pessimismo, proponho-me nesta semana a tentar ver o lado positivo das coisas. Afinal, se o povo brasileiro não está mais comendo em restaurantes como antes devido à inflação da alimentação fora de casa ter atingido 10,38% no ano passado, isso levou a algo bom. A Tupperware está investindo na expansão de sua fábrica em Guaratiba, no Rio de Janeiro, e o número de consultores de venda dos famosos potinhos aumentou 19% entre abril e junho deste ano.

    Muitos de nós reclamamos que está difícil votar nas eleições municipais de 2 de outubro, que o nível dos candidatos é muito baixo, e que é melhor pagar a multa ou justificar a ausência na cabine de votação do que ter que escolher o menos ruim. Mas será que nossa insatisfação com os candidatos não é uma oportunidade de nós tentarmos ter uma influência maior no processo de escolha pelos partidos? Nesta primeira eleição em que as contribuições de pessoas jurídicas estão proibidas, só 0,16% dos eleitores brasileiros realizaram doações, de acordo com dados coletados pelo jornal O Estado de São Paulo. Isso significa que à parte reclamarmos da corrupção dos políticos, fazer piada das promessas não cumpridas, lavamos as mãos e não assumimos nenhuma responsabilidade pelo aprimoramento dos realizadores de fato da democracia.

    Não doamos porque desconfiamos deles, o que os leva a cair inevitavelmente nos braços de empresas que fazem contribuições com o objetivo de conseguir vantagens na forma de contratos, subsídios e tal. Será que nossa completa desolação com aqueles que nos representam, nossa generalização de que todos são inapelavelmente imprestáveis, não nos oferece a chance de tentar mudar esse estado de coisas? Talvez se começássemos a chamar a atenção dos nossos políticos, fazê-los virar o rosto para a população em geral, eles começariam a mudar de comportamento. Para quebrar o gelo, solidificado por centenas de anos de distanciamento, poderíamos começar assim: “Ei, estou aqui, doei um pequeno valor para sua campanha, espero que você em troca ouça meus pleitos, que aliás são bem humildes, compatíveis com a pequenez da minha doação. Não quero concessões, outorgas, contratos, quero simplesmente que haja um clinico geral 24 horas por dia, sete dias por semana no posto de saúde perto da minha casa.”

    Em outras palavras, será que a proibição de as pessoas jurídicas fazerem doações não é uma oportunidade de descentralizar as demandas feitas aos políticos, pulverizá-las em uma miríade de pequenos pedidos que dificultaria o toma lá dá cá porque aumentaria exponencialmente o número de partes no negócio? Será que a diminuição da possibilidade de um pequeno grupo de grandes doadores ter influência sobre as decisões dos nossos representantes não os obrigaria a formular e executar verdadeiras políticas públicas que contemplassem as necessidades de milhares de pequenos doadores que não querem ter o privilégio de fornecer plataformas de petróleo ou construir hidroelétricas na Amazônia, mas simplesmente ter uma melhor qualidade de vida?

    É verdade que como aponta Marlon Reis, do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral, o brasileiro não tem a cultura de doar para políticos com os quais eles têm alguma afinidade ideológica, mas sim de trocar seu voto por um bujão de gás, por um enterro, por uma dentadura, por uma inscrição no Bolsa Família. Ora, será que essa vivissecção que nós brasileiros estamos testemunhando e que está nos mostrando as entranhas do modo de fazer política no Brasil não é um chamado às falas de nós mesmos, os eleitores que tradicionalmente temos deixado a política a cargo dos profissionais, com graves consequências, como estamos vendo? Que tal se aproveitássemos a oportunidade dada pelo espetáculo patético dos nossos representantes de esquerda, de direita e de centro para irmos à luta e dedicarmos uma parte do nosso tempo a fazer política? Por exemplo, participar de audiências públicas, mandar e-mail aos membros do Legislativo, cobrar-lhes providências, denunciarmos más práticas aos jornais.

    Prezados leitores, confesso que o viés pessimista que predomina em minha personalidade está zombando dessa minha tentativa de ver o lado positivo da crise política brasileira e murmurando que minhas propostas são quimeras. Quimeras hoje, poderão ser realidade em alguns anos se virmos a Operação Lava Jato, o desmanche do PT, a falta de caráter do governo Temer (no sentido macunaímico e amplo do termo) como um fundo de poço do qual a saída só pode ser a luz do sol lá em cima. Oxalá tenhamos a coragem de sairmos da nossa zona de conforto e termos a coragem de ser otimistas e colocarmos a mão na massa.

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Tudo em família

Quem criou o FI-FGTS na Caixa foi o Moreira Franco. Toda a operação no Porto Maravilha foi montada por ele. No programa de privatização, dos R$ 30 bilhões anunciados, R$ 12 bilhões vêm de onde? Do Fundo de Investimento da Caixa.

Trecho da entrevista do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ao jornal O Estado de São Paulo em 18 de setembro. Cunha é, de acordo com o jornal, suspeito de ter cobrado da empreiteira Carioca Engenharia R$ 52 milhões de propina em troca da liberação de verbas do Fundo de Investimento (FI-FGTS) para o Porto Maravilha, projeto de revitalização da região portuária

Para parafrasear Mark Twain, todo mundo reclama da desigualdade, mas ninguém faz nada a respeito. O que eles fazem na realidade é usar a “desigualdade” para projetar sua própria visão sobre como tornar a sociedade mais próspera e ao mesmo tempo mais igual. Essa visão depende muito do fato de eles verem o grupo dos 1% mais ricos como inovador, inteligente e criativo, criando riqueza ao ajudar o resto da sociedade – ou de verem o grupo dos 1% mais ricos, conforme os grandes economistas clássicos escreveram, como a camada mais rica da população que consiste nos rentistas, que obtêm sua renda e riqueza dos 99% como proprietários ociosos, monopolistas e banqueiros predadores.

Trecho do artigo do economista canadense Michael Hudson intitulado “Celebrando o grupo do 1% mais ricos”, publicado em 19 de setembro

    Prezados leitores, finalmente os deploráveis parvenus estão sendo colocados para escanteio. O juiz Sérgio Moro, que acaba de voltar de mais um ciclo de palestras nos Estados Unidos, aceitou a denúncia do Ministério Público federal contra o ex-presidente Lula que, portanto, agora é réu e responderá a processo penal. (Um aparte: Podem chamar-me de fanática da teoria da conspiração, mas intriga-me sobremaneira como os americanos descobriram tão precocemente os dotes intelectuais do Senhor Moro. Talvez daqui a algumas décadas saibamos o porquê desse amor à primeira vista entre a inteligência jurídica estadunidense e o juiz curitibano). As chances de Lula candidatar-se em 2018 ficam menores, porque até lá ele poderá ter adquirido uma ficha suja. Assim, o perigo de o povo deixar-se levar pelo carisma de Lula será neutralizado pela atuação firme do Judiciário, que o condenará por ser o principal beneficiário do esquema heroico montado pelo PT para conseguir dinheiro para campanhas.

    Perdoem-me o adjetivo utilizado, mas considerando que o partido nunca foi da inteira confiança dos capitalistas tupiniquins, não é de surpreender que o PT tenha se valido do acesso à Petrobras proporcionado pela eleição de Lula para garantir dinheiro para o partido. A angústia das pessoas de esquerda em um país tão desigual quanto o Brasil é sempre muito grande. Por mais que ela contemporize com as demandas dos donos do poder, como Lula fez nomeando banqueiro para o Banco Central e mantendo a política econômica de FHC, o grupo dos 1% mais ricos sempre desconfiará de um indivíduo que viajou de pau de arara. Daí talvez a sofreguidão em obter fontes alternativas de recursos.

    Com Lula sendo imobilizado lentamente pelas pauladas jurídicas das delações premiadas, a novidade mais importante que importamos dos Estados Unidos nas últimas décadas, abre-se a oportunidade para a volta dos profissionais ao poder. Chega de erros crassos na língua pátria, de ganância mal disfarçada, voltemos àqueles que sabem fazer as coisas com sutileza e mesóclises. O homem forte do governo, nos diz o agora execrado Eduardo Cunha, é Moreira Franco, que está com Michel Temer em Nova York falando com os detentores do vil metal verde sobre o novo esquema de parcerias público privadas. Por favor, não me entendam mal. Em um governo formado por um eminente constitucionalista cujo português é irretorquível, a palavra esquema tem um sentido unicamente positivo. Significa um arranjo institucional que provê a segurança jurídica aos investidores para que possam considerar seriamente a possibilidade de colocar seu dinheiro em obras de infraestrutura no Brasil, criando empregos, aumentando a gama de serviços públicos colocados à disposição dos brasileiros e a cereja do bolo, criando riqueza.

    A esse respeito, peço-lhes a gentileza de não serem cínicos o suficiente para acreditar nas maledicências do ex cappo di tutti capi Cunha sobre Moreira Franco. Em um governo de notáveis, esquema de privatização nunca é um toma lá dá cá entre empresários espertos que tomam emprestado recursos públicos, fazem obras meia-boca e cobram pedágios e taxas exorbitantes pelos serviços, sem que as agências reguladoras tenham uma atitude lá muito firme com os concessionários, permissionários, contratados e quejandos. A era dos esquemas, do Mensalão, do Petrolão, chegou ao fim. Digo e repito, temos agora o privilégio de sermos governados pelos notáveis.

    Voltando a Moreira Franco, cujo cargo oficial é o de Secretário Executivo do Programa de Parcerias e Investimentos a árvore genealógica do ex-governador do Rio de Janeiro é impressionante. Nada de Silvas, não. Wellington Moreira Franco, doutor pela Sorbonne, foi casado com Celina Vargas do Amaral Peixoto, bibliotecária e socióloga, filha de Ernani do Amaral Peixoto e Alzira Vargas do Amaral Peixoto, a filha predileta do pai da nação brasileira, Getúlio Dornelles Vargas. O genro do genro, por sua vez, tem como genro Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia, atual presidente da Câmara dos Deputados e filho do ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, originário de ilustre família paraibana. Em suma, conexões notáveis.

    A esta altura devo confessar-lhes que tanto resplendor me assusta. Livramo-nos da esquerda corrupta, mas será que o impeachment nos levou a cair nos braços da direita corrupta? Um não bastava no governo de esquerda “modernizada” de Lula, agora temos dois banqueiros no poder, o Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, cuja meta fiscal garante apenas que as dívidas para os que vivem de emprestar dinheiro ao governo sejam pagas em dia. Para gerir as privatizações que farão caixa para o governo, o douto Temer escolheu um homem que tem um histórico no mínimo sujeito a questionamentos.

    De fato, será que Moreira Franco simplesmente passará os serviços públicos nos cobres para criar monopólios em favor de quem vive do dinheiro alheio? De que natureza serão as mudanças nas condições das PPPs? Será simplesmente para continuar com a velha prática de fazer os recursos do BNDES acessíveis em troca de pífias contrapartidas, tudo em prol da segurança jurídica para os investidores? Enquanto isso, nós, que não pertencemos ao grupo dos 1% mais ricos, seremos agraciados com a cota de sacrifícios: reforma da previdência, flexibilização da CLT, facilitação da terceirização de serviços, em tramitação no Senado, que nada é mais do que uma maneira de driblar direitos trabalhistas.

    Prezados leitores, para os 99% dos que não têm facilidade de crédito como os agraciados com PPPs e os grandes credores de títulos públicos, o futuro neste fim de 2016 parece bastante incerto. Esperemos que esta nova família que está no poder não seja um governo apenas para a família dos que conhecem as pessoas certas nos locais certos.

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Diversidade: tolerância ou balaio de gatos?

Fazendo uma generalização bem grosseira, metade dos eleitores de Trump pode ser colocada naquilo que eu chamo de balaio de deploráveis. Correto? Racistas, sexistas, homofóbicos, xenofóbicos, islamofóbicos, e por aí vai.

Fala da candidata à presidente dos Estados Unidos, Hillary Clinton, na sexta-feira dia 9 de setembro, em um evento de arrecadação de fundos para sua campanha

Tínhamos certeza de que nós, e a nossa civilização, tínhamos saído da infância e abandonado os mitos de Deus, dos anjos e do paraíso. Tínhamos a medicina moderna, a penicilina, os aviões a jato, o Estado do bem-estar social, as Nações Unidas e a “ciência”, que explicava tudo o que precisava ser explicado. As pessoas ainda morriam, é verdade, mas normalmente na surdina e dopadas até chegarem a um estado de passividade indolor. […] As dores da morte tinham sido abolidas, assim como a maior parte das dores da vida.

Trecho do livro “A Raiva contra Deus – como o ateísmo levou-me à fé”, do jornalista britânico Peter Hitchens (1951-

Muitas pessoas jovens sentem que sua memória foi destruída. É o segredo constrangedor da minha geração. Nós dificilmente lembramos de algo. Brincamos sobre termos Alzheimer precoce, geralmente com um tom de ansiedade real. Sabemos que quando tentamos lembrar de um detalhe – um caminho, uma frase, um fato histórico – o desempenho da mente não é o esperado no momento crítico. Então nos valemos dos nossos telefones, que são muito mais confiáveis.

Trecho do artigo “Cabeças nas nuvens” da jornalista britânica Lara Prendergast

    Prezados leitores, permitam-me apresentar-lhes Peter Hitchens, irmão de Christopher Hitchens (1949-2011), que talvez vocês conheçam, pois esteve aqui no Brasil em 2006, na Feira Literária de Paraty. Christopher era um ateu militante, que em 1995 lançou um livro criticando ferozmente Madre Teresa de Calcutá, canonizada pelo Papa Francisco no dia 4 de setembro passado. Não cabe aqui explorar os detalhes das ideias de Christopher, pois meu foco é no seu irmão, que tomou um caminho totalmente oposto, como mostra o nome da obra citada acima e publicada em 2010.

    Em seu opúsculo, Peter fala da sua trajetória de adolescente rebelde que se insurgiu contra a religião como um ato de liberdade, para depois voltar a ela, depois de sua experiência como correspondente no Leste Europeu e na Rússia, onde ele viu na prática o socialismo, regime antirreligioso por excelência. Quando queimou a Bíblia que havia ganho dos pais, em 1967, Peter pensava que uma pessoa inteligente e bem-educada não poderia ter nenhuma fé religiosa, porque o progresso material, tecnológico e social que o Ocidente havia atingido fazia com que a ideia de recorrer a Deus para alívio de nossas angústias existências fosse totalmente inútil. Depois de um longo caminho, Peter, ao contrário do irmão, que até morrer de câncer manteve-se incrédulo, voltou a frequentar a igreja e ao final do seu livro lamenta que provavelmente o próximo rei da Inglaterra será coroado na primeira cerimônia não explicitamente cristã em mais de 1.000 anos.

    Meu objetivo não é defender ou atacar a decisão de Peter Hitchens. No final das contas, o sentimento religioso é algo que certas pessoas têm, e outras não têm, e portanto, escolher Deus ou o Diabo é uma questão de consciência individual. Independentemente da opção de cada um, não podemos negar que o fato de no Ocidente pós-cristão a religião não ser mais tão onipresente como era teve consequências sobre a sociedade. Substituímos a ideia de que todos somos pecadores perante Deus pelo conceito de que somos diversos e temos direitos iguais de sermos diferentes. Cada indivíduo, assim como tem o direito de escolher produtos em um supermercado, colocá-los no carrinho e passar pelo caixa, tem o direito de escolher suas próprias crenças, sua própria sexualidade, suas próprias opções políticas, mesmos que elas sejam contrárias àquelas dos pais, dos amigos, da comunidade. Esta é uma das pedras de toque do sistema ocidental, que colocou de lado o cristianismo, o fator determinante da sua cultura por pelo menos 1.500 anos.

    Assim como levou séculos para os ensinamentos de Cristo deixarem de fazer a cabeça das pessoas como fazia antes, demorará outros séculos para que ao menos no Ocidente as sociedades voltem a considerar a religião como algo determinante da vida das pessoas. Ler a Bíblia fazia parte da educação das pessoas, era na Bíblia que as pessoas procuravam respostas sobre o que era o certo e o que era o errado, sobre que virtudes cultivar, que vícios evitar e as consequências de não trilharmos o caminho da retidão. O paradigma de educação no Ocidente, pelo menos até o advento do Iluminismo, que começou a destruir o edifício da religião cristã, consistia em uma autoridade, seja o professor, o pai, a mãe, ou o padre, ler um trecho da Bíblia para os pequenos para que estes absorvessem as verdades ali reveladas e as repetissem, aprendendo também o vernáculo em que aquelas lições eram expressas.

    As crianças do século XXI ao contrário, educam-se trocando mensagens pelo celular, procurando informações na internet, de tal forma que esta transformou-se em uma extensão do cérebro, como descreve Lara Prendergast em seu artigo sobre como a tecnologia tomou conta da mente. Saber histórias da Bíblia de cor, saber quem era Jacó, quem era Jó ou quem foi Jesus Cristo não é mais necessário, se não souber, basta clicar no tablet ou no I-phone e procurar no Google ou na Wikipedia. Não é só o meio de transmissão de conhecimento que mudou, o próprio conteúdo também. Mesmo que consideremos uma criança no Brasil que tenha pais evangélicos, o que corresponde a 22% dos brasileiros, e teoricamente tenham mais familiaridade com a Bíblia, isso não significa que os filhos aprenderão de maneira mais sistemática ou perene do que os filhos de pais que não dão tanta importância à religião.

    Tanto as crianças criadas em meios religiosos quanto as criadas em meios não religiosos terão a mesma dependência da memória de curto prazo, a mesma amnésia digital daqueles habituados à busca instantânea de informações que logo serão esquecidas ou armazenadas em algum arquivo que nunca será acessado depois. Imaginar que jovens que entram em contato com o mundo dessa maneira terão foco ou concentração suficiente para ouvir uma autoridade falar sobre o que é certo ou errado é pedir muito a indivíduos que reagem rápido demais para terem a capacidade e a paciência para deter-se sobre lições de qualquer espécie, morais ou não.

    Tudo isso para dizer que se para Peter Hitchens foi possível resgatar seu passado religioso e voltar a crer que há algo maior a que nossa individualidade deve se submeter, é difícil conceber que as novas gerações, imersas inteiramente na tecnologia e no modo de transmissão do conhecimento que elas estabelecem, possam submeter-se a ideia de hierarquia que as religiões, ao menos as monoteístas, pressupõem. Se antes as relações sociais estabeleciam-se por meio do crivo da autoridade, pois havia a maneira certa de lidar com as pessoas, estabelecida pela moral religiosa, no nosso mundo pós-religioso as relações são horizontais e fluidas, ditadas pelo contato proporcionado pelos meios tecnológicos, que pode desafazer-se no próximo momento.

    Em que pese Hillary Clinton ter-se desculpado no dia seguinte ao das declarações polêmicas reproduzidas na abertura deste artigo, não há como negar que sua generalização trata de uma questão importante. Se não há nenhum ponto de contato entre os diferentes grupos da sociedade, viramos um balaio de gatos, um conjunto de grupos e grupelhos que momentâneamente podem unir-se, como estão fazendo agora em torno de Donald Trump. Quem garante que se, ele for eleito, e uma vez o inimigo comum derrotado, as facções não briguem entre si?

    Prezados leitores, em um mundo pós-religioso a diversidade veio para ficar e reinar para o bem e para o mal. Se antes ela era simplesmente um convite à tolerância a quem pensasse um pouco diferente, hoje ela impõe que a sociedade divida-se em guetos, em compartimentos que por sua própria natureza são irreconciliáveis, já que não temos mais a moral religiosa como instrumento para abstrair e controlar as diferenças. A briga feroz nos Estados Unidos entre Hillary e Donald, as escaramuças pós-impeachment no Brasil mostram os desdobramentos dessa falta de valores fundamentais que nos unam na vida e na morte. Quem viver verá.

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Estranha doença

Em 1990, as exportações de manufaturados eram 62% do total exportado brasileiro. O Brasil era um grande exportador de manufaturados. Hoje, está em 35% e vem caindo, o que é uma desgraça, porque o valor adicionado per capita da indústria é muito mais alto que o da agricultura. […] A desindustrialização que ocorre no Brasil é uma desindustrialização prematura. Os países ricos começaram a se desindustrializar em um nível de renda per capita muito mais alto que a renda per capita do Brasil hoje. […] Interessa [a sobrevalorização do câmbio] à classe média, no curto prazo: toda ela vai para Miami, vai fazer enxoval de noiva em Miami.

Trecho de entrevista dada à Revista da CAASP por Luiz Carlos Bresser-Pereira, de 82 anos, professor universitário, advogado e ex-ministro da Fazenda no governo Sarney.

Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis

Parágrafo único do artigo 52 da Constituição Federal, que trata das atribuições privativas do Senado Federal, entre elas julgar o Presidente da República por crime de responsabilidade

    Prezados leitores, dá gosto ver o Luiz Carlos Bresser-Pereira e ouvi-lo falar. De um lado, dá gosto ver porque ele ainda está mais ou menos parecido com o que ele era nos idos de 1980, quando foi o todo poderoso Ministro da Fazenda que falava pelos cotovelos. Sua voz continua a mesma, o que é uma grande conquista para um senhor de 82 anos. E principalmente sua capacidade de raciocínio é apuradíssima. Um alívio para aqueles que como eu frustram-se com a mesmice do discurso dos sábios de plantão, que repetem a ladainha da necessidade do ajuste fiscal, da recuperação da confiança dos investidores internacionais etc e tal.

    Por outro lado, dá uma tristeza muito grande ver que a qualidade dos nossos homens públicos vem caindo sobremaneira há três décadas. Tínhamos um cabedal de seres pensantes que tinham uma ideia do que era o Brasil e para onde ele poderia ou deveria ir. Quem no espaço público pensa hoje sobre que rumo o Brasil deve tomar? Estamos todos atônitos, fazendo coisas sem reflexão nenhuma, ou melhor refletindo com base em nossas malquerenças particulares. Para lhes mostrar quão confusa é a situação vou lhes fazer perguntas para as quais ainda não obtive uma resposta, brasileira que sou compartilhando a angústia existencial de todos.

    Para que foi feito o impeachment? A lambança que fizeram com o fatiamento da votação torna essa pergunta pertinente. Afinal, se o impeachment foi feito para livrarmo-nos de uma criminosa, isto é, uma pessoa que cometeu um crime próprio de responsabilidade, seria lógica aplicar-lhe a punição estabelecida taxativamente pela Constituição, conforme transcrita acima. Por que foi feito um acordo entre Michel Temer, Renan Calheiros, Kátia Abreu e Ricardo Lewandowski para poupar Dilma da perda dos direitos políticos? Por acaso Dilma só perdeu o mandato de Presidente porque não era assim tão criminosa, era meio-criminosa? E se o crime não foi seu maior pecado qual foi então? O de ser incompetente, isto é, o de levar o PIB do país a voltar aos níveis de 2010, como está ocorrendo agora em 2016?

    Será que em um regime presidencialista como o nosso, e em um país como o nosso, em que a democracia é uma espécie que já foi tão pisoteada, maltratada e espezinhada, tirar uma presidente incompetente assim, em um arremedo de voto de desconfiança do parlamento que usou a pedalada fiscal como tênue razão jurídica, é algo que passará incólume e que será bem absorvido? Dirão alguns que o impeachment de Collor ocorreu sem problemas. Mas ao que me conste, o impeachment de Collor gozava de uma unanimidade muito maior do que o de Dilma. A palavra golpe não estava tão disseminada como está agora. Será que não é melhor que aqueles que acham que o impedimento de um Presidente deve ser a regra quando seu desempenho não for satisfatório não proponham logo um debate sobre a introdução do parlamentarismo no Brasil?

    O constitucionalista Temer aceitou a gambiarra jurídica da meia-punição a Dilma, sabe-se lá por que, talvez para agradar Renan Calheiros, que quer estabelecer um precedente de punição branda se vier a ser julgado por seus pares, ou pior, agradar Eduardo Cunha, o detonador do processo de impeachment, que está na iminência de ser julgado. É mais um comportamento típico do rei dos conchavos, como ficou evidenciado na questão do aumento aos servidores do Judiciário e dos Ministros do STF. O que Michel Temer quer fazer na Presidência? Dizer uma coisa respeitável em público e fazer acordos espúrios secretamente? O mal da corrupção no governo do PT não era exatamente o toma lá dá cá da troca de favores? O que Temer tem feito até agora, além de ceder aqui e ali para conquistar o cargo cobiçado e permanecer no poder? Não é o mesmo que fazia o PT e contra o qual o Vice-Presidente heroicamente colocou-se contra na carta enviada à Presidente, na qual descreveu-se como pobre vítima que estava alijado das principais decisões de Dilma?

    Bresser-Pereira em sua entrevista fala do distúrbio bipolar de que o Brasil vem sofrendo desde pelo menos a década de 90: em um momento temos fuga de capitais, câmbio desvalorizado, inflação, noutro temos câmbio sobrevalorizado, perda de competitividade da nossa indústria. Essas pessoas que vão às ruas contra a corrupção, independentemente de quem achem que sejam mais corruptos, têm ideia da crise existencial econômica que estamos enfrentando? Será que sabem que perdemos a receita de criação de riqueza de maneira sustentável? Será que acham que simplesmente se os políticos deixarem de roubar vai sobrar dinheiro para todo mundo? Será que sabem que o buraco é mais embaixo e que o nosso modelo econômico nos leva a ter baixa taxa de investimento (17,6% do PIB, enquanto a da China é de 42,4% do PIB), baixa taxa de poupança interna (16,4% do PIB enquanto a da China é de 46% do PIB) e nenhum crescimento (queda do PIB de 5% em 2015) de acordo com a publicação CIA Factbook? Será que ser contra as práticas corruptas do PT no poder deve necessariamente levar-nos a ser contra tudo o que fizeram em matéria econômica?

    O que afinal querem aqueles que protestam na rua? Que o Judiciário prenda todo mundo, a qualquer custo? Será que temos consciência das consequências de dar poderes amplos ao Judiciário para caçar os corruptos? Uma das dez propostas de combate à corrupção do Ministério Público Federal prevê a validação de provas obtidas por meios ilícitos, por exemplo, gravações ocultas sem autorização judicial, quando o agente que a produziu estava de boa-fé. Como definir o que é boa fé e o que é vingança contra desafetos? O que querem aqueles que defendem eleições gerais? Será que sabem que isso não é o que diz a Constituição no caso de impedimento do Presidente da República neste momento? Que real apreço nós brasileiros temos pela Carta Magna? Será que lembramos dela apenas para esfregá-la na cara dos nossos inimigos?

    Prezados leitores, estamos num momento de malaise coletiva no Brasil, temos uma insatisfação com tudo o que está aí, mas ainda não somos capazes de propor algo consistente, com começo, meio e fim. E infelizmente nossos quadros dirigentes são uma lástima, incapazes de falar português com o mínimo de correção, como pudemos ver ao longo de todos esse ritual do impeachment, quanto mais oferecer um caminho para o Brasil. Quem conseguirá canalizar nossa raiva em prol de construir algo e não destruir tudo? Enquanto isso não vem só nos resta sonhar em voltar a fazer compras no site chinês Alibaba, ou melhor, ir direto a Miami encher as malas de bugigangas, para quem pode claro.

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