Abstencionistas-militantes: o mal do século?

O principal problema em 50 anos é que não haverá pessoas suficientes. […] Provavelmente não atingiremos a marca de 9 bilhões de habitantes. O colapso populacional nos países desenvolvidos é algo alarmante.

Trecho de uma entrevista com Jordan Peterson, psicólogo clínico canadense, (1962- ) realizada por Chris Williamson no programa Modern Wisdom

Sua doutrina de Maya [i.e. o mundo como um fenômeno, uma aparência, em parte criado pelo pensamento], fornece pouco incentivo à moralidade ou à virtude ativa; seu pessimismo é uma confissão de que, a despeito da teoria do karma [i.e. todo ato bom ou ruim será recompensado ou punido nesta vida ou em alguma encarnação posterior da alma], ela [i.e. a filosofia hindu] não explica o mal; e parte do efeito desse sistema foi o de exaltar uma quietude estagnante em face dos males que poderiam razoavelmente ter sido corrigidos, ou em face de um trabalho que clamava por ser feito. […] Daí que a influência do pensamento hindu em outras culturas foi a maior nos momentos de enfraquecimento ou decadência delas.

Trecho retirado do livro “Our Oriental Heritage”, do historiador e filósofo americano Will Durant (1885-1981) ao fazer uma avaliação crítica da filosofia hindu e de sua influência sobre outras culturas.

Eleições presidenciais de 2022: uma pesquisa revela o desinteresse dos jovens franceses pela política – Um Estudo do Instituto Montaigne indica que 55% daqueles entre 18-24 anos não conseguem nomear um partido de sua preferência

Manchete de um artigo do jornal francês Le Figaro publicado em seu sítio eletrônico em 3 de fevereiro de 2022

    Prezados leitores, entre as várias menções que já fiz às ideias filosóficas desenvolvidas na Índia falei a respeito do budismo, fruto do pensamento de Sidarta Gautama, e de como ele tornou-se cada vez mais popular no Ocidente à medida que o Cristianismo foi sendo abandonado como referência moral e religiosa. De acordo com Will Durant, conforme explica o trecho que abre este humilde artigo, as características principais da filosofia hindu fazem com que ela exerça influência em sociedades que estão passando por um processo de desintegração. Entre as razões disso estão duas: o fato de propor que o nosso conhecimento do mundo é necessariamente limitado pelos nossos sentidos e nosso conteúdo mental (conclusão a que a filosofia ocidental só chegou depois de quase 2.000 anos de atividade intelectual); e o fato de propor que as escolhas morais do indivíduo não têm importância em face da imensidão da realidade subjacente à qual o homem, preso à sua individualidade, aos seus pensamentos e aos seus sentidos, não tem acesso, mas que encerra em si tudo, diluindo as distinções entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, entre a verdade e a mentira, entre o prazer e a dor em um todo homogêneo.

    Sob esse ponto de vista, o mundo como fenômeno ilusório e a vida como encenação eterna do Karma para a expiação de culpas passadas dão expressão a uma desesperança e a um fatalismo que não levam à ação para melhorar a sociedade, mas apenas a uma aceitação resignada das vicissitudes e dos desafios da vida. Esse tipo de pensamento parece em pleno século XXI exercer uma influência nos países desenvolvidos do Ocidente, particularmente na geração jovem que é filha ou neta dos que, na década de 60, estiveram expostos aos ventos da contracultura e das filosofias orientais. Para ilustrar esse ponto, tomo como base uma entrevista a que assisti no jornal de notícias da TV francesa.

    A jornalista entrevistava um jovem de 24 anos, que era descrito ao mesmo tempo como abstencionista e militante. O abstencionismo dos jovens franceses, como mostra o artigo do Le Figaro citado acima, é um grande problema para os candidatos que pretendem tirar Emmanuel Macron, o atual presidente da França, do poder. Se não houver um aumento no número de pessoas que vão às urnas para manifestarem sua opinião fica difícil derrotá-lo, porque em que pese Macron não ter um apoio maciço, ele o terá de maneira suficiente a manter-se no Palácio Eliseu, dada a indiferença dos que não votam e não se dão ao trabalho de tentar influenciar o resultado da eleição.

    O jovem explica à jornalista sua recusa em votar dizendo que o presidente da França pouco pode fazer a respeito das coisas que realmente importam, acima de tudo a mudança climática. E nesse sentido Camille (este é seu nome) descreve-se como um militante da causa ecológica. Quando a jornalista pergunta a ele se não seria importante votar para escolher representantes que elaborem políticas públicas que melhorem o meio ambiente, o jovem retruca que é preciso mudar o sistema capitalista, mas não explica exatamente como.

    Aí está a dimensão fatalista e resignada de muitos dos ecologistas que denunciam a mudança climática. Eles atribuem ao capitalismo a origem da super exploração dos recursos naturais, mas em termos de propostas exequíveis tudo fica muito vago, sem detalhes e muito menos prioridades. Afinal, o que fazer? Acabar com o capitalismo? Mas como? Estatizando os meios de produção? Isso já não foi tentado antes e fracassou? A experiência histórica não mostrou que, em que pese o capitalismo criar grandes desigualdades, ele é eficaz em criar riquezas? Será que tornando as pessoas mais pobres por meio de um sistema econômico não tão eficiente na alocação de recursos como o capitalismo o meio ambiente será mais bem preservado? Ou será o contrário? Será que quanto mais pobres as pessoas, mais elas se comportam de maneira predatória porque não têm alternativa de subsistência?

    Além de criticar genericamente o capitalismo, os defensores do Planeta Terra apontam a super população como um grande mal. Se houver menos gente no mundo, haverá menos uso dos recursos naturais. Com certeza. Por outro lado, isso levará ao colapso da civilização. Conforme Jordan Peterson explica na entrevista citada na abertura deste artigo, estamos no momento da história da humanidade no planeta em que haverá o maior número de homo sapiens. Ao saírmos do pico de população desceremos aos fundos do colapso populacional pela seguinte razão: quanto menos pessoas decidirem não ter filhos, menos haverá no futuro pessoas com capacidade de gerar descendência e a queda no número de pessoas será exponencial.

    Neste ponto cabem os seguintes questionamentos: qual será o futuro da nossa espécie se só restarem velhos que não podem se reproduzir e por sua própria senescência não geram inovação? Quem carregará a tocha da civilização pelos próximos séculos se não houver quem responda aos desafios com ideias que abalam os paradigmas? Será que a mentalidade que predomina principalmente nos países desenvolvidos, a indiferença à política, a ideia niilista de que o ser humano é o problema e não a solução, levará o homo sapiens ao suicídio coletivo pela recusa em fazer o trabalho que deve ser feito, parafraseando Will Durant, i.e. pela recusa em engajar-se na sociedade, em propor soluções factíveis e atacar os problemas da melhor forma possível, considerando que o ser humano é falível? Eu provavelmente não viverei para saber a resposta a essa pergunta, mas talvez o abstencionista-militante Camille viva e descubra se a opção que ele faz em seus tenros anos terá sido realmente a correta.

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All the world is a stage

Assim, por meio dos sentidos, nunca conseguimos realmente conhecer o “real”; podemos conhecê-lo somente sob a roupagem do espaço, do tempo e da causa que podem ser uma rede criada pelos nosso órgãos do sentido e do entendimento, desenhada ou aperfeiçoada para pegar e manter aquela realidade fluente e esquiva cuja existência podemos supor, mas cujo caráter jamais podemos descrever; nossa maneira de perceber estará sempre inextricavelmente mesclada à coisa percebida.

Trecho retirado do livro “Our Oriental Heritage”, do historiador e filósofo americano Will Durant (1885-1981) explicando as ideias de Shankara filósofo indiano (788-820)

O mundo é um palco; os homens e as mulheres, meros artistas, que entram nele e saem. Muitos papéis cada um tem no seu tempo: Sete atos, sete idades.

Trecho retirado da peça “As you like it”, do dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), em que o mundo é comparado a um palco e a vida a uma peça

Em 4 de fevereiro, com o anúncio de um acordo de grande importância, o encontro entre Vladimir Putin e Xi Jinping marcou o início de uma nova ordem internacional. A divulgação da boa nova coube ao filósofo Alexander Dugin, que anunciou no dia seguinte: o colapso do “liberalismo global e da hegemonia ocidental”, derrotados pelo bloco emergente do “grande espaço chinês e do projeto euroasiático na atual “guerra das civilizações”

Trecho retirado do artigo “Dugin, o pensador que inspira Putin”, publicado no jornal O Globo em 13 de fevereiro

    Prezados leitores, na semana passada eu tentei entender as diferentes e contraditórias visões sobre o líder russo Vladimir Putin, valendo-me das reflexões do filósofo Immanuel Kant sobre o arcabouço mental de que necessitamos para produzir conhecimento. O conhecimento não deriva naturalmente da experiência, mas requer que essa experiência seja vivenciada e interpretada pelo ser cognoscente. Daí que os fatos devem ser construídos em torno de um todo coerente a partir do nosso ponto de vista de seres racionais: essa interação entre a razão e a realidade por meio dos sentidos, que faz com que uma seja influenciada pela outra, é o único caminho para o conhecimento, embora ela implique uma limitação. Tal limitação foi explorada por um kantiano avant la lettre, Shankara, conforme explica Will Durant em sua descrição da filosofia hindu e que eu procurarei destrinchar nesta semana, a fim de lançar novas luzes sobre o personagem Putin.

    Assim como Kant, em pleno Iluminismo europeu, colocou-se a questão sobre em que medida o conhecimento é possível, Shankara também se debruçou sobre ela e elaborou uma resposta que é muito parecida com a que o filósofo de Konigsberg deu, conforme mostra o trecho citado na abertura deste artigo. Adquirimos conhecimento do mundo por meio da nossa mente e dos nossos sentidos. Nossa mente cria um arcabouço em que nossas experiências são situadas em um determinado lugar e tempo e são consideradas como sendo causadas por um evento anterior. De posse desse arcabouço, experimentamos a realidade por meio dos nossos cinco sentidos, catalogando, lembrando e interpretando a realidade usando essa rede epistemológica que tenta flagrar um instante de um fluxo constante e sempre em mutação, armazenando-o em nossa memória, rotulando-o por meio da linguagem e assim eternizando algo que é fugidio e contingente.

    Daí que Shankara vê um fosso entre a realidade subjacente e a nossa percepção dela: criamos um mundo mental formado de entes percebidos a que atribuímos certas propriedades e estabelecemos que tais entes mantém certas relações de contiguidade espacial e temporal e de causa e efeito. Mas para o filósofo indiano, a realidade subjacente não é aquela gravada e processada pelos nossos sentidos, aquela formada de indivíduos separados entre si, que têm crenças sobre o bem e o mal e acreditam em um Deus criador. Shankara considera que a realidade é indivisível, imutável, eterna. Os valores morais que embasam o comportamento social são categorias necessárias ao homem como as noções de tempo, espaço e causa são necessárias para sua vida intelectual. Nesse sentido, praticar o bem, seguir os rituais religiosos não é virtuoso, porque nos prende ao mundo ilusório das percepções mediadas pelo intelecto: a única virtude é simplesmente reconhecer que cada indivíduo é absolutamente idêntico a todos os outros indivíduos na onipotência e realidade universal do brâman, o Ser verdadeiro.

    Sob um certo aspecto, o precursor de Kant na delimitação da possibilidade do conhecimento ao espaço confinado pelas nossas categorias mentais e nossos sentidos, não estabeleceu as bases do método científico possível como fez o filósofo iluminista. Ao contrário, ele apenas estabeleceu as bases do fatalismo e da resignação que caracterizam a história da Índia, ao longo de séculos de invasões que culminaram com a colonização europeia, a partir do século XV, com a chegada dos portugueses. Se o sofrimento e os prazeres, se o certo e o errado, se o bem e o mal são ilusões do indivíduo preso à sua especificidade, a saída é desapegar-se do mundo sensorial e chegar ao nível de sabedoria em que o indivíduo reconhece estar mergulhado no todo indistinto.

    Independentemente de adotarmos ou não uma atitude passiva em relação à vida a partir da filosofia de Shankara, há uma certa vantagem em olhar o mundo como um palco onde se desenrola uma peça encenada por homens que irão nascer, crescer e envelhecer, conforme Shakespeare define no monólogo da comédia “As you like it”, citado acima. As diferentes versões dos fatos, as polêmicas sobre as qualidades morais de personagens, os choques de valores entre diferentes civilizações, são colocados em sua devida perspectiva: por um lado são inevitáveis porque o homem é incapaz de conceber sistemas cuja validade seja absoluta ou de chegar à verdade objetiva, preso que está ao seu intelecto e aos seus sentidos subjetivos; por outro lado, dão-nos uma lição de humildade no sentido de que se o mundo é um palco, nele podem desfilar toda sorte de personagens, com seus próprios códigos morais, valores e ideias.

    Assim, para retomar o tema do artigo anterior: se de acordo com os valores prevalentes no Ocidente Vladimir Putin é um personagem detestável entre outras razões por seu viés autocrata e por não considerar o direito à opção sexual como um direito humano, de acordo com os valores prevalentes em uma determinada parte do Oriente Putin encarna o líder que enfrenta a hegemonia ocidental, conforme explica o artigo sobre Alexander Dugin citado na abertura deste artigo. Ele representa a nova ordem mundial formada pela parceria geopolítica da China com a Rússia, países em que não há eleições de representantes políticos e em que a concepção de direitos humanos é mais estreita que a Ocidental. Tal ordem contrapõe-se à ordem determinada pelos Estados Unidos ao longo do século XX. Diferentes personagens, diferentes histórias vividas por eles e diferentes narrativas delas: o mundo é o palco das ilusões para Shankara, o palco do choque de civilizações para Dugin e o palco dos atores de Shakespeare. Qual será o final: o final catártico das tragédias ou o final feliz das comédias? Ninguém sabe, nem Shankara, nem Dugin e nem Kant, nem Shakespeare.

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Fatos e narrativas putinescas

Fernández disse a Putin: “Estou empenhado em que a Argentina deixe de ter essa dependência tão grande que tem com o Fundo (Monetário Internacional) e com os Estados Unidos. Tem de se abrir caminho a outros lados e me parece que a Rússia tem um lugar muito importante.

Trecho retirado do artigo “Apoio da esquerda e da direita a Putin” do jornalista Lourival Sant’Anna publicado no jornal O Estado de São Paulo de 6 de fevereiro

Putin, um verdadeiro patriota? Presidente russo se acostumou a colocar o mundo de joelhos com suas ameaças

Título e subtítulo do artigo de Mario Vargas Llosa publicado no jornal O Estado de São Paulo de 6 de fevereiro

[…] uma organização racional pré-científica da experiência sensorial em um mundo coerente, inteligível de objetos substantivos vistos como interagindo por meio de processos causais

Trecho retirado do verbete “Filosofia da Ciência” na edição de 1974 da Enciclopédia Britânica sobre o filósofo Immanuel Kant (1724-1804)

    Prezados leitores, na semana passada fiz uso dos conceitos elaborados por Ludwig Wittgenstein a respeito da linguagem para elucidar o porquê de eu considerar Curitiba democrática e o porquê de uma amiga com quem troquei mensagens considerar a cidade fascista com base nas qualidades de limpeza, ordem e beleza que lá percebi. O caminho que encontrei foi esclarecer o uso diferente que estávamos cada uma de nós fazendo do adjetivo democrático. Não poderíamos chegar a um acordo sobre as qualidades ou defeitos da capital do Paraná antes de estabelecermos uma regra sobre como utilizar o termo “democrático” na prática. Nesta semana, irei humildemente valer-me de outro filósofo para abordar o assunto que está na pauta do dia da agenda internacional: Putin tem ou não razão em colocar tropas na fronteira da Rússia com a Ucrânia? Não pretendo apresentar uma resposta a tal pergunta, mas apenas tentar explorar a origem das diferentes respostas dadas.

    Minha exploração da polêmica toma como base os ensinamentos de Immanuel Kant, que em sua obra filosófica tentou uma terceira via que não era nem o racionalismo de René Descartes (1596-1650), para quem o conhecimento é obtido das ideias inatas, nem o empiricismo de David Hume (1711-1776), para quem o conhecimento é obtido exclusivamente dos sentidos e da experiência. O meio termo entre esses dois polos consistiu em postular que a experiência é necessária, mas não suficiente para o conhecimento. O que transforma a matéria bruta da experiência em conhecimento são os princípios de organização, entre os quais o da causalidade, que são categorias mentais com as quais o homem dá forma e interpreta a experiência: o homem, enquanto ser racional, impõe à Natureza uma estrutura cognitiva, a qual não é algo pronto para ser descoberto no mundo exterior e trazido à luz.

    Daí que conforme o trecho que abre este artigo, um mundo coerente e inteligível, regido por relações de causa e efeito, é produto de uma organização racional da experiência, que permite que a realidade perceptível nos dê respostas, que obriga a Natureza a responder às perguntas que do contrário permaneceriam não respondidas se o homem se valesse apenas do fluxo de impressões sensoriais. É neste ponto que insiro a questão sobre os motivos louváveis ou não de Putin mobilizar tropas na fronteira com o país vizinho. Como decidir se os motivos do líder russo são louváveis ou não? Basta nos inteirarmos dos fatos e conseguiremos chegar a uma conclusão unívoca? Os ensinamentos de Kant mostram que entre o que acontece no mundo visível e nossa mente há pontes que construímos de acordo com nossas categorias mentais: a depender do material e da técnica de construção utilizados teremos diferentes estruturas.

    Para Mario Vargas Llosa e Lourival Sant’Anna, cujos artigos são citados acima, Vladimir Putin é a antítese da liberdade. Encastelado há 22 anos no poder e sem a mínima vontade de aposentar-se e dar lugar a outros (tendo inclusive conseguido aprovar uma lei que lhe permite continuar na ativa atpe 2036), Putin representa o autocrata autoritário que quer impor sua vontade de qualquer jeito, ameaçando cortar o suprimento de gás aos países da Europa, como informa Mario Vargas Llosa e colocando tropas na fronteira com a Ucrânia para amedrontar o Ocidente democrático e fazê-lo aceitar a incorporação do país pelo gigante russo. Além disso, Putin é machista, homofóbico e racista, o que o coloca em posição diametralmente oposta àquela dos países avançados nos quais a tolerância à diversidade racial e sexual é um apanágio das liberdades proporcionadas pelo regime democrático.

    Há no entanto, uma outra visão centrada em torno de uma outra qualidade, diferente da liberdade, qual seja, a alternativa de poder, expressa pelo presidente da Argentina, Alberto Fernández, conforme mostrado na abertura deste artigo: nosso vizinho sul-americano é o maior devedor do FMI, com quem já celebrou mais de 20 acordos, (a dívida chegava a 44 bilhões de dólares em 2019) e naquele ano, de acordo com os dados do CIA Factbook, teve uma retração do PIB de 2,03%. Para um país como a Argentina, que está preso em um círculo vicioso de dívidas impagáveis e recessão econômica, uma alimentando a outra, o modelo ocidental não tem rendido frutos, a despeito das liberdades que Mario Vargas Llosa tanto preza. Buscar outros apoios na cena internacional que ofereçam ajuda financeira menos onerosa que aquela oferecida pelo FMI, cujo maior acionista são os Estados Unidos, talvez fosse um caminho para a Argentina, na visão de Fernández. Nesse sentido, Putin, ao desafiar os desejos dos Estados Unidos, representa uma alternativa ao liberalismo econômico proposto pelos americanos, que entre outras condições fundamentais para que ocorra a livre e proveitosa atividade econômica, estabelece que os contratos devem ser respeitados e que as dívidas devem ser pagas sempre. Para um grande devedor como a Argentina, livrar-se dessas constrições liberais pode ser um bom negócio.

    Assim, a utilização de diferentes categorias mentais para enquadrar os acontecimentos da geopolítica mundial nos leva a construir mundos completamente diferentes. A colocação pela Rússia de tropas na fronteira com a Ucrânia pode ser vista como um ato de soberania e de resistência a reconhecer os Estados Unidos como o país que dita as regras e os valores para todo o mundo ou como um ato belicoso de opressão de um país vizinho que é muito menor e que está lutando para seguir seu próprio caminho na cena mundial, livre da influência histórica do seu vizinho mais poderoso e sempre assertivo.

    Prezados leitores, o que hoje chamam de narrativas, para denotar visões dos fatos determinadas por uma determinada ideologia, o velho filósofo de Konigsberg considerava tratar-se de um sistema racional de explicações empiricamente aplicáveis. A diferença entre um e outro é que Kant acreditava que tal estrutura era eficaz e a única possível para obter o conhecimento, ao contrário dos proponentes das narrativas de hoje, que consideram que se trata sempre de uma luta pelo poder e não pela verdade. Espero que, se não me atrevo a dar uma resposta positiva ou negativa sobre os atos de Vladimir Putin, ao menos eu tenha conseguido explicar as origens dos diferentes fatos e narrativas sobre o personagem.

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Aprendendo a jogar

[…] Wittgenstein mostrou como todo o mundo do homem é constituído por sua experiência linguística e sugeriu que “toda a filosofia é uma crítica da linguagem”. Wittgenstein pensava que perguntar “Por que usamos esta determinada palavra ou expressão?” era a pergunta filosófica crucial, já que o foco da filosofia não no mundo, mas nos mecanismos de uso linguístico, resolveria a maior parte das perplexidades que constitu o flagelo da filosofia.

Trecho retirado do verbete “História da Filosofia Ocidental” na edição de 1974 da Enciclopédia Britânica sobre o filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951)

A filosofia, [o empiricismo lógico] alegava, precisava então ser científica. Ela deveria procurar menos um conteúdo do que uma função: ela deveria produzir não retratos complicados do mundo, mas um pensamento claro

Trecho retirado do verbete “História da Filosofia Ocidental” na edição de 1974 da Enciclopédia Britânica

 

– Cidade maravilhosa fiquei na paz curtindo a beleza da vegetação, dos parques, da limpeza das ruas

– Legal – tudo tem um lado positivo. A impressão que tenho, posso estar totalmente enganada, é que é cheia de bolsonaristas… Para isso não tem limpeza…

Troca de mensagens no WhatsApp entre mim e uma amiga sobre Curitiba, onde passei alguns dias

 

    Prezados leitores, passei 15 dias em Curitiba como nômade digital, trabalhando durante o horário comercial e passeando pela cidade. Conforme mostra a mensagem que enviei para uma amiga e que reproduzi acima, tive uma impressão muito boa da cidade, na qual tive paz de espírito. Tal estado mental surgiu do fato de eu ter visto algo que me é estranho em São Paulo: o espaço público sendo usufruído por jovens, crianças, idosos, homens, mulheres, cachorros: vi curitibanos curtindo o sol no gramado que rodeia o Museu Oscar Niemeyer, quer deitados na relva verde e bem aparada ou em cima de alguma toalha, bebendo cerveja, água ou comendo, vi outros sentados em cadeiras de pano conversando e contemplando o pôr-do-sol em meio aos pinheiros-do-paraná. Aquilo passou para mim a impressão de ser uma cidade democrática, em que não é preciso dinheiro para divertir-se, para relaxar a mente: basta pegar uma bicicleta e serpentear pelas ciclovias que muitas vezes margeiam córregos, ou então andar pelos parques e apreciar a vegetação exuberante.

    E, no entanto, minha amiga vê algo diferente em Curitiba: uma cidade infestada de bolsonaristas e portanto tudo o que vi de bonito, limpo e ordeiro aos olhos dela toma a forma de exclusão, fascismo, privilégio, racismo estrutural. De fato, nas eleições de 2018, Jair Bolsonaro teve 76,5% dos votos válidos no segundo turno, enquanto Fernando Haddad teve 23,5%. Então, ao menos em 2018 a cidade era bolsonarista. Sob esse ponto de vista, minha impressão de que seja democrática porque as pessoas têm acesso a lazer de graça, sem que precisem frequentar um shopping center, pagar pelo estacionamento e pela comida na praça de alimentação, como ocorre na minha cidade natal, é equivocada: afinal se considerarmos que quem vota em Bolsonaro não tem apreço pela democracia e tem nostalgia pela ditadura militar, então Curitiba não é democrática, porque habitada por pessoas que não cultuam a democracia. Como resolver esse dilema? Será que é possível estabelecer com certeza a natureza da capital do Paraná?

    Recorro a Wittgenstein para tentar elucidar a questão ou ao menos estabelecer os termos do problema. Para o filósofo austríaco, era preciso formular as perguntas certas para que tenhamos respostas claras e precisas. O conteúdo da filosofia tinha sido poluído, ao longo dos séculos, pela utilização inadequada e desleixada da linguagem. Era tarefa do filósofo mostrar que muitas perguntas filosóficas para as quais não havia resposta eram simplesmente desprovidas de sentido e se dissolviam no ar à luz da análise dos termos linguísticos em que eram postas. Vou dar-lhes um exemplo para esclarecer esse método de análise.

    Uma velha questão é sobre a origem do mundo. O que deu início ao mundo que experimentamos? De qual início o mundo começou sua jornada? Ao invés de tentarmos inutilmente procurar uma resposta recorrendo a um ou outro filósofo grego, medieval, renascentista, iluminista ou moderno, devemos analisar a palavra central da pergunta, qual seja, “início”. Qual o sentido usual da palavra início na língua? Início é um momento determinado que marca uma fase de algo que ocorre no tempo e implica a noção de que algo veio antes e virá depois desse marco inicial. Por outro lado, o sentido de início dado pela pergunta filosófica sobre o princípio do mundo não tem a intenção de realizar questionamentos sobre o que veio antes de tudo, afinal pretende justamente estabelecer um marco zero a partir do qual tudo é explicado. Mas ao estabelecer um marco zero, o filósofo questionador deturpa o sentido usual de início pois falar de princípio sem nada que o preceda subverte o processo no tempo do qual o início é apenas um dos limites. Portanto, o melhor a fazer é descartar especulações sobre a origem do mundo porque tais perguntas não fazem sentido.

    O objetivo de Wittgenstein no início de sua carreira era depurar a linguagem de tal forma a chegar a uma linguagem perfeita, livre das teias de conceitos metafísicos há muito estabelecidos e utilizados a torto e a direito sem que os usuários da língua se deem conta. A linguagem perfeita de Wittgenstein, mediante a análise do discurso, seria reduzida aos seus elementos constituintes mais básicos e finais. Mais tarde, ele calibrou intelectualmente essa esperança de que a confusão pudesse ser eliminada de maneira completa e passou a ver o uso da língua como um jogo, sobre o qual os falantes precisam saber as regras para aprender a jogar. Uma vez tais regras sendo introjetadas, os problemas metafísicos, como aquele explicado no parágrafo anterior, seriam eliminados porque tais perguntas sem sentido não mais seriam feitas. A terapia linguística curaria a angústia metafísica.

    Será que posso aplicar tal terapia para estabelecer os atributos de Curitiba? Assim como a palavra início pode ter um sentido metafísico e um sentido de marco no tempo, democracia também pode ter uma dupla significação. De um lado, uma zeladoria eficaz de uma cidade, tornando-a segura, limpa e aprazível pode estimular seus habitantes a frequentar os espaços públicos por não se sentirem ameaçados por ladrões, assaltantes e moradores de rua. A ocupação da paisagem urbana por pessoas de classe média, que têm tempo disponível de lazer para passear, passa a impressão de que a cidade é democrática porque as praças, os parques, as ruas, os jardins não ficam vazios ou ocupados por aqueles que não têm onde morar e que usam os locais públicos como dormitórios. Mas, por outro lado, como as autoridades municipais conseguem manter os espaços públicos em ordem? Vigiando constantemente para que pobres e sem-teto lá não se instalem? E onde eles são colocados? São varridos para debaixo do tapete?

    Democracia assim pode ser definida como algo a ser usufruído por uma parte da população que tem acesso aos bens públicos porque se encaixa nos critérios de ordem, limpeza e beleza. Quem tem o potencial de poluir a paisagem idílica por seus andrajos ou por sua compleição física tem acesso negado a esses espaços urbanos. É uma democracia para os que já têm algo, inacessível para quem não têm emprego, não tem moradia e portanto não têm tempo de lazer que possa ser despendido nos cartões postais da cidade. Seria uma democracia censitária que não tem vergonha de assumir-se excludente? Ou será que a democracia excludente é a única forma possível de haver ordem, limpeza e beleza que torne os espaços urbanos do público?

    Prezados leitores, temo que a lição de Wittgenstein sobre garantir a limpidez da linguagem para que o pensamento seja claro não deu certo neste caso. Esclarecer o termo democracia a partir de um exemplo concreto implica sempre um julgamento moral que, de acordo com o positivismo lógico, corrente da qual Wittgenstein fez parte por algum tempo, é inverificável na prática e, portanto, é inútil tentar estabelecer um sentido unívoco. Para minha amiga os atributos positivos da cidade significam simplesmente que ela exclui aquelas pessoas que não se enquadram no perfil étnico e social preferido daqueles que votam em Bolsonaro, e portanto Curitiba não tem nada de belo e limpo. Para mim, bastou que eu pudesse passear tranquilamente pela cidade sem me sentir amedrontada ou assediada pela pobreza e pela sujeira tão onipresente em São Paulo que eu considerei que aqueles bens públicos estavam acessíveis a todos os habitantes da cidade.  E assim continuaremos eu e minha amiga, separadas pela linguagem, cada uma de nós jogando seu próprio jogo linguístico. Quem sabe um dia aprendamos a jogar usando as mesmas regras?

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Requiescat in pace?

Ele é muito sensível ao sofrimento e à matança envolvidos no processo biológico para supor que tenham sido desejados de maneira consciente por uma divindade pessoal; esses erros cósmicos, em sua opinião, suplantam os indícios de algum desígnio. Nesse cenário de ordem e confusão, do bem e do mal, ele não encontra nenhum princípio de permanência, nenhum centro de uma realidade eterna, mas somente o torvelinho e o fluxo da vida obstinada, nos quais a entidade metafísica última é a mudança.

Trecho retirado do livro “Our Oriental Heritage”, do historiador e filósofo americano Will Durant (1885-1981) explicando as ideais de Sidarta Gautama, conhecido como Buda (563 a.C.-483 a.C.)

Foi uma história desanimadora, pois sua moral evidente é que a civilização é algo precário, cujo complexo delicado de ordem e liberdade, cultura e paz pode a qualquer momento ser destruído pelos bárbaros invadindo de fora ou multiplicando-se internamente. Os hindus haviam permitido que sua força fosse desperdiçada em divisões internas e guerras; eles haviam adotado religiões como o budismo e o jainismo, que os desestabilizou e impediu que realizassem as tarefas da vida; eles haviam falhado na organização das suas forças para a proteção das fronteiras e das capitais, da sua riqueza e da sua liberdade, contra as hordas de citas, hunos, afegãos e turcos que pairavam nas fronteiras da Índia e que esperavam a fraqueza da nação que os deixaria entrar. Por 400 anos (600 d.C.-1000 d.C.), a Índia pediu para ser conquistada; e ao final isso ocorreu.

Trecho retirado do livro “Our Oriental Heritage”, do historiador e filósofo americano Will Durant (1885-1981) sobre a conquista muçulmana da Índia, iniciada em (664 d.C.) no Punjab

    Prezados leitores, na semana passada tratei do zoroastrismo e tentei explicar sua visão maniqueísta da luta do bem contra o mal. Nesta semana, terei como foco outra religião criada no Oriente, o budismo, tal como explicada por Will Durant e humildemente tentarei enxergar alguns reflexos das concepções budistas em nosso mundo ocidental pós-cristão, no qual muitos dos seus membros veem os ensinamentos de Sidarta Gautama como superiores ao cristianismo.

    Durant nos conta a história da vida de Sidarta Gautama, ou ao menos a lenda que se consolidou como a história da vida do fundador do Budismo. Sidarta era filho de Shuddohodhana, rei de Kapilavastu, aos pés do Himalaia, e pertencia à casta dos xátrias, dos guerreiros. Já casado e com um filho, Rahula, Sidarta abandona a família e o seu país natal em busca de resposta à seguinte pergunta existencial: por que há tanto sofrimento no mundo? Sem entrar nos detalhes das peripécias de Sidarta ao longo de seus 80 anos de vida, a conclusão a que ele chega é que o sofrimento deriva do nascimento: viver é sofrer por que ao longo de nossa existência experimentamos muito mais a dor, o desespero, a solidão do que a felicidade.

    Conforme o trecho que abre este artigo, se o saldo negativo da vida é a única certeza, o melhor a fazer é não nascer, e para os que já nasceram o ideal é suprimir o desejo: o desejo é a fonte da dor, já que inicia o ciclo de busca da satisfação e da frustração que é a essência da vida: praticar o auto-controle, manter-se calmo e alegre, ser generoso e não infligir mal a ninguém são o caminho para o homem livrar-se da intensidade das paixões mórbidas. Considerando que nenhuma divindade digna do nome teria por objetivo criar uma vida cheia de mal e miséria, Buda não acredita que haja um Deus e considera qualquer especulação metafísica uma perda de tempo: inquirir sobre se o mundo sempre existiu ou se teve um criador, se há uma alma eterna, se há um logos universal que dá sentido a tudo, é um exercício fútil, pois o homem é apenas uma sucessão de estados  físicos e mentais, ditada pela hereditariedade, pelo meio ambiente e pelas circunstâncias, um fluxo eterno de mudanças em que cada momento ele tem determinadas percepções e sensações, as quais não podem ser reunidas em um todo coerente. Nesse sentido, não havendo uma razão transcendente que coloque ordem no fluxo caótico e chegue à verdade, o estado de beatitude do Nirvana só pode ser atingido durante a vida quando o homem se livra de todos os sentimentos, desejos, pensamentos, interrompendo a sucessão de mudanças, ao menos internamente.

    Buda pregou então uma ética de como viver, sem rituais, sem metafísica, sem teologia, sem veneração a algum Deus. É verdade que seus discípulos acabaram desvirtuando muitos dos seus ensinamentos e foram criados monastérios habitados por monges que cultuam Buda na prática como uma divindade. Mas comparativamente às religiões monoteístas como o judaísmo, o islamismo e o cristianismo, o budismo não exige muitas obrigações dos seus fiéis e, negando a existência de Deus, acaba retirando o caráter punitivo que aquelas outras religiões infligem aos pecadores que não seguem os preceitos sobre como bem agir ditados pela suprema divindade. Daí a atratividade do budismo aos que, no mundo pós-cristão, estão à procura de uma espiritualidade que não faz grandes exigências morais, além de não matar, buscar a convivência pacífica e não se deixar dominar pela ânsia de ter e de saber.

     Apesar de o budismo parecer benéfico à primeira vista, por não preconizar nenhuma verdade revelada por Deus, em detrimento de qualquer outra, como fazem as três religiões monoteístas, Durant via um lado negro no agnosticismo niilista criado por Sidarta Gautama. Conforme explica no trecho que abre este artigo, o historiador e filósofo americano considerava que o pacifismo engendrado pelo budismo tornou os hindus indefesos ante a militância monoteísta dos muçulmanos, cheios de ardor militar na luta contra os infiéis que não acreditavam no único Deus verdadeiro, Alá. E sob uma perspectiva histórica, a invasão muçulmana da Índia foi ruim para os hindus. Impôs uma religião exclusivista e causou a destruição material de sua civilização: um dos imperadores muçulmanos, Aurangzeb (1618-1707), um fanático religioso, proibiu qualquer culto público das religiões hindus nativas e em um único ano, entre 1679 e 1680, ordenou a destruição de 66 templos em Amber, 63 em Chitor, 123 em Uidapur, além de fazer construir uma mesquita onde antes havia um templo sagrado para os hindus em Benares. O que vemos hoje de arquitetura e arte da Índia é o que restou da destruição de 1000 anos de civilização que havia florescido antes da chegada dos muçulmanos, imbuídos de uma certeza moral que lhes dava a justificativa para a guerra santa de conquista da população nativa.

    Prezados leitores, para Durant a lição que fica é que o preço da civilização é a eterna vigilância. Uma sociedade deve amar a guerra, mas manter a pólvora seca, pronta para ser usada para defender aquilo que construiu. A fascinação que o budismo exerce hoje no mundo ocidental talvez se deva ao seguinte: uma vez perdidos os ideais religiosos de disseminação da palavra de Cristo no mundo todo, e que deu origem ao colonialismo europeu nas Américas, na África e na Ásia, semelhantes aos ideais muçulmanos que foram disseminados na Europa, África, e Ásia  a partir da expansão muçulmana que teve início em 622 a.C. e durou até a criação do Império Otomano, em 1299, a espiritualidade tornou-se um assunto individual, que se limita ao desejo de paz a qualquer custo, para evitar o sofrimento e a garantir um bem-estar moderado, sem qualquer ardor militante de propagar os verdadeiros valores à Humanidade, quaisquer que eles sejam. Será que o Ocidente pós-cristão cairá como a Índia caiu em face de fanáticos do outro lado do mundo? Os futuros historiadores se encarregarão da narrativa, como Will Durant encarregou-se de contar a trágica história do Hindustão.

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