Hoje está igual ao fim do segundo mandato do Lula, o estilo é esse. Passa quatro dias da semana viajando. Só aqui em Porto Alegre ela já anunciou as obras da segunda ponte do Guaíba, que nunca começam, três vezes.
Senador Pedro Simon, do Rio Grande do Sul, que acaba de anunciar sua aposentadoria, em entrevista ao jornal O Globo de 15 de junho
Você viu que não tinha ninguém com a cara de pobre, a não ser você, Dilma. Não tinha nenhum pelo menos moreninho. Era a parte bonita da sociedade, que comeu a vida inteira e chegou ao estádio para mostrar que educação a gente aprende em casa, vem de berço. Eu duvido que um trabalhador desse país, que uma mulher ou que um homem tivesse coragem de falar 1% dos palavrões que eles destilaram, de uma cretinice fomentada por uma parte da imprensa brasileira.
Lula durante um encontro do PT em Pernambuco no dia 13 de junho
Prezados leitores, hoje tratarei de um assunto óbvio, a Copa do Mundo, e dentre os vários temas possíveis, de um subtema mais óbvio ainda, as vaias e xingamentos infligidos á presidente Dilma Rousseff no jogo de estreia do Brasil na Copa. Digo óbvio porque muito se falou a respeito desse tema, e serei eu mais uma a dar minha opinião.O tom geral foi de indignação pela falta de educação, de cavalheirismo em face de uma mulher; pela falta de respeito em relação à figura da chefe da Nação; pela inconsistência da burguesia paulista que nunca vaiou Maluf, um homem quenão pode sair do Brasil, porque será preso; pela defesa de interesses mesquinhos dos privilegiados que estão descontentes com as políticas públicas do PT no poder em favor dos mais desfavorecidos; pela falta demotivo plausível para protesto, afinal as pessoas que tinham dinheiro para comprar ingresso padrão FIFA não sofriam com as mazelas dos serviços públicos de saúde e educação.
Enfim, as vaias e os xingamentos são descabidos porque vindos de um grupo de brasileiros mimados, ricos e como todo rico e mimado, mal-educado. Lula, como sempre um mestre na manipulação das tensões sociais do Brasil em proveito próprio, lançou mão do seu velho truque de comparar os pobres virtuosos, que jamais cometeriam a deselegância de mandar a presidente tomar no ##, com os ricos cheios de vícios. Ao mesmo tempo, como a época é de eleições e votos sempre são bem-vindos, espertamente ele colocou a culpa pela animosidade na imprensa. Eu poderia acrescentar que os mauricinhos e patricinhas que estavam no estádio não teriam xingado Dilma da maneira desabrida com que fizeram se estivesse cara a cara com ela. Cada um deles sentiu-se encorajado ante a proteção da multidão que entoava o coro em uníssono. É um comportamento que replica aquele que se torna muito comum na internet, o de criação de perfis falsos para que a pessoa possa dar vazão a suas raivas e ressentimentos lançando vitupérios a torto e a direito, protegida pela certeza da impunidade, da falta de consequências negativas de seus ataques.
Se de um lado não há como negar a deselegância e a covardia do ato, permitam-me desempenhar o papel de advogada do diabo, lançando-lhes umapergunta: Quem estava na Arena Corinthians na tarde de 12 de junho de 2014 sendo vaiada? A Presidente daRepública Federativa do Brasil, Dilma Rousseff, representante do país que está sediando a Copado Mundo, ou a candidata do PT à reeleição? A resposta pode parecer óbvia, mas a mim não parece, considerando que a campanha está nas ruas, e como afirmou Pedro Simon, a chefe do governo dedica uma considerável parte do seu tempo ao esforço de reeleger-se. E pior, muitas medidas tomadas pelo Executivo federal são concebidas com vistas às eleições, haja vista a criação de despesas, renúncias de receita e emissões de dívida, que somaram só em 2014 R$27,9 bilhões, de acordo com o jornal o Estado de São Paulo.É um fato da nossa política que a busca por um novo mandato afeta todas as decisões do governo no anodo escrutínio eleitoral, e não é nenhum exagero dizer que no Brasil infelizmente este “modo reeleição”, especialmente com relação ao cargo de Presidente, tem se antecipado cada vez mais, de tal modo que já no início do terceiro ano de mandato o governante já começa a preocupar-se com as alianças políticas, a escolher ministros com base no toma lá dá cá necessário para angariar apoios.
Para não me acusarem de ser uma anti-petista enrustida, os tucanos agem da mesma forma. Um exemplo gritantes dessa arte de governar no “modo reeleição” tem sido dado pelo governador Geraldo Alckmin com relação ao gerenciamento da estiagem prolongada em São Paulo. Não sabemos se podemos acreditar naspalavras oficiais, segundo as quais o racionamento tem sido evitado devido às medidas tomadas, entre elas a transferência de água de um sistema para o outro, no caso do Alto Tietê e Guarapiranga para o Cantareira, a utilização do volume morto do Cantareira e do incentivo econômicoà economia de água.Fica a suspeitade que todas essas explicações na verdade são uma cortina de fumaça, ou na melhor das hipóteses um remendo que permitirá à SABESP, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, garantir o abastecimento de água aos trancos e barrancos até que a eleição do mandatário atual ocorra de maneira segura. Depois de outubro, só São Pedro sabe o que poderá acontecer em São Paulo.E os tucanos ficam ainda mais sujos nessa história quando lembramos que foi Fernando Henrique Cardoso quem moveu céus, terras e dinheiro para aprovar a emenda da reeleição.
Prezados leitores, o ponto a que quero chegar é simples. Nossos membros dos cargos máximos do Executivo, prefeitos, governadores e presidente, ao dedicarem a maior parte de seus esforços à maratona da reeleição, perdem a compostura, e acabam confundindo o interesse público com o interesse de permanecer no cargo, subordinando o primeiro ao segundo. E quem não se dá ao respeito não merece respeito. Talvez essa confusão seja inerente à democracia, e teremos sempre que conviver com o fato desagradável que o político só satisfaz o interesse dos seus eleitores quando aquilo pode beneficiá-lo, seja permitindo sua reeeleição, seja permitindo a eleição de um seu colega de partido ou aliado. Nesse sentido, toda a eleição, seja ela para permitir a permanência do mandatário atual no cargo ou não, é um convite à manipulação, à troca de favores entre o político e sua base eleitoral, o que nem sempre leva à realização de escolhas sensatas para o país a longo prazo.De qualquer forma, essa visão de curto prazo poderia ser ao menos mitigada no Brasil se acabássemos com o instituto da reeleição e alongássemos o mandato do presidente para seis anos como era antigamente, ou para cinco anos no caso de governadores e prefeitos.
A burguesia mal-educada presente no Itaquerão estava exercitando seu direito de repudiar um candidato, de mostrar seu descontentamento com um gerenciamento medíocre dos preparativos da Copa que fizeram com que a luz do estádio apagasse durante algum tempo, que não houvesse internet sem fio ao redor do estádio, e que os europeus não tenham visto a estapafúrdia cerimônia de abertura por causa de falha de comunicação. Dirigia-se à candidata Dilma, que já está em plena campanha desde ao menos o início de 2014. É verdade que além da candidata estava lá presente a presidente da República, democratica e legalmente eleita, que merece toda consideração do povo brasileiro. Mas nessa nossa democracia da reeleição fica cada vez mais difícil distinguir um do outro.