Chiquita Bacana lá da Martinica
Se veste com uma
Casca de banana nanica
Chiquita bacana, marchinha de carnaval
Prezados leitores, a banana esteve em evidência recentemente no Brasil por causa do gesto de Daniel Alves, jogador brasileiro do Barcelona, que resolveu comer a banana atirada por um torcedor espanhol. Independentemente da intenção de Daniel de responder ao desaforo, sua atitude é louvável do ponto de vista nutricional. A banana é fonte de potássio, magnésio, cálcio, sódio, ferro, selênio, manganês, cobre, zinco, vitamina A, vitamina B1, vitamina B2, niacina, ácido pantotênico, vitamina B6, vitamina C, vitamina K, vitamina E, ácido fólico e niacina. Isso significa que um atleta como Daniel deve comer quantas bananas quanto for possível para evitar cãimbras musculares e para ter energia nos jogos,já que uma banana tem em média 105 calorias, além de 1,29 gramas de proteína.
É um alimento tão completo que uma pessoa pode viver dias à base de banana e água Posso corroborar essa afirmação pela minha experiência pessoal. Há muito anos passei um fim de semana inteiro no Rio de Janeiro fiando-me na dúzia de bananas que comprei em uma feira em Copacabana. Andei de bicicleta, passeiei movida pela fruta e não desmaiei e nem me senti fraca em momento nenhum.Não admira que ela seja uma parte crucial da dieta de 410 milhões de pessoas em todo o mundo, respondendo por um terço das calorias que consomem diariamente, de acordo com o jornal Independent, de Londres.
Por outro lado, a despeito de todos os benefícios materiais que a banana traz ao ser humano, principalmente aqueles do Terceiro Mundo que se valem dela para não passar fome, do ponto de vista espiritual a banana é uma lástima, pois há toda uma gama de conotações, uma das quais veio à tona no episódio envolvendo Daniel Alves, que a tornam algo humilhante, indigno. Banana é comida para macacos, e para os racistas as pessoas negras são simiescas, por isso eles jogam bananas nos estádios de futebol para os “negros-macacos” comerem. Banana é também símbolo de republiquetas latino-americanas que nada mais são do que grandes bananais onde empresas multinacionais mandam e desmandam.
Não é mera coincidência que um filme antigo de Woody Allen, de 1971, seja intitulado Bananas: ele conta a história de um nova-iorquino que levaum fora da namorada e vai para um pequeno país da América Central e lá participa de rebeliões, presencia golpes de Estado, tudo como manda o figurino em uma república das bananas onde a tirania e a instabilidade são moeda corrente. Parafraseando o senador americano John McCain, que recentemente disse que a Rússia de Tolstoy, Tchekhov e Dostoievsky era um posto de gasolina que passava por país,pode-se dizer que Woody Allen quis satirizar as grandes plantações de bananas, mantidas pela Chiquita, Dole e Fyffes, que passavam por países latino-americanos, mas que na verdade eram arremedos de nações.
Mas não é só na América Central que a banana causa um mal-estar pelo seu significado negativo. O Brasil, apesar de não ser considerado como um exemplo perfeito de república das bananas,tem um problema com a fruta, desde os tempos em que a portuguesa Carmen Miranda requebrou-se com uma penca de bananas na cabeça em Hollywoodcantando The Lady in the Tutti Frutti Hat. Para alguns Carmen Miranda fez muito pelo Brasil, ao tornar-se estrela de cinema nos Estados Unidos. Para seus detratores, ela simplesmente reforçou estereótipos sobre a tropicalidade brasileira que mistificam a realidade. De qualquer forma, as bananas ficaram indiscutivelmente associadas à imagem de paraíso ao sul do Equador onde todo mundo é alegre, dança, samba e se diverte, quem sabe movidos pela incrível energia contida em uma modesta fruta da casca amarela. Aliás, à época do filme da pequena notávelThe Gang’s All Here, de 1943,em que ela cantaThe Lady in the Tutti Frutti Hat, a sequência de abertura com as bananas eréteis foi censurada por ser considerada por demais sugestiva.
Símbolo animalesco, fálico ou tirânico, a banana pode estar com seus dias contados na face da Terra, devido ao fenômeno que está sendo apelidado na imprensa internacional de Bananageddon.Um fungo que surgiu na Indonésia, espalhou-se pelo Sudeste da Ásia e ameaça chegar à América do Sul está matando de inanição milhares de bananeiras pelo mundo afora, privando a planta de nutrientes. Há dois problemas que tornam a situação particularmente grave: ele é resistente a todos os pesticidas disponíveis, e pior, pode permanecer incólume no solo durante 30 anos e ser facilmente transportado nos sapatos sujos de terra dos trabalhadores ou em gotas d’água.
Essa não é a primeira vez que o cultivo da banana é seriamente ameaçado. Na década de 1950 a doença do Panamá dizimou as bananeiras e a salvação da lavoura, literalmente falando, foi a variedade Cavendish, que havia sido desenvolvida por JosephPaxton, jardineiro do 6°Duque de Devonshire, William Cavendish,na estufa da propriedade familiar, Chatsworth House. Para quem não sabe, esse duque é filho de Lady Georgiana, cuja vida foi retratada no filme The Duchess de 2008, estrelado por Keira Knightley.Atualmente a variedade batizada em homenagem ao duque responde por 47% das bananas cultivadas no mundo e corre o risco de ser exterminada como as variedades anteriores o foram.
Prezados leitores, se os cientistas não encontrarem uma cura para a doença ou uma nova variedade que substitua a banana Cavendish, todos os esportistas, habitantes do Terceiro Mundo e amantes da alimentação saudável em geral ver-se-ão privados de sua companheira do café da manhã, do almoço e do lanche. Torçamos para que o maior símboloda tropicalidade sobreviva e possa continuar representando nosso defeitos e qualidades no século XXI.