Deveríamos ter feito o mesmo a respeito dos gastos com o fiasco dos gastos das Olimpíadas, mas nós engolimos tudo como um bando de idiotas inocentes. Devemos ter respeito por estes brasileiros que estão se levantando para defender suas ideias e para não serem enganados pela propaganda esportiva.
Comentário no Tweeter colocado por um indivíduo chamado Hanty de Londres em 19 de junho
Uma coisa que me irrita profundamente é quando leio um artigo na imprensa que aborda um acontecimento qualquer, por exemplo, uma ação que está se desenrolando no judiciário, e depois o veículo de imprensa não acompanha os desdobramentos do caso. Por isso é que eu vou dar-lhes notícia do resultado de um plebiscito realizado na Suíça em 3 de março deste ano de que tratei no meu artigo Indignez-vous publicado neste espaço em 1º de março. Com uma aprovação de 67,9% dos suíços que votaram (46% do total de cidadãos),eles decidiram estabelecer limites ao pagamento dado aos executivos de sociedades anônimas. Mas o mais importante para os propósitos deste meu artigo é que nesta semana houve efeitos desta iniciativa popular. Rudof Wehrli, presidente da Economiesuisse, a entidade que se opôs veementemente ao plebiscito, e Pascal Gentinetta, seu diretor geral, acabaram de renunciar aos respectivos cargos, em virtude do desgaste sofrido. Em suma, reconheceram a postura arrogante de pintar na época um quadro de catástrofe se a proposta de corte da remuneração corporativa fosse aprovada e enfiaram a viola no saco. Com certeza, a Economiesuisse será toda ouvidos a visões alternativas e mudará seu comportamento.
Se retomo este episódio helvético, não é somente para cumprir uma função informativa, mas também para abordar o outro lado daquele país. Esse mecanismo de participação popular é excelente para colocar freios nos donos do poder, para lembrá-los de que não podem sair muito da linha, enfim uma atitude típica de países desenvolvidos em que a classe média tem voz para exigirpadrões de governança e impedir que haja as disparidades de renda típicas de países subdesenvolvidos. Por outro lado, há o revés da moeda deste ativismo dos cidadãos que se reflete no exterior: os países de Primeiro Mundo são excelentes para defenderem seus próprios interesses com unhas e dentes aonde quer estejam, indepedentemente das consequências sobre povos mais despreparados.Neste momentodevo mencionar a FIFA, a famigerada organização sediada em Zurique que tornou-se bode expiatório das manifestações contra a corrupção que estão varrendo o Brasil. Digo famigerada porque ela vai lucrar muito com a Copa do Brasil de 2014, às custas do povo brasileiro que vai pagar pelo circo.
No entanto, eu seria ingênua e leviana em colocar a FIFA como vilã, mesmo porque, como disse aqui na semana passada, ela não é uma organização de direito internacional público, e portanto não assina tratado com nenhum país que vai sediar a Copa. As condições da FIFA, incluindo a qualidade dos estádios construídos pelo Brasil afora, foram impostas pela Lei Geral da Copa, aprovada no Congresso Nacional, oficialmente a Lei 12663 de 5 de junho de 2012. Foram nossos representantes que se comprometeram a proporcionar a infraestrutura necessária à realização do evento, e como estamos a ver agora que o povo acordou para a total inversão de prioridades que foi a decisão de sediar um evento que vai nos custar bilhões de reais, nossos representantes não nos representam de nenhuma maneira.
O total descolamento entre nossa democracia de escolher entre o vermelho e o azul e as aspirações do povo tornou-se flagrante nestes últimos dias. É espantoso o silêncio sepulcral dos nossos deputados, senadores, governadores, prefeitos nesta semana, todos caladinhos, encafofados sabe-se lá onde, alguns na Rússia, ensinando como organizar uma Copa aos próximos hospedeiros do parasita futebolístico. Onde está o Lula, onde está o Aécio Neves, onde está a Marina Silva, para cobrir um largo espectro político? O povo está falando por meio de cartazes, por meio de gritos de ordem, e nossa classe política está pairando no ar, não sabendo onde pousar, seja para fazer um mea culpa e pedir perdão pelas trapalhadas, seja para condenar as manifestações. Os únicos que se pronunciaram foram o prefeito e o governador do Rio de Janeiro, mas a respeito da atuação da polícia, não sobre o conteúdo dos protestos em si. E Dona Dilma, que prometeu que vai nos ouvir, com toda a condescendência da mãe que quer controlar as manifestações para seu proveito nas futuras eleições.
Uma honrosa exceção ficou por conta do deputado federal Romário. Recomendo assistirem ao vídeo em que ele manifesta sua opinião claramente. Parece que o nascimento da filha deficiente do baixinho fez com que ele descesse do Mundo de Caras em que vivia ao lado de belas mulheres, festas e diversão e aterrissasse no Brasil real, em que o Primeiro e o Terceiro Mundo convivem intimamente, para nosso prejuízo.A postura de Romário é ainda mais elogiável quando vemos outros ex-jogadores que tentam ser politicamente corretos para não ficarem impopulares, mas não conseguem ser sinceros. É o caso de Ronaldo e do Pelé, cujo apoio às manifestações é meramente protocolar. O Sócrates nesta hora faz uma falta!
Prezados leitores, ninguém sabe no que isso tudo vai dar. Pode ser que finda a Copa das Confederações haja um exaurimento natural, pode ser que a imprensa internacional ache um assunto mais interessante, tipo uma guerra total na Síria, e percamos nosso palco, pode ser que os vândalos tomem conta e dêem o tom dos protestos. Mas eu nunca esperei ver isso na minha vida e estou vendo nós brasileiros, de paciência bovina, nos levantarmos. Uma lição deve ser tirada, que éa de que precisamos achar canais de expressão de nossas prioridades alternativos aos mecanismos da nossa democracia de fachada que provaram ser tão falhos. Os plebiscitos à moda suíça são uma saída, colocada aliás por nossa própria Constituição, propostas de emenda constitucional, voto facultativo, algo terá que ser encontrado. O que não podemos é deixarmos a peteca cair. É preciso que façamos uma blitzkrieg para despertarmos nossos políticos do seu sono em berço esplêndido pago com nosso dinheiro. Uma coisa já conseguimos: a FIFA e a Copa do Mundo nunca mais serão as mesmas depois que nós brasileiros denunciamos os gastos faraônicos com elefantes brancos e exigimos hospitais padrão FIFA para o povo.
Este é apenas o começo, nossa indignação deve ser constante, caso contrário ela servirá apenas como manchete de jornal e não terá efeitos práticos. A luta continua!
5 Responses to Indignez vous: a luta continua