Um motorista de táxi de Queens em Nova York, Nicanor Ochisor, de 65 anos de idade, enforcou-se na garagem de sua casa em 16 de março, deixando um bilhete em que afirmou que os aplicativos de táxi Uber e Lyft tinham tornado impossível que ele conseguisse se sustentar. Foi o quarto suicídio de um motorista de táxi em Nova York nos últimos quatro meses, incluindo uma morte em 5 de fevereiro, quando Douglas Schifter, de 61 anos, matou-se com um tiro na frente da sede da prefeitura.
Trecho retirado do artigo “‘Gig Economy’” é o novo termo para a servidão”, de Chris Hedges, jornalista americano ganhador do Prêmio Pulitzer e ex-professor da Universidade de Princeton, publicado em 25 de março
Permita que eu emita e controle a moeda de um país e eu não me importarei sobre quem faz as leis.
Dito por Mayer Amschel Rothschild (1744-1812), banqueiro judeu considerado o pai fundador das finanças internacionais
Na próxima quarta-feira (28/03), às 11h00, na sede institucional da OAB SP, a advocacia, por meio de suas entidades representativas, reúne-se em ato a favor da Justiça, manifestando-se contrária ao atual ambiente de disputa entre ministros do STF, atitude que afeta a credibilidade e contribui para corroer a imagem do Judiciário.
Comunicado da Ordem dos Advogados do Brasil
Imagem de Nossa Senhora das Dores, de Aleijadinho, exposta no MASP
Prezados leitores, nesta semana tentei fazer um humilde comentário em um artigo publicado na internet sobre o episódio do envenenamento que a Grã-Bretanha acusa a Rússia de ter realizado e usei a palavra factoide. Como já expus aqui há duas semanas, considero este mais um factoide divulgado pela mídia para demonizar a Rússia e seu presidente e justificar algum enfrentamento militar futuro. O próximo passo para marginalizar a Rússia será provavelmente um boicote à Copa do Mundo pelos Estados Unidos e pelos países europeus. Mas a Rússia hoje não é o objeto do meu artigo, mas o fato de que meu comentário não foi aprovado pelo moderador será meu ponto de partida. Havia comentários na página com erros grosseiros de português, com xingamentos, mas talvez essa pequena palavra tenha sido por demais subversiva, porque ela mostra o óbvio. E o óbvio nunca pode ser escancarado, a nudez do rei precisa ser ignorada para a tranquilidade espiritual de todos.
Vivemos rodeados de factóides, isto é de escândalos criados e alimentados por determinados grupos para conseguir algum intento. Nesta semana houve as revelações “bombásticas” de uma ex-amante de Donald Trump, que aliás foram a principal reportagem da seção internacional de Veja, que sempre segue aquilo que a grande imprensa americana dita. Um factóide não é nem um fato, nem uma mentira, ele está a meio caminho entre um e outro. Muito provavelmente Trump teve um caso com Stephanie Clifford, atriz de filmes pornôs. Para os que odeiam o presidente americano é mais uma prova da sua total falta de caráter. Para os americanos que votaram no The Donald é mais um escândalo fomentado por jornais e revistas que estiveram contra ele desde a campanha presidencial e não vão dar trégua enquanto não conseguirem retirá-lo da Casa Branca.
A questão importante aqui, independentemente de ser contra ou a favor de Donald Trump, é a seguinte: qual a relevância disso para os problemas sérios enfrentados pelo povo americano? Será que não seria o papel de veículos como a CNN, os jornais New York Times e Washington Post darem o devido destaque à precarização das formas de trabalho evidenciadas por esses suicídios em Nova York? Será que uma discussão sobre o efeito da nova economia, praticada por empresas como a Uber, a Amazon e a Airbnb, sobre a renda do trabalhador não seria mais útil? A Amazon está acabando com as livrarias, a Airbnb está acabando com os hotéis e a Uber está acabando com os táxis. Ou seja, há muita destruição acontecendo na economia atualmente, e muitos trabalhadores já estão sendo literalmente sacrificados no altar da economia compartilhada. Caberia àqueles que ditam a pauta dos jornais, revistas e TVs prestarem um serviço de utilidade pública e prestar esclarecimentos sobre aquilo que de fato afeta a vida das pessoas em geral. O que ocorreu entre Stephanie e Donald em 2006 é mera distração, ou pior, é um esforço deliberado de tratar do que é desimportante para que o que é importante continue não sendo resolvido.
Nosso Brasil claro, não está imune aos factóides. Aliás, temos uma respeitável tradição nesse quesito. Em nossa primeira crise política enquanto nação independente, aquela da abdicação de Dom Pedro I em 1831, vários factóides, explorados pela imprensa, serviram para pintar o retrato do tirano que queria colocar o Brasil sob o jugo do absolutismo. Um dos mais famosos foi o assassinato do jornalista Líbero Badaró em 20 de novembro de 1830 (esse script se repetiria em 1954), cuja autoria foi imputada a alemães. A tal da opinião pública logo associou os alemães aos mercenários alemães colocados por Dom Pedro no exército. É improvável que Dom Pedro mandasse assassinar um jornalista, mesmo porque, como já mencionei semana passada, ele mesmo escrevia para os jornais sob pseudônimos e defendia ideais liberais. Mas os grupos que queriam Dom Pedro fora do Brasil para garantir seus próprios interesses, inclusive o de manter a escravidão firme e forte no Brasil, fizeram de Líbero Badaró o mártir da liberdade ameaçada pela tirania do imperador português que então nos governava.
Aliás, quase duzentos anos depois da abdicação de Dom Pedro massacrado pela imprensa da época, é forçoso constatar que nossa democracia vem alimentando-se já há algum tempo das crises fabricadas, dos escândalos, algo que se intensificou a partir de 2014, com a eleição de Dilma Rousseff. A Operação Lava-Jato, o impeachment, o julgamento de Lula, sua caravana atacada por tiros, os discursos inflamados de Bolsonaro, as sessões “UFC” do Supremo Tribunal Federal, todos estão sempre nas manchetes dos nossos jornais, revistas, TVs e rádios. A opinião predominante é que isso é salutar porque ao mostrar a corrupção dos políticos e a violência das disputas a imprensa ajuda a aprimorar a democracia.
Tenho lá minhas dúvidas: assistir aos embates de Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso dão-nos a impressão de que o Judiciário não é composto por juízes que aplicam a Constituição, mas por líderes de gangues, para os quais a lei é algo a ser manipulado para destruir seu inimigo. A própria OAB admitiu o perigo da corrosão da credibilidade ao convocar um ato de repúdio, conforme mostrado na abertura deste artigo. É mais um escândalo que gera vídeo no youtube, memes, mas para bom entendedor mostra que se os políticos não estão à altura do regime democrático, porque recebem propinas e usam o cargo para favorecer a si e a seus doadores, tampouco o Judiciário mostra-se apto a preencher o vácuo criado pelo apagão dos outros Poderes.
De espalhafato em espalhafato nós brasileiros acabamos nivelando tudo por baixo. Se o escândalo é a norma e todo o mundo tem o rabo preso a algum interesse escuso que acaba cedo ou tarde sendo revelado, podemos então aceitar o “atira para matar” do candidato Bolsonaro assim como aceitamos o “pedido” de Gilmar Mendes para que Barroso feche seu escritório. Todos estão no mesmo balaio da democracia alimentada pela libertinagem de imprensa usado pelos diferentes grupos de interesse para atacar seus inimigos. É nesse ponto que a frase de Mayer Amschel Rothschild adquire todo o sentido. Se aos eleitores é fornecido apenas o pacote básico de factóides e aquilo que de fato afeta sua vida e seu bolso não é jamais discutido de maneira clara e com a devida ênfase, é porque não é para que os eleitores decidam sobre as questões de fato importantes, mas para ser distraído com escândalos de modo que outros tomem as decisões sobre como o dinheiro será ganho e será distribuído.
Prezados leitores, não estou aqui a defender a censura aos veículos de comunicação, apenas um maior comprometimento com a democracia como a oportunidade de participação responsável dos cidadãos nas decisões. Se continuarmos assim, em outubro nosso voto de protesto contra a sujeira generalizada será no equivalente do “Tiririca” para Presidente da República.