Para os hedge funds a operação foi como tirar a sorte grande: NML, o fundo pertencente ao bilionário americano Paul Singer, deve assim embolsar perto de 2 bilhões de dólares em troca de títulos comprados por 80 milhões de dólares nos anos 2000. Um valor agregado de mais de … 2.500%! Isso fez com que Roberto Lavagna, Ministro da Economia no momento da reestruturação da dívida argentina em 2005, afirmasse que o acordo assinado por Macri é “ruim e extremamente oneroso” para o país.
Trecho do artigo “A Argentina finalmente livra-se dos fundos-abutre”, publicado na edição eletrônica do jornal francês Le Monde em 31 de março de 2016 a respeito do acordo aprovado pelo Congresso da Argentina pelo qual o país concorda em pagar aos fundos especulativos o valor de 4,65 bilhões de dólares em troca da emissão de novos títulos de dívida no valor de 12,5 bilhões de dólares.
A Islândia raramente é manchete na imprensa mundial e para a maioria das pessoas provavelmente é a primeira vez que ouviram falar do Primeiro-Ministro do país. Há um bom motivo para a obstinada falta de interesse da mídia global a respeito da Islândia nos últimos anos: o país recuperou-se da crise financeira colocando na cadeia 29 banqueiros corruptos e recusou-se a pagar credores estrangeiros desde quando a crise financeira devastou sua economia em 2008.
Trecho do artigo “Os Documentos do Panamá: por que a Islândia?” do jornalista Gearóid Ó Colmáin, a respeito da revelação de que o primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur Davíð Gunnlaugsson, tem uma empresa offshore, a Witris
Prezados leitores, devo confessar-lhes uma coisa, que talvez já tenha se mostrado óbvia em meus artigos. Tenho um fraco por teorias da conspiração e tento estabelecer conexões entre fatos isolados. Como não tenho ferramentas investigativas, já que não sou jornalista nem espiã, não tenho condições de provar minhas conjecturas, e por isso elas serão totalmente despretensiosas, a tal ponto que apenas relacionarei abaixo algumas perplexidades sobre fatos que me intrigam, mas para os quais talvez jamais terei resposta satisfatória.
Um dia talvez saberemos por que o juiz Sérgio Moro fez a divulgação ilegal das conversas telefônicas entre Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva. Ele disse que não foi um ato político, mas certamente não foi um ato jurídico, porque desculpou-se pela bêtise ao STF. Claro, a preocupação com um ato ilícito cometido por um juiz federal é uma mera “aflição das classes intelectuais” como disse J. R. Guzzo na Veja de 13 de abril. De qualquer forma, fica aqui registrada minha curiosidade.
Um dia talvez saberemos por que Sérgio Moro foi alçado à condição de formador de opinião, com direito a manifestar-se sobre a Operação Lava-Jato na meca do Ocidente, onde as ideias que realmente prevalecem se formam, os Estados Unidos, onde nosso herói-magistrado ou magistrado-herói falou por uma hora em Chicago, convidado pela Associação de Estudantes Brasileiros. Os outros palestrantes foram um banqueiro, Pérsio Árida, do BTG Pactual, o banco do senhor André Esteves, preso há alguns meses por suas operações obscuras, e Marina Silva, fortíssima candidata nas próximas eleições presidenciais. Um dia talvez saberemos que foi neste encontro entre Marina e Sérgio que surgiu o convite para um cargo em um futuro governo sustentável e convergente positivo da REDE. Afinal Marina sempre enfatiza que se um dia for presidente vai escolher os melhores para compor o Ministério.
Um dia talvez saberemos se as revelações trazidas pelos documentos do escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca foram selecionadas para sujar ainda mais a reputação daqueles que fazem parte do eixo do mal do Ocidente, ou melhor da “comunidade internacional”. Afinal, as velhas bêtes noires estão na lista dos sonegadores de impostos: Vladimir Putin, presidente da Rússia na verdade, amigos dele, o que tem o mesmo efeito de manchar ainda mais a reputação deste novo Hitler, como o denominou Hillary Clinton; Bashar Assad, na verdade, primos dele, deste homem que jogou gás em seu próprio povo, como acusou os Estados Unidos; Xi Jinping, presidente da China, na verdade oito parentes e amigos de Xi, líder de um país que ousa defender seus próprios interesses, na arena internacional, doa a quem doer; Jean-Marie e Marine Le Pen, políticos franceses que criticam a União Europeia e a ordem global de que a EU é um dos símbolos mais gritantes; Sigmundur Gunnlaugsson, primeiro-ministro da Islândia, país que preferiu dar calote nos credores internacionais a fazer seus 300.000 habitantes pagarem a conta da orgia financeira. Um dia talvez saberemos que a inclusão de David Cameron, um dos líderes do eixo do bem, na lista negra do Mossack Fonseca, como detentor de ações em empresas abertas em paraísos fiscais, foi apenas para dar uma disfarçada nos reais objetivos da divulgação.
Um dia saberemos se o tango dançado por Obama na Argentina em sua visita oficial ao país em 23 de março e sua afirmação de que vai ajudar a Argentina “a recuperar seu papel de liderança global” foram afagos ou gentis pressões que acabaram convencendo o presidente argentino Mauricio Macri a entrar em acordo com os fundos-abutre que compraram títulos da dívida argentina a preço de banana e receberão o valor de face, algo que Cristina Kirchner (aliás, outra sonegadora de impostos na lista panamenha) recusava-se a fazer.
Um dia saberemos se é ou não mera coincidência ter havido impeachment do Presidente do Paraguai, Fernando Lugo em 22 de junho de 2012, após um rito que durou um pouco mais de 24 horas, e ter havido impeachment de Dilma Rousseff no Brasil em 2016. Talvez saberemos com certeza se há uma tendência nesse sentido se algum outro líder latino-americano for destituído do cargo no futuro próximo com base em acusações polêmicas.
Um dia saberemos se uma das razões por que Dilma Rousseff caiu em desgraça na comunidade internacional foi porque não aceitou o embaixador que Binjamin Netanyahu havia indicado em agosto de 2015, Dani Daya, líder de 2007 a 2013 do conselho Yesha (representante dos 500 mil colonos israelenses na Cisjordânia em Jerusalém Oriental). Na queda de braço entre Dilma e Bibi, o primeiro-ministro israelense acabou cedendo e mandou Dani Daya para Nova York como cônsul-geral e o embaixador voltou a ser Reda Mansour.
Prezados leitores, reitero que minhas perplexidades são de uma pessoa que tende a achar, como colocou Tolstói em Guerra e Paz, que os atos realizados pelos homens acabam tornando-se irrevogáveis e entram para a história, na qual deixam de ser livres e acabam adquirindo um significado predestinado. São as tais das correntes invisíveis de que ele falava. Vivemos momentos interessantes na cena mundial, a crise da União Europeia causada pela migração em massa, o Oriente Médio em chamas, o terrorismo, os desdobramentos da crise financeira em termos de desemprego, as disputas geopolíticas entre os Estados Unidos e seus rivais asiáticos, China e Rússia. E no Brasil esta crise política que tudo leva a crer nos encherá cada vez mais de ódio uns contra os outros. Ninguém tem condições de saber para onde caminhamos, simplesmente porque não sabemos quais correntes invisíveis nos carregam. Quais têm mais força? Quais são fracas a ponto de serem irrelevantes? Todas as minhas perplexidades podem ser fantasias de quem aflita, quer saber o que lhe passa pelos pés, e quer tentar adivinhar atirando em todas as direções. Um dia talvez, daqui a alguns anos, eu saberei. Ou, pode ser que o primeiro-ministro da China em 1972 Zhou Enlai estivesse certo quando foi perguntado sobre o efeito da Revolução Francesa, e ele simplesmente disse: muito cedo para dizer.