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Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia

Posted by on 01/02/2016

48,6% da população têm acesso à coleta de esgoto.
Mais de 100 milhões de brasileiros não tem acesso a este serviço.
Mais de 3,5 milhões de brasileiros, nas 100 maiores cidades do país, despejam esgoto irregularmente, mesmo tendo redes coletoras disponíveis.
Mais da metade das escolas brasileiras não tem acesso à coleta de esgotos.
47% das obras de esgoto do PAC, monitoradas há 6 anos, estão em situação inadequada. Apenas 39% de lá para cá foram concluídas e, hoje, 12% se encontram em situação normal.
39% dos esgotos do país são tratados.
O custo para universalizar o acesso aos 4 serviços do saneamento (água, esgotos, resíduos e drenagem) é de R$ 508 bilhões, no período de 2014 a 2033.Para universalização da água e dos esgotos esse custo será de R$ 303 bilhões em 20 anos.

Dados obtidos no site www.tratabrasil.org.br

    Prezados leitores, a salvação da lavoura no momento não é nem o Rodrigo Janot, nem o Sérgio Moro e nem o japonês da Polícia Federal que prende os larápios. Chama-se Exposis, o repelente mais eficaz contra o famigerado aedes. 100 ml custam 53 reais e de acordo com o atendente da farmácia onde adquiri meu frasco, há pessoas que quando ficam sabendo que um novo lote chegou correm para adquirir cinco, seis exemplares para segurança. Afinal, para quem pode comprar um repelente tão caro faz sentido proteger-se contra o lado negro dos trópicos ao desfrutar as delícias do sol e do mar em algum resort no Nordeste brasileiro. Entre os planos do governo está a distribuição de mata-bichos às mulheres grávidas, mas duvido que o princípio ativo seja a icaridina importada da Alemanha. Afinal, tudo o que é feito para os pobres neste país é mal feito ou feito pela metade.

    Os dados que citei acima corroboram essa má vontade que temos com os necessitados. O tratamento do esgoto causaria um impacto gigantesco na vida dos brasileiros em termos de diminuição de doenças associadas à sujeira da água e ao lixo acumulado. Não é coincidência que o epicentro da transmissão do vírus zika esteja no Nordeste. Lá, apenas 28,8% do esgoto é tratado, a segunda pior região do Brasil, atrás apenas da Região Norte, cuja porcentagem de tratamento fica em 14,7%. O aedes aegypti, apesar de botar seus ovos em água limpa, não reinaria tão lindo e faceiro se vivêssemos em cidades limpas e arejadas. Mas para que conseguíssemos isso seriam precisos investimentos de bilhões de reais e temos outras prioridades, como a Copa do Mundo e as Olímpiadas que ocorrerão em agosto, pagamento de juros estratosféricos aos credores da dívida estatal e pagamento de propinas a funcionários públicos e políticos para que o presidencialismo de coalizão que conseguimos depois de 25 anos de democracia possa continuar mantendo os mesmos macacos velhos no poder.

    Aliás, por falar em Olimpíadas, provavelmente terão o mesmo destino da Copa do Mundo, cujo legado foram os elefantes brancos e as dívidas. Independentemente de as previsões catastróficas dos infectologistas e especialistas em saúde pública a respeito do nível de contaminação concretizarem-se, o mal já foi feito. A Organização Mundial de Saúde soou as trombetas do caos, declarando emergência máxima, e agora todo mundo, inclusive os potenciais turistas do maior evento esportivo do ano, sabem que há mais um motivo para evitar o Brasil, além da violência endêmica. Pobres atletas que terão que vir para cá sujeitarem-se a pegar hepatite nas águas poluídas da Baía de Guanabara ou uma das três doenças transmitidas pelo aedes. Para aqueles que já deram uma passada para reconhecer o terreno onde irão lutar por medalhas, os treinadores, entre eles o japonês Shineo Knase, recomendam ficarem o mais dentro do hotel possível e quando saírem no calor de 35 graus à sombra da cidade maravilhosa usarem calças compridas e camisas de manga. É verdade que as autoridades cariocas estão inspecionando os locais onde ocorrerão as competições olímpicas em busca de qualquer foco de mosquito, e provavelmente farão um bom trabalho nessas áreas privilegiadas até dia 5 de agosto, mas nossa imagem já foi indelevelmente conspurcada na comunidade internacional, e em matéria de turismo imagem é tudo.

    A respeito do alerta da OMS, é sempre bom termos um pé atrás em relação às previsões médicas, afinal é do interesse da classe manter os pobres leigos com medo da morte e da doença para que sigamos suas prescrições e eles mantenham o controle sobre nossas vidas. A gripe suína, a gripe aviária, o ebola, foram anunciados como as pragas do Egito, e no final não foram tudo isso que disseram. As catástrofes anunciadas geram manchetes na capa dos jornais e revistas, geram memes no facebook, e por aí vai. E mesmo quando os médicos falam de maneira sensata, sem declarações bombásticas, a mensagem chega distorcida por falta de conhecimento científico da plebe. Correlação é diferente de causação: dizer que dois fenômenos sempre ocorrem juntos, como dizem os especialistas ser o caso do vírus zika e da microcefalia em bebês de mães portadoras da doença, não significa que o vírus cause o problema, afinal pode haver um outro elemento que seja responsável pela ocorrência dos dois. Uma série de fatores devem ser levados em conta, como o nível de nutrição dos contaminados, o nível de exposição a agentes ambientais tóxicos, etc., o que faz com que qualquer conclusão no momento seja leviana. Há vários grupos de pesquisadores tanto no Brasil quanto no exterior que estão tentando fazer as perguntas pertinentes para chegar às respostas mais satisfatórias e talvez daqui a alguns anos saibamos qual a exata ação do vírus no corpo humano.

    Enquanto os cientistas verificam suas hipóteses, o troféu de epicentro de uma epidemia mundial já foi dado ao Brasil, o ex-país do futebol e ex-BRIC, pois agora, depois de nossa débâcle econômica, já não somos considerados parte do grupo dos emergentes, cujo nome passou a ser TICKs: Rússia e Brasil, meros produtores de commodities, foram colocados de lado em prol de países que vendem produtos tecnológicos, Taiwan e Coreia do Sul. Por isso leitores, recomendo-lhes, quando forem divertir-se no carnaval em praias paradisíacas, mas provavelmente com um pouquinho de esgoto, não deixem de levar seu frasco de Exposis para livrarem-se da zica do mosquito. Parodiando o famoso enredo de Joãozinho Trinta à frente da escola de samba Beija-Flor em 1989: aedes, largue minha fantasia.

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