Os leitores do Montblatt têm todos idade suficiente para lembrar-se das mentiras que nos foram impostas quando do martírio de Tancredo Neves, ao fim da ditadura militar. A princípio uma diverticulite diagnosticada às vésperas da posse, o recém-eleito presidente posou garboso em robe de chambre cor de vinho ao lado de sua esposa e dos médicos sorridentes, esbanjando otimismo com sua recuperação. Mas o caldo entornou, Tancredo foi transferido para São Paulo, a Meca da medicina brasileira. E foi então que as mentiras se avolumaram. Médicos que diziam uma coisa e depois se desdiziam, um cozinhar de galo que durou “coincidentemente” até o dia 21 de abril, dia do outro mártir de Minas, Tiradentes.
Até hoje não sabemos o que ele teve. Câncer? Tumor benigno? Envenenamento? Houve claro, alguns livros, mas o importante é que ao povo brasileiro ficou faltando uma explicação, oficial e consistente, do que ocorreu com o fundador da Nova República.
Toco nesse assunto em primeiro lugar pelo motivo óbvio do câncer da candidata Dilma. Quando ela acabou de fazer a quimioterapia os médicos do Hospital Sírio Libanês emitiram um comunicado dizendo que ela estava curada. O que quer dizer isso? Não haveria a obrigação de eles, dada a circunstância de já naquela época ela ser candidata, fazerem a ressalva de que cura deve ser usada com cautela considerando que durante cinco anos pode haver a chamada recidiva? Por que os médicos se eximem do seu dever de informação? Acaso há algum interesse de angariar benefícios? Sabemos que o Hospital Sírio Libanês, onde muitos chiques e famosos se tratam, goza do status de entidade filantrópica, e portanto de incentivo fiscal, apesar de não receberem em suas luxuosas dependências NENHUM paciente do SUS. Será que a contrapartida dessas benesses é dar salvo-condutos médicos a todos esse políticos que na verdade estão com a saúde por um fio?
Sim, por que não é só Dona Dilma que tem ficha médica suja. O candidato Serra já teve problemas cardíacos, e também é tratado no Sírio Libanês. Mas os outros dois candidatos menos reluzentes não têm histórico melhor. A idade provecta do Plínio de Arruda Sampaio já mostra que ele não tem energia física suficiente para ser o timoneiro da nação e Dona Marina Silva teve malária e hepatite. A nós não foi esclarecido de que tipo de hepatite se trata. Pois se se trata da hepatite C, teríamos uma presidente condenada, como talvez a Dilma se o câncer voltar.
A candidata do governo, ao ser perguntada sobre sua saúde, disse que era uma pergunta deselegante. Por que? Por que é deselegante querermos saber sobre a capacidade física dos candidatos? Acaso não é dever deles nos informar sobre suas reais condições para que possamos decidir de maneira mais consciente? Nos Estados Unidos, na última eleição para presidente, tanto o velhinho Mc Cain quanto o jovem Obama apresentaram relatórios médicos, esclarecendo as dúvidas: Mac Cain já teve um câncer de pele no passado, o que foi devidamente apontado pela imprensa do país.
Por que nossos candidatos a presidente não fizeram o mesmo já no início da campanha? Além de apresentarem declarações de renda, deveriam apresentar laudos informando-nos sobre seu histórico médico. Se fizessem isso não seriam mais ou menos elegantes, apenas cumpririam sua obrigação básica de prestar contas a nós que os elegemos e os colocamos lá em cima, confiantes de que terão no mínimo, senão a virtude maquiaveliana que esperamos de nossos líderes, ao menos a capacidade física para tomar o Boeing Presidencial, apertar a mão dos representantes estrangeiros, etc.
Chega de meias-verdades, transparência já sobre a saúde de Dilma, Serra, Marina e Plínio!