Sustentabilidade: solução ou mistificação?
Nesta semana Dona Marina Silva escolheu seu companheiro de chapa, Guilherme Leal, vice-presidente da Natura, empresa campeã da idéia de sustentabilidade. Nada mais coerente não? A campeã do meio ambiente se alia à entidade que veicula por meio de suas campanhas publicitárias, a mensagem de que é possível aliar crescimento econômico com preservação do meio ambiente, ou melhor, que só há desenvolvimento econômico com respeito ao meio ambiente. Sem sustentabilidade não há linha Ekos de cosméticos, não há sabonete de maracujá, creme de andiroba e por aí vai, portanto não há verdadeira riqueza: afinal a pele macia, o cabelo sedoso mostram que a pessoa tem uma grande qualidade de vida, não é mesmo?
Ironias à parte, o ponto que quero discutir aqui e se essa tão propalada idéia de sustentabilidade pode ser realizada na prática em proveito do nosso povo. Será que é possível uma saída pela qual o crescimento econômico e a preservação do meio ambiente não entram em conflito? Será que há sempre uma terceira via pacificadora? Esta é a mensagem da Marina, sua marca registrada.
A necessidade de levar em conta os impactos ambientais de grandes obras públicas como hidroelétricas tem sido incorporada pelo Poder Público, seja por ações do Ministério Público, seja por especificações dos próprios editais de licitação. A Usina Belo Monte é um exemplo. O reservatório será do tipo fio d’água que inunda uma área menor, e portanto, destrói menos as áreas ao derredor. Ao mesmo tempo, por depender mais do regime de chuvas, não produzirá energia quando o Xingu estiver com menor volume na estação seca.
Aqui se coloca uma questão: para que então fazer uma usina desse porte, gastar o volume de dinheiro que iremos gastar, se ao final a produção da usina será pífia? Querendo aliar preservação e produção de energia para turbinar o crescimento econômico, teremos o pior dos dois mundos: destruição do meio ambiente e não geração de eletricidade suficiente.
O que quero mostrar é que a ideia de sustentabilidade, por mais atraente que pareça para vender cosméticos, para receber medalha de honra do Greenpeace, para atrair o James Cameron ao Brasil não serve para balisar um governo. Pois governar é traçar metas, estabelecer prioridades, trabalhar para alcançá-las e preparar-se para enfrentar os efeitos colaterais da negligência de outros aspectos.
A China claramente prioriza o crescimento econômico, a ponto de ter grandes índices de poluição do ar e da água, problemas sérios de desertificação, e mais importante, não se comprometer com nenhuma cláusula de diminuição de emissão de gás carbônico (da qual é campeã), como ficou claro na reunião de Copenhagen. Os chineses consideram que têm direito de poluir para crescer, como os países ricos fizeram por 200 anos para se industrializar, e ignoraram solenemente as pressões internacionais para estabelecerem limites de emissão.
Por outro lado, eles estão se conscientizando dos estragos causados e realizando medidas, financiadas pelo dinheiro que acumularam nestes últimos 20 anos, para sanar os problemas, Isso inclui o maior programa de reflorestamento do mundo, investimento maciço em fontes de energia alternativas (eólica, por exemplo), investimento em tecnologia verde para serem pioneiros nas novas indústrias do século XXI e buscando novos fornecedores de matérias primas na África e América Latina para garantir que terão combustível para crescer ainda mais.
Em suma, as vantagens que conseguiram conquistar com o crescimento econômico a todo custo, dinheiro e tecnologia, estão sendo utilizadas para enfrentar as desvantagens trazidas por esse modelo.
Não digo que devamos adotar este modelo para o Brasil, meu objetivo é o de mostrar que qualquer opção que façamos, mesmo a tão atrativa terceira via da sustentabilidade, implicará custos e benefícios. De qualquer forma a sociedade brasileira precisa estar ciente de tais implicações, e não se deixar encantar por palavrinhas mágicas que fazem sentido para os marketeiros, mas pouco sentido em termos de políticas de governo.