Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, tomou a resolução de ler livros em 2015. Ele chegou inclusive a anunciar publicamente na sua conta no sábado 3 de janeiro que se colocou como objetivo acabar um livro a cada 15 dias.
Trecho retirado do artigo intitulado “Leitura, a grande resolução de Mark Zuckerberg para 2015”, publicado no jornal Le Monde de 4 de janeiro
As revelações em 2013 de Edward Snowden, da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, incluíram, entre outras coisas,os laços estreitos de empresas estratégicas do ramo de TI como Cisco Systems, Microsoft e outras com os órgãos de inteligência dos EUA.
Trecho retirado do artigo “A presidente do Brasil, país membro dos BRICs, é o próximo alvo de Washington”, de William Engdahl
Prezados leitores, início de ano é tempo de traçar planos para o que fazer ao longo dos próximos 12 meses.Como hoje as celebridades ditam o comportamento em nossa sociedade, iniciemos com um homem conhecido globalmente, Mark Zuckerberg. A fim de começar a colocar em prática seu projeto de tornar-se um leitor contumaz, ele criou, claro, uma página no Facebook pedindo sugestões de leitura, denominada Year of the Book, já curtida por 120.000 pessoas até a manhã do dia 5. Não se sabe se o primeiro livro da lista de Zuckerberg foi sugestão de algum internauta ou se foi decisão dele mesmo, mas o fato é que o livro chama-se The End of Power, de Moises Naim, que de acordo com o próprio comentário do pai do Facebook, “É um livro que explica como o mundo está mudando para dar aos indivíduos uma parte do poder que antes era detido tradicionalmente pelos grandes governos, os exércitos e outras organizações.”
Desconfio que tal escolha foi deliberada, para ao mesmo tempo que toma uma atitude culturalmente correta de dedicar-se aos livros Mark Zuckerberg possa promover as próprias virtudes das redes sociais. Afinal, nada do que uma pessoa pública faça aos olhos de todos é ao acaso, ao sabor das inclinações momentâneas do sujeito. O objetivo de um homem de negócios é sempre expandir seu mercado consumidor e vender o Facebook como um instrumento de diluição do poder é uma tremenda jogada de marketing, e como tal ser vista como contendo meias-verdades. Não há como negar que a internet permiteque as pessoas tenham acesso a informações divulgadas por jornalistas independentes que não teriam espaço na grande imprensa e que possa haver chances infinitamente maiores de as pessoas se organizarem em prol de alguma causa.
Por outro lado, deixar alguém estar ou não na internet em última análise é uma decisão daqueles que detêm as chaves do paraíso, no caso as empresas de TI, que de acordo com as revelações de Snowden prestam grandes serviços ao governo americano, dando-lhe acesso às informações de milhares de usuários. Assim, os EUA podem usar seu poder sobre a rede mundial para com a conivência dos líderes da indústria colocar pessoas e países indesejáveis para fora, como foi recentemente feito com a Coreia do Norte. Enfim, o poder está sempre presente, ainda que ricamente disfarçado nas vestes da propalada democratização proporcionada pela internet.
Por isso é que a tal da resolução de Mark Zuckerberg de ler mais em 2015 não me impressiona tanto quanto aquela da Telebrás de construir um cabo de fibra óptica submarino de 5.600 quilômetros partindo de Fortaleza e chegando a Portugal para melhorar as comunicações transatlânticas, evitar o uso da costa oeste dos Estados Unidos para o tráfico de dados de TI e melhor, livrarmo-nos da dependência de empresas americanas que são utilizadas como instrumento para nos vigiar. Faço várias ressalvas ao governo da Dona Dilma, a começar pelas manobras contábeis para esconder a gastança sem lastro, mas ao contrário da grande maioria da nossaimprensa, não considero sua política externa equivocada, e não acho que a presidente deva sair do muro, como defendeu Clóvis Rossi há alguns dias, o que significa evitar contato com nações como a Rússia e a China, por não serem democráticas.
Não vou aquientrar na discussão do que se pode considerar como um país democrático, mas mesmo os Estados Unidos têm ótimas relações com países que reprimem de algum modo suas populações como a Arábia Saudita, que prende mulheres que se aventuram a dirigir e o Egito, que recentemente condenou à morte muitos dos partidários do presidente deposto que havia sido eleito pelo voto Mohamed Morsi. Acho que um relacionamento mais profundo com nações que não têm a dominância americana pode nos possibilitar negociar termos mais favoráveis: ser amigo de uma potência absolutamente hegemônica significa simplesmente assinar um contrato de adesão, cujas condições são estabelecidas previamente pela parte mais forte. Tenho esperança de que em nossas tratativas com países do grupo dos BRICs possamos tratar mais de igual para igual, levando em conta, é claro, nossa força econômica, que não é lá grande. Oxalá a promessa do presidente da Telebrás Francisco Ziober Filho se cumpra, mas precisamos sempre estar com um pé atrás em vista das resistências que tal projeto encontrará e da nossa incapacidade de atermo-nos a cronogramas.
Quanto a mim pessoalmente não é muito pertinente decidir como Mark Zuckerberg ler mais livros. Eu já o faço todos os dias, não por questões de marketing corporativo, mas a bem da minha sanidade mental, enquanto tomo um café depois do almoço, para desanuviar, como alguém que toma um banho de sol no parque em um dia de frio. Prezados leitores, seja por razões comerciais ou por razões geopolíticas, vale a pena tomar resoluções no início do ano.Fazermo-nos promessas, ainda que não consigamos cumpri-las, nos mantêm vivos, mostra a nós mesmos que temos interesses e melhor, temos esperança no futuro. E quem consegue viver sem esperanças? Só à base de pílulas azuis ou roxas.