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Marina, aproxima

Posted by on 01/09/2014

Ela diz que no seu governo não vai ter lugar para a fisiologia do PMDB. Você acha que Sarney e Renan vão sentar na beira da calçada e chorar: “A Marina não quer a gente no governo?”. Os fisiológicos têm voto. Não estão lá por acaso. Se só estivessem no Congresso os melhores, a política seria outra.

Trecho de entrevista concedida por Cesar Romero Jacob, cientista político da PUC-Rio, para o jornal O Estado de São Paulo em 31 de agosto

Nos governos do PT e do PSDB, cada um tem um apagão para chamar de seu.

Marina Silva, no debate dos presidenciáveis em 26 de agosto

                Prezados leitores, continuando meu esforço deinformar-me sobre os candidatos à Presidência da República assisti ao debate na Band mediado por Ricardo Boechat. É óbvio que o desempenho dos contendores não influenciará muito o resultado, já que a audiência foi baixíssima (1,7 na Grande São Paulo, uma piora em relação a 2010, quando chegou a 2,4 pontos), talvez em virtude do horário ingrato, talvez em virtude de os eleitores fazerem sua opção com base em outros critérios que não o conteúdo das propostas ou a habilidade de argumentação. De qualquer forma, foi possível constatar o porquê de Marina Silva ter disparado nas pesquisas e ser a catalisadora do voto útil.

                O grande truque dela é colocar-se acima das refregas tão ínúteis e repetidas entre o PSDB e o PT. Enquanto Dilma acusava Aécio de leviano em suas acusações a respeito da má gestão da Petrobrás, sem respondê-las especificamente e sem dizer porque eram levianas, e Aécio acusava Dilma de vender ao eleitorado um país de mentira que não corresponde à realidade da dona de casa que vai à feirae vê so preços aumentarem, Marina habilmente paira sobranceira sobre eles, com sua mensagem da nova política. A mensagem torna-se crível pelo fato de Marina ainda não ter tido a oportunidade de ser vidraça, de não ter tido experiência no Executivo que pudesse ter sido criticada, como Aécio, duasvezes governador de Minas e Dilma, uma vez presidente. Mais crível ainda porque a ex-seringueira calmamente fala coisas sensatas, por exemplo a necessidade de reconhecer os erros e tentar corrigi-los, e anecessidade de reconhecer que o governo de Fernando Henrique e de Lula tiveram pontos positivos e negativos, FHC conseguiu a estabilização da moeda, cuja preservação é interesse de todos, Lula teve a visão estratégica de trilhar o rumo da realização da justiça social.

               Como não concordar com avaliações assim tão equilibradas da Dona Marina? Como não ter a sensação de que Aécio, enaltecendo o governo de Fernando Henrique em detrimento do de Lula, e Dilma, enaltecendo o governo de Lula em detrimento do de Fernando Henrique, são infantis? Como não vislumbrar Marina como a verdadeira terceira via que vai permitir ao Brasilsuperar a dialética PT x PSDB e chegar a uma sínteseque nos leve a novos caminhos?Afinal, não estamos precisando de novas abordagens em um cenárioem que a participação da indústria no PIB diminuiu drasticamente de 27% na década de 80 para 14% em 2010, em que estamos correndo o risco de entrarmos em mais um período de estagflação como aquele que minou nossas energias vitais antes da entrada em vigor do Plano Real? A economia sustentável de Marina, fazer mais com menos, não é uma receita adequada para que possamos voltar a crescer sem inflação e com aumento de renda? Produtividade não é a palavra-chave para saírmos do lamaçal do PÌBinho que tanto nos assusta? Não é isso que dizem todos os economistas e não é isso que a economia de recursos preconizada pelos ambientalistas prega?

               Tudo isso é verdade, mas devo confessar-lhes que concordo com o candidato Aécio quando diz, para atacar Marina, que o Brasil não é para amadores.Os brasileiros adoram apostar em caras novas para os cargos executivos, mas nas eleições para os parlamentos, às quais normalmente não damos a mínima importância, acabamos mantendo o baixo nível de sempre. O sistema de representação não ajuda, porque os Estados mais desenvolvidos, que têm mais condições de oferecer candidatos ao legislativo de melhor qualidade,são vergonhosamente subrepresentados no Congresso Nacional, de forma que os Sarney e os Renan Calheiros é que dão o tom. Marina martela, como um dos pontosfortes do seu arsenal de marketing , na tecla de que é preciso governar com os melhores, seja de quepartido forem. Belas palavras, mas é pouco provável que ela encontre o crème de la crème na Câmara dos Deputados ou no Senado. Pode até ser que ela forme um ministério de notáveis com as melhores cabeças pensantes da sociedade brasileira. Mas e o apoio político para que as ideias maravilhosas produzidas por essas mentes brilhantes sejam concretizadas? É crível pensar que o PSB, o partido ao qual Marina está afiliada, vá conquistar uma maioria no Congresso Nacional?

               Há mais uma preocupação que desejo externar neste meu humilde espaço. Marina, apesar de todo seu apelo do século XXI, está mostrando ter sido picada pela mosca azul do poder. Em entrevista ao Roda Viva em 2013 ela dizia não ter interesse em se candidatar e que sua preocupação era formar seu partido para concretizar sua ideias sobre a nova política. Pois bem, apesar do seu choque com a morte de Eduardo Campos, ela imediatamente lançou-se candidatae tem feito concessões típicas de quem quer conquistar o poder, mesmo que isso signifique quebrar alguns ovos. Cedeu aos evangélicos a respeito do casamento gay, retirando apoio a essa medida do seu programa, e já havia cedido a respeito dos transgênicos e da transposição do Rio São Francisco que passou a apoiar quando foi Ministra do Meio Ambiente. Nessa toada, não seria surpresa se tivesse proximamente uma reunião com o Ronaldo Caiado, um dos líderes da bancada ruralista no Congresso.

               Não há nada de mal em que ela apare seus radicalismos para tornar-se mais palatável, isso é esperável, o perigo a meu ver é que Marina não admita isso e se torne tão messiânicae auto-centrada como Lula, para quem os erros estão sempre nos outros. Prezados leitores, a despeito de todo o apelo marinístico, não posso deixar de ver um fundo de verdade nas palavras de Luciana Genro, a candidata “marginal” do PSOL, que no debate acusou Dilma, Aécio e Marina de serem todos variações do mesmo tema, no caso os fiéis baluartes do tal do tripé macroeconômico (metas de inflação, câmbio flutuante e independência do Banco Central)que faz com que o Estado brasileiro invista mais no pagamento de juros da sua dívida do que naquilo que o país realmente precisa para dar um salto de qualidade no crescimento e no desenvolvimento social.

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