No entanto, como o Brasil é gentil, esperto e inteligente, como ele é muito eloquente e como a dialética é seu ponto forte, atualmente ele é considerado um dos únicos lugares do mundo que tem a receita para que os homens de todas as cores se amem em vez de se odiarem. Essa reputação não faz sentido. Somente o ingênuo Stefan Zweig acreditou que o racismo misteriosamente parava nas fronteiras do Brasil
Trecho retirado do livro “Dictionnaire amoureux du Brésil” escrito pelo jornalista francês Gilles Lapouge, correspondente do jornal O Estado de São Paulo na França
[…] o Brasil é um país magnífico e ameno [posteriormente Leopoldina em carta para a família, já no Brasil, diria que o país seria o paraíso, se não fosse o calor infernal e os mosquitos], terra abençoada que tem habitantes honestos e bondosos […]
Trecho de carta de Maria Leopoldina Carolina Josefa de Habsburgo-Lorena (1797-1826), primeira imperatriz do Brasil, a sua irmã, Maria Luísa, escrita antes de vir para cá e reproduzida no livro de Paulo Rezzutti “D. Leopoldina, a história não contada”
Publicado pela editora francesa Plon, em 2011
Prezados leitores, hoje proponho-lhes um questionário sobre os temas mais polêmicos do momento no país, a ser respondido de acordo com as convicções pessoais de cada um. Não sou adepta dos testes de múltipla escolha para a avaliação do conhecimento, porque eles normalmente ignoram as nuances típicas das ciências humanas, mas como não proponho que haja respostas certas, o meu intuito é mostrar os diferentes aspectos de cada um dos tópicos. Vejamos:
1. Na sua opinião, o julgamento de Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil, pelo juiz Sérgio Moro:
a. Representou um marco histórico na luta contra o toma-lá-dá-cá que prevalece há séculos entre os políticos brasileiros
b. Deveria ser anulado em recurso especial ao STJ porque o juiz Sérgio Moro violou o princípio constitucional da paridade de armas: não permitiu ao réu produzir provas do seu interesse e só permitiu que a acusação produzisse provas, a mais forte delas sendo o depoimento de Léo Pinheiro
c. Quebrou paradigmas ao usar a delação premiada como fundamento da condenação, aproximando o Direito Penal Brasileiro dos sistemas jurídicos de outros países do mundo, o que nos permite estar em sintonia com a comunidade internacional na luta global contra a corrupção
d. Um circo midiático de cartas marcadas que permitiu às elites oferecer Lula como bode expiatório para aplacar a sede de sangue do povo, farto dos desmandos da nossa classe política
2. Na sua opinião, o órgão colegiado do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, reunido durante todo o dia 24 de janeiro, que confirmou a sentença de Moro e ainda aumentou a pena infligida a Lula:
a. Exauriu a questão sobre a culpabilidade de Lula, respondendo detalhadamente aos questionamentos colocados pelo advogado de defesa em sua apelação, mostrando que vivemos em um Estado de Direito em que a justiça é para todos, doa quem doer
b. Caracterizou-se pela prolixidade dos seus membros desembargadores, que exageraram nos prolegômenos e não fizeram mais do que parafrasear os argumentos de Moro, sem de fato rebater as críticas feitas pela defesa a respeito da falta de isonomia do juiz de primeira instância no tratamento do réu e do peso exagerado dado ao testemunho do ex-diretor da OAS para tornar os indícios obtidos pela acusação suficientes para uma condenação criminal
c. Um exemplo de profissionalismo, pela observância estrita dos ritos processuais, pela calma com que os desembargadores expuseram as razões dos respectivos votos, pela profusão de explicações que deram para justificar a condenação de um ex-presidente da República: um viva às nossas instituições!
d. Um cartel em que todos estavam mancomunados com Moro para condenar Lula, independentemente das falhas da sentença dada em Curitiba
3. Na sua opinião, o juiz Sérgio Moro é:
a. Um herói revolucionário que estabeleceu um novo padrão de como aplicar o Direito Penal no Brasil, mais eficaz e mais célere
b. Um juiz que errou feio quando divulgou o áudio das conversas telefônicas entre Lula e Dilma, mas que está dando uma grande contribuição à luta contra a impunidade dos malfeitores no Brasil
c. Um juiz que obviamente não gosta de Lula e que já tinha sua opinião formada mesmo antes de o processo começar, opinião esta fartamente expressa no seu perfil no Facebook
d. Um deslumbrado com a celebridade que conquistou ganhando prêmios nos Estados Unidos, sendo capa de inúmeras publicações e que mais cedo ou mais tarde vai lançar-se na política como paladino da honestidade
4. Na sua opinião, Lula:
a. Sabia de tudo o que seus asseclas faziam para arrecadar dinheiro para as campanhas do PT e fingia não ver para manter a pose de estadista
b. É um líder carismático cujo perfil conciliador, se por um lado colocou a esquerda na cama com o que há de mais retrógrado na política brasileira, por outro permitiu uma distribuição de renda que na Venezuela foi feita à custa de muito sangue e muito caos
c. É um mentiroso, psicopata, manipulador, narcisista cujo projeto pessoal de poder afundou o PT e a esquerda no Brasil
d. Um sujeito objeto de ódio patológico por todos os moradores da casa grande que acham que Lula acostumou mal a senzala
5. Na sua opinião, a eleição presidencial de 2018 sem Lula, o candidato inelegível, ou o inelegível candidato:
a. Será uma fraude, porque privará o povo humilde brasileiro de votar pelo único presidenciável que zela pelos seus interesses, o que tornará a democracia no país uma farsa
b. Estará envenenada pela sombra daquele que era sem nunca ter sido, em relação ao qual todos os candidatos permitidos terão que se posicionar, em virtude da liderança de Lula nas pesquisas eleitorais
c. Transcorrerá em uma fase amadurecida do país, pós-Lula, em que o populismo será neutralizado de vez e um candidato pró-mercado e pró-disciplina fiscal será eleito
d. Será a vitória da visão futebolística da política, insuflada pelas trocas de insultos nas redes sociais, em que o grupo dos vencedores do pleito tripudiará sobre os perdedores
6. Na sua opinião, o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso é:
a. Um hipócrita, em cujo governo roubou-se tanto quanto na época do PT no poder, mas que não tinha a Polícia Federal nem o Ministério Público em seu encalço porque ele nunca lhes deu condições de trabalho
b. Uma ilha de racionalidade no clima quente em que as eleições ocorrerão no Brasil, cujas orientações servirão para que nos livremos do radicalismo de esquerda, representado por Lula, e do de direita, representado por Bolsonaro
c. Um indivíduo fino, que fala bem, gente como a gente, e que portanto, pode ter fundação e pode dar apartamento a sua namorada, que tem idade para ser sua filha, sem que ninguém desconfie da origem do dinheiro
d. Um instrumento útil aos donos do poder no Brasil para inventar um candidato a presidente em 2018 suficientemente novo na política para agradar ao povo e suficientemente seguro para agradar os investidores
Prezados leitores, Leopoldina, aos 19 anos tinha uma visão inocente do Brasil, fruto da idade tenra, da esperança de encontrar a felicidade com seu futuro esposo, Dom Pedro, e de leituras de descrições de europeus alimentadas pelos mitos sobre o Éden e sobre o Eldorado. Gilles Lapouge em 2011, quando escreveu seu dicionário com verbetes sobre o Brasil, já conhecia o país há sessenta anos e estava mais bem preparado para uma visão desapaixonada dos nosso defeitos e virtudes, o que não o impede de continuar amando a terra do pau-brasil. É isso que eu lhes peço ao marcar suas respostas no meu pequeno questionário. Mãos à obra!