Mas a elite tem sua própria cultura de achar ter direitos adquiridos. Seus membros acham que porque estudaram literatura inglesa em Durham eles entendem o mundo melhor do que o encanador de Croydon. Eles se acham superiores e por isso sua visão deve prevalecer. Eles também acham que são moralmente superiores porque eles se mantêm fiéis às opiniões que lhes foi dita que são virtuosas. […] Eles são virtuosos. Eles sabem melhor. Eles são os escolhidos. Eles somente acreditam simbolicamente na democracia. Eles esperam e querem prevalecer.
Trecho do artigo de James Bartholomew intitulado “Foram ensinados a serem burros” publicado em 7 de janeiro de 2017
Deveríamos ficar longe da Síria, os “rebeldes” são tão ruins quanto o regime atual. O QUE VAMOS CONSEGUIR EM TROCA DAS NOSSAS VIDAS E DOS NOSSOS BILHÕES? ZERO
Tweet de Donald Trump em 15 de junho de 2013, o mesmo Donald Trump que ordenou na semana passada o lançamento de 59 mísseis para destruir as pistas da base militar de onde os aviões de Assad, o presidente da Síria, decolavam
Prezados leitores, depois de uma ausência de mais de um mês por motivos profissionais, volto com o coração apertado. Há muitos motivos para tanto e todos eles dizem respeito à maneira pela qual a democracia nos países ocidentais tornou-se totalmente incapaz de responder aos anseios do cidadão médio. Na semana passada, literalmente na calada da noite, o Congresso Nacional, que supostamente é a caixa de ressonância da sociedade, aprovou uma lei da terceirização que na prática rasga a CLT sem ter a coragem de fazê-lo às claras. Os especialistas nos dizem que a terceirização “é um fenômeno mundial, não uma invenção nacional” (Domingos Fortunato, sócio do Mattos Filho Advogados, citado por VEJA na sua edição de 29 de março). Em suma, um fato natural com o qual é preciso concordar e não há nada a ser feito, a não ser reconhecê-la formalmente e dar-lhe um verniz de respeitabilidade que até agora não teve sob a camisa de força da vilipendiada CLT.
De fato, os imbecis ou ignorantes é que não veem que é preciso aceitá-la e degustá-la, independentemente do risco de na prática ela criar atravessadores de mão de obra, as tais das empresas terceirizadas, ou cooperativas, que vão servir de anteparo entre os trabalhadores e as empresas que precisam dos serviços, garantindo o lucro da contratante e da contratada por meio da diminuição dos direitos do trabalhador. É um tipo de operação similar àquele que ocorria no Brasil nos séculos XVI e XVII, quando nossos engenhos de açúcar eram a ponta mais fraca do comércio colonial, vendendo o açúcar aos portugueses, que os repassavam aos holandeses, os verdadeiros donos do negócio, porque controlavam as redes de distribuição na Europa e, portanto, ficavam com a parte do leão dos lucros. Enfim, nada de novo sob o sol tropical, mas o grande empresariado que pressionou nosso presidente democraticamente eleito promete que empregos serão gerados pela limitação dos direitos trabalhistas. Vejamos se o nivelamento por baixo será compensado pela reversão da taxa de desemprego.
Do lado da reforma da previdência, na prática o pato será pago pelos trabalhadores da iniciativa privada, que não têm lobby no Congresso para garantir privilégios por meio da pressão, como o caso dos militares, dos policiais, dos funcionários públicos. Mas também é uma outra área em que devemos nos submeter à opinião dos especialistas, como o ex-Ministro da Fazenda, Maílson da Nobrega, que diz que sem a reforma da Previdência haverá uma grave crise inflacionária e os pobres serão os grandes perdedores. O recado é: eleitores, aceitem fazer sacrifícios para purgar os pecados dos seus conterrâneos que tinham e têm poder de barganha para garantir para si mesmos polpudas aposentadorias pagas por todos, para garantir imunidades tributárias e para dar-se ao luxo de sonegar contribuições previdenciárias e depois receber anistias. Se não quiserem sacrificar sua aposentadoria para consertar as burradas feitas antes, em prol dos privilegiados, pior para vocês, porque os privilegiados já têm onde se abrigar da tormenta que será causada pela implosão do sistema de seguridade social brasileira com o envelhecimento da população, enquanto vocês estarão sempre à míngua, debaixo de chuva e tiritando de frio. Curvem-se à realidade seus idiotas!
O pior, no entanto, em virtude da repercussão para a paz no mundo, foi o desmanche de Donald Trump. Sim, não há outra palavra a utilizar, eu que me manifestei neste meu humilde espaço a favor da sua eleição como meio de evitar a guerra nuclear. E o fiz com base nos princípios de política externa que ele propôs na campanha, em oposição à retórica de Hillary Clinton de confrontação com Vladimir Putin a respeito da Síria e da Ucrânia. Trump em seus lendários tweets, um deles reproduzido na abertura deste artigo, propunha que os Estados Unidos parassem de gastar dinheiro em guerras pelo mundo afora que só causam mais instabilidade e fazem os americanos mais pobres pela necessidade de financiar o complexo industrial-militar. O candidato que seria eleito pelos deploráveis propunha trabalhar em parceria com a Rússia para colocar um fim na guerra na Síria, propunha foco na reconstrução da infraestrutura dos Estados Unidos para gerar empregos, enfim, expressava ao anseio de uma parcela do povo americano para quem a presença militar do Tio Sam nos quatro cantos do globo já se tornou há muito um fardo pesado demais para ser carregado.
E vejam só, que em menos de 100 dias de governo Trump já rendeu-se aos neocons, àqueles que querem que os Estados Unidos sejam a eterna polícia do mundo. O ataque aéreo à Síria sob a justificativa de um suposto uso de armas químicas contra crianças pelo presidente Assad é uma óbvia capitulação do Donald Trump eleito pelo povo americano. Quais as razões? Apagar as suspeitas de que o famigerado Vlad teria ordenado a invasão dos computadores dos democratas para revelar os podres de Hillary e ajudar Donald Trump, seu pau mandado?
O fato é que o recém-eleito presidente dos Estados foi acusado de ser espião do monstro de Moscou desde o primeiro dia de seu governo. Histórias sobre a ligação de membros da equipe de Trump com a Rússia sempre vazaram para a grande imprensa, e foram tomadas como verdade, independentemente de confirmação de algum órgão oficial de investigação. Quando Trump acusou Obama de ter grampeado a Trump Tower e Obama negou por meio de assessor, os bem pensantes acreditaram em Obama e acusaram Trump de mentir, isso em um país em que o Foreign Intelligence Surveillance Act dá poderes totais ao comandante supremo da nação de mandar espionar aqueles considerados suspeitos de atentar contra a segurança nacional, por exemplo, agentes de potências estrangeiras. A revelação da conversa do General Flynn, indicado por Trump para chefiar o Conselho de Segurança Nacional, com o embaixador russo em dezembro, prometendo-lhe que as sanções contra a Rússia seriam revertidas no novo governo, mostram que de fato a equipe de Trump estava sendo vigiada sob os auspícios da lei de espionagem e essas informações de segurança nacional, confidenciais por natureza, foram vazadas para a imprensa e causaram o devido estrago na reputação do defensor dos deploráveis.
Foi muita pressão sobre o Aprendiz, tachado de traidor da pátria, de racista, xenófobo, louco, marionete de Putin e ele não aguentou, provou ser mais fraco do que os esperançosos acreditavam. Primeiro demitiu Flynn, acusado de conspiração com o inimigo por ter tido essa conversa com o embaixador russo, e agora decide mandar mísseis contra Assad, voltando atrás sobre tudo o que prometera durante a campanha. Hillary Clinton teria feito a mesma coisa na Síria, aliás ela já havia divulgado seu plano em um dos debates, e claro os especialistas na grande imprensa e na academia aplaudem a tomada de posição firme do presidente americano contra o envenenador de criancinhas. Às favas o povo americano que escolheu Trump para frear a sanha imperialista e enfocar os problemas comezinhos da falta de emprego e da queda da renda.
Prezados leitores, qual será o futuro da democracia no Ocidente, que faz ouvidos de mercador ao que o povo expressa nas urnas? Aparentemente, se nem os populistas conseguem fazer a ponte entre a elite e as necessidades do povo, qual o futuro reservado para nós? Resignarmo-nos a sermos governados pelos especialistas que alegam saber o que é melhor para a sociedade? Ou a implosão social? Enquanto o desfecho não acontece, torçamos para que o Oriente Médio não seja o estopim da guerra nuclear.