Sabe-se que 90% dos atletas olímpicos brasileiros receberam algum tipo de incentivo com recursos públicos, enquanto menos de 50% contaram também com recursos da iniciativa privada. Existe muita desconfiança por parte das empresas acerca do destino de seus possíveis investimentos em esporte, uma vez que as federações esportivas no Brasil são verdadeiras caixas-pretas e os escândalos se empilham nas notícias do dia a dia.
Trecho retirado do artigo intitulado Copa e Olimpíadas: o Brasil passou a vez de Billy Graeff
Defensoria do AM quer indenização de R$ 50 mil a famílias de presos -Valor será definido pelo governo nos próximos dias; Estado pode ter que desembolsar R$ 3,2 milhões
Manchete de artigo publicado na versão eletrônica do jornal O Globo de 12 de janeiro
Prezados leitores, meu humilde artigo de hoje tentará refletir minha perplexidade por meio de uma série de perguntas para as quais obviamente não tenho e ninguém tem resposta. Meu propósito em tudo o que escrevo aqui não é convencer ninguém, afinal como tentei mostrar na semana passada, argumentos que não sejam estritamente científicos em larga medida têm como fundamento valores e convicções que variam muita na nossa sociedade dividida em guetos. Dividirei as perguntas em temas para facilitar o entendimento.
Começarei pela onda das rebeliões em presídios, que parece estar espalhando-se pelo Brasil como um rastro de pólvora, quem sabe pelo fato de os presos estarem sentindo-se celebridades depois da farta divulgação dos seus feitos nas mídias sociais. Provavelmente a iniciativa da Defensoria Pública do Estado do Amazonas será imitada pelas Defensorias dos outros Estados onde houve assassinatos nas prisões e todas pedirão indenização do Estado para as famílias dos presos. Os brasileiros pagarão em todos os momentos, as vítimas dos que estão encarcerados são as primeiras a pagar, em seguida os contribuintes pagam os parceiros privados como a tal da empresa Umanizzare que gere muito mal várias cadeias no Brasil, mas claro é remunerada regiamente para fazê-lo, quando os presos fogem como está acontecendo agora pagamos com o aumento da insegurança e o contribuinte será chamado pelos defensores públicos a arcar com a conta mais uma vez para ressarcir os danos materiais e morais às viúvas, mães e filhos de presos.
Por quanto tempo mais aguentaremos pagar a conta? Por quanto tempo mais continuaremos a ser chamados a assumir o prejuízo quando as coisas dão errado, ou melhor quando as coisas dão errado para a maioria e dão certo para uma minoria? É certo que esse estado calamitoso nas prisões beneficia alguns, a começar pelas facções criminosas e as autoridades que fazem vista grossa ao que elas fazem em troca de compartilhamento do botim proporcionado pelas atividades ilícitas. Por quanto tempo conseguiremos sustentar essa política de multiplicação de direitos de grupos e coletividades específicas? Posso dar-lhes outros exemplos para não me acusarem de ser partidária da limpeza étnica nas nossas “masmorras”, como disse o ex-Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. O Ministério Público tem defendido os direitos daqueles atingidos pelo estouro da barragem em Mariana, o Judiciário concede liminares a quem tem doenças raras para que o Estado pague a realização de exames caros e a importação de remédios cuja eficácia nem sempre é comprovada. E quem defende o povo brasileiro como coletividade única e não como uma reunião de grupos que disputam entre si os escassos recursos? Ou será que já não é mais moralmente defensável pensarmos em um homem médio porque isso seria sexista ou racista ou intolerante? Será que estaremos condenados a permanecer nessa trilha de cada um puxar para si um cobertor cada vez mais curto? Ou pior, antes que o cobertor rasgue por completo, será que nossa democracia tupiniquim está rapidamente transformando-se em um narcoestado? Será que nosso PCC, CV e outras facções já estão chegando ao nível da La Zeta mexicana, que manda pendurar a cabeça de indivíduos abatidos em viadutos para dar exemplo? O próprio talvez futuro Secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, na ínfima menção que fez à América do Sul ao ser sabatinado no Senado mostrou-se preocupado com os recentes acontecimentos por aqui. Será que o governo americano considerará o Brasil mais um caso de failed state? Se positivo, qual será o efeito disso na prática? Haverá em nosso território o nível de interferência americana que há na Colômbia, por exemplo?
Os otimistas apontarão que a Operação Lava-Jato e seus desdobramentos no Judiciário mostram, ao contrário, a força das nossas instituições. Não há como negar que todas essas prisões, delações premiadas e as medidas anticorrupção quando finalmente transformarem-se em lei terão um efeito dissuasório ou ao menos camuflador das práticas corruptas. Por outro lado, uma dúvida surge. Será que a partir desse saneamento a política atrairá pessoas honestas e bem-intencionadas? Ou terá o efeito perverso de permitir a sobrevivência apenas dos mais fortes, no caso daqueles que conseguem arrecadar fundos suficientes para arcar com os maiores riscos do negócio, especificamente os inevitáveis problemas na justiça? Será que no final das contas todo esse esforço de anos pela limpeza moral do Brasil simplesmente criará uma barreira a mais para novos ingressantes, impedindo que neófitos aventurem-se na seara política, por medo de serem processados e não terem como arcar com os custos? É cedo demais para vislumbrar como todas essas medidas de combate à corrupção vão influir a prática democrática a longo prazo, mas se nós brasileiros continuarmos a votar com base em pesquisas de opinião e guiados por uma imprensa que tem sua própria pauta de interesses corporativos será difícil impedir que ocorra a seleção dos tiranossauros rex da política brasileira e a suspensão do advento do homo sapiens.
Aliás, por falar em grande imprensa brasileira, por que ela raramente cumpre uma função verdadeiramente pública? A cobertura dos megaeventos esportivos que realizamos, tanto antes como durante, foi na base do oba-oba, os problemas eram mostrados secundariamente, pois a prioridade era ter esperança de que tudo afinal daria certo, de que as obras ficariam prontas e de que daríamos um grande espetáculo para o mundo. Só agora um veículo como a VEJA espinafra de cabo a rabo o legado da Copa e das Olimpíadas, em um artigo na sua edição de 18 de janeiro, mostrando o abandono das arenas, os roubos que estão ocorrendo no Maracanã e a falta de destino do Parque Olímpico no Rio de Janeiro, como se este fosse o momento mais oportuno de lavarmos a roupa suja, quando só nos resta pagar a conta da incompetência e da malandragem. Não teria sido mais útil enfatizar antes o fato de que o público foi chamado a arcar com os custos desde o início e que a tal da iniciativa privada só entraria com sua fatura da construção dos elefantes brancos? Utilizo o verbo enfatizar porque o que quero apontar não é a total falta de informações sobre o desafio de construção de um verdadeiro legado positivo para o povo brasileiro, mas a falta do devido destaque aos efeitos de longo prazo desses megaeventos, em prol da cobertura sensacionalista da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos.
Prezados leitores, guerra entre facções criminosas, greve de policiais, rescaldos do impeachment, receitas públicas que caem vertiginosamente: parece que estamos vivendo um período de ressaca. Há alguns anos eu humildemente previ que teríamos o mesmo destino da Grécia que sediou os Jogos Olímpicos de 2004, ou seja, a bancarrota, que está levando aquele país a vender todo o patrimônio público que tem para pagar dívidas. Minha última pergunta desta semana será: estamos começando um círculo vicioso ou simplesmente chegamos ao fundo do poço e melhoraremos em 2017?