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Tudo em família

Posted by on 20/09/2016

Quem criou o FI-FGTS na Caixa foi o Moreira Franco. Toda a operação no Porto Maravilha foi montada por ele. No programa de privatização, dos R$ 30 bilhões anunciados, R$ 12 bilhões vêm de onde? Do Fundo de Investimento da Caixa.

Trecho da entrevista do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ao jornal O Estado de São Paulo em 18 de setembro. Cunha é, de acordo com o jornal, suspeito de ter cobrado da empreiteira Carioca Engenharia R$ 52 milhões de propina em troca da liberação de verbas do Fundo de Investimento (FI-FGTS) para o Porto Maravilha, projeto de revitalização da região portuária

Para parafrasear Mark Twain, todo mundo reclama da desigualdade, mas ninguém faz nada a respeito. O que eles fazem na realidade é usar a “desigualdade” para projetar sua própria visão sobre como tornar a sociedade mais próspera e ao mesmo tempo mais igual. Essa visão depende muito do fato de eles verem o grupo dos 1% mais ricos como inovador, inteligente e criativo, criando riqueza ao ajudar o resto da sociedade – ou de verem o grupo dos 1% mais ricos, conforme os grandes economistas clássicos escreveram, como a camada mais rica da população que consiste nos rentistas, que obtêm sua renda e riqueza dos 99% como proprietários ociosos, monopolistas e banqueiros predadores.

Trecho do artigo do economista canadense Michael Hudson intitulado “Celebrando o grupo do 1% mais ricos”, publicado em 19 de setembro

    Prezados leitores, finalmente os deploráveis parvenus estão sendo colocados para escanteio. O juiz Sérgio Moro, que acaba de voltar de mais um ciclo de palestras nos Estados Unidos, aceitou a denúncia do Ministério Público federal contra o ex-presidente Lula que, portanto, agora é réu e responderá a processo penal. (Um aparte: Podem chamar-me de fanática da teoria da conspiração, mas intriga-me sobremaneira como os americanos descobriram tão precocemente os dotes intelectuais do Senhor Moro. Talvez daqui a algumas décadas saibamos o porquê desse amor à primeira vista entre a inteligência jurídica estadunidense e o juiz curitibano). As chances de Lula candidatar-se em 2018 ficam menores, porque até lá ele poderá ter adquirido uma ficha suja. Assim, o perigo de o povo deixar-se levar pelo carisma de Lula será neutralizado pela atuação firme do Judiciário, que o condenará por ser o principal beneficiário do esquema heroico montado pelo PT para conseguir dinheiro para campanhas.

    Perdoem-me o adjetivo utilizado, mas considerando que o partido nunca foi da inteira confiança dos capitalistas tupiniquins, não é de surpreender que o PT tenha se valido do acesso à Petrobras proporcionado pela eleição de Lula para garantir dinheiro para o partido. A angústia das pessoas de esquerda em um país tão desigual quanto o Brasil é sempre muito grande. Por mais que ela contemporize com as demandas dos donos do poder, como Lula fez nomeando banqueiro para o Banco Central e mantendo a política econômica de FHC, o grupo dos 1% mais ricos sempre desconfiará de um indivíduo que viajou de pau de arara. Daí talvez a sofreguidão em obter fontes alternativas de recursos.

    Com Lula sendo imobilizado lentamente pelas pauladas jurídicas das delações premiadas, a novidade mais importante que importamos dos Estados Unidos nas últimas décadas, abre-se a oportunidade para a volta dos profissionais ao poder. Chega de erros crassos na língua pátria, de ganância mal disfarçada, voltemos àqueles que sabem fazer as coisas com sutileza e mesóclises. O homem forte do governo, nos diz o agora execrado Eduardo Cunha, é Moreira Franco, que está com Michel Temer em Nova York falando com os detentores do vil metal verde sobre o novo esquema de parcerias público privadas. Por favor, não me entendam mal. Em um governo formado por um eminente constitucionalista cujo português é irretorquível, a palavra esquema tem um sentido unicamente positivo. Significa um arranjo institucional que provê a segurança jurídica aos investidores para que possam considerar seriamente a possibilidade de colocar seu dinheiro em obras de infraestrutura no Brasil, criando empregos, aumentando a gama de serviços públicos colocados à disposição dos brasileiros e a cereja do bolo, criando riqueza.

    A esse respeito, peço-lhes a gentileza de não serem cínicos o suficiente para acreditar nas maledicências do ex cappo di tutti capi Cunha sobre Moreira Franco. Em um governo de notáveis, esquema de privatização nunca é um toma lá dá cá entre empresários espertos que tomam emprestado recursos públicos, fazem obras meia-boca e cobram pedágios e taxas exorbitantes pelos serviços, sem que as agências reguladoras tenham uma atitude lá muito firme com os concessionários, permissionários, contratados e quejandos. A era dos esquemas, do Mensalão, do Petrolão, chegou ao fim. Digo e repito, temos agora o privilégio de sermos governados pelos notáveis.

    Voltando a Moreira Franco, cujo cargo oficial é o de Secretário Executivo do Programa de Parcerias e Investimentos a árvore genealógica do ex-governador do Rio de Janeiro é impressionante. Nada de Silvas, não. Wellington Moreira Franco, doutor pela Sorbonne, foi casado com Celina Vargas do Amaral Peixoto, bibliotecária e socióloga, filha de Ernani do Amaral Peixoto e Alzira Vargas do Amaral Peixoto, a filha predileta do pai da nação brasileira, Getúlio Dornelles Vargas. O genro do genro, por sua vez, tem como genro Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia, atual presidente da Câmara dos Deputados e filho do ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, originário de ilustre família paraibana. Em suma, conexões notáveis.

    A esta altura devo confessar-lhes que tanto resplendor me assusta. Livramo-nos da esquerda corrupta, mas será que o impeachment nos levou a cair nos braços da direita corrupta? Um não bastava no governo de esquerda “modernizada” de Lula, agora temos dois banqueiros no poder, o Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, cuja meta fiscal garante apenas que as dívidas para os que vivem de emprestar dinheiro ao governo sejam pagas em dia. Para gerir as privatizações que farão caixa para o governo, o douto Temer escolheu um homem que tem um histórico no mínimo sujeito a questionamentos.

    De fato, será que Moreira Franco simplesmente passará os serviços públicos nos cobres para criar monopólios em favor de quem vive do dinheiro alheio? De que natureza serão as mudanças nas condições das PPPs? Será simplesmente para continuar com a velha prática de fazer os recursos do BNDES acessíveis em troca de pífias contrapartidas, tudo em prol da segurança jurídica para os investidores? Enquanto isso, nós, que não pertencemos ao grupo dos 1% mais ricos, seremos agraciados com a cota de sacrifícios: reforma da previdência, flexibilização da CLT, facilitação da terceirização de serviços, em tramitação no Senado, que nada é mais do que uma maneira de driblar direitos trabalhistas.

    Prezados leitores, para os 99% dos que não têm facilidade de crédito como os agraciados com PPPs e os grandes credores de títulos públicos, o futuro neste fim de 2016 parece bastante incerto. Esperemos que esta nova família que está no poder não seja um governo apenas para a família dos que conhecem as pessoas certas nos locais certos.

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