Diferentemente da China, os regimes de centro-esquerda da América Latina não diversificaram suas economias: eles permaneceram muito dependentes do boom de commodities para obter crescimento e estabilidade. As elites latino-americanas tomaram dinheiro emprestado e ficaram dependentes de investimento estrangeiro e de capital financeiro, ao passo que a China realizou investimentos públicos na indústria, infraestrutura, tecnologia e educação. Os progressistas da América Latina juntaram-se aos capitalistas estrangeiros e os especuladores locais para realizar especulação imobiliária não produtiva e consumir, enquanto que a China investiu em indústrias inovadoras no país e no estrangeiro. Ao passo que a China consolidou a liderança política, os progressistas latino-americanos aliaram-se aos adversários estratégicos locais e multinacionais no estrangeiro para ‘dividir o poder’, mas estes de fato estavam preparados para defenestrar seus aliados de “esquerda”.
Trecho retirado do artigo intitulado “A liderança da China nos mercados mundiais, a liderança dos Estados Unidos nas guerras mundiais e a debacle da esquerda latino-americana”, escrito pelo sociólogo americano James Petras
Prezados leitores, peço desculpas por uma citação tão longa que abre este meu humilde artigo, como se eu quisesse simplesmente reproduzir as ideias de alguém mais famoso e mais sábio do que eu. Ocorre que estou sempre à cata de maneiras de informar-me melhor sobre o que realmente ocorre no mundo varrendo determinados sites na internet que considero elaborados por gente séria. A imprensa escrita em todo o mundo, de propriedade de grandes grupos econômicos, parece cada vez mais empenhada em nos contar histórias da carochinha, talvez com o velado intento de impedir qualquer sentimento de indignação nas pessoas e garantir que as coisas permaneçam como estão. No Brasil a coisa não é diferente.
Alguns dirão que nossa imprensa evoluiu muito em termos de liberdade e que as revelações sobre o mensalão e o petrolão em todas as esferas governamentais é sinal disso. Pode ser que revelar as relações incestuosas entre empreiteiros e partidos políticos seja bom para a democracia e para diminuir a corrupção. Por outro lado, devo confessar que já cansei das revelações bombásticas, do sangue e do drama das delações premiadas, das planilhas de pagamento da Odebrecht, das decisões dos juízes, dos desembargadores e dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Aliás, o efeito prático de todas essas investigações sobre crimes do colarinho branco tem sido até agora dar um poder cada vez maior ao Judiciário, que aproveita para conseguir benesses à custa do povo. O poder dos órgãos de justiça é tanto que agora dão-se ao luxo de brigar entre si, Ministério Público contra STF, juízes de primeira instância contra STF e por aí vai, o que mostra um comportamento de coronéis que estão lutando ferozmente para garantir seu terreno e não vão se importar se deixarem no caminho um rastro de destruição e morte das vítimas da refrega. Nós brasileiros assistimos impávidos às veleidades dos doutores que querem dar carteirada uns nos outros, concedendo habeas corpus, vazando informações sigilosas e por aí vai.
Triste espetáculo proporcionado por um país em que os profissionais do direito têm um papel exagerado na definição dos nossos destinos e ficamos aqui, chafurdando nas disputas jurídicas. Não me entendam mal, não quero anistia geral para corruptos e corruptores, não quero amordaçar investigações, mas não há como negar que os ministros do Supremo, os procuradores do Ministério Público e alguns juízes de primeira instância viraram celebridades e como toda celebridade produzem factóides para manter-se sob as luzes da ribalta: dão entrevistas a torto e a direito, falam mal de coleguinhas, tudo para que o show continue e eles possam posar como os personagens mais importantes do Brasil. Estou farta de gente que bate boca e fofoca, acho que o Brasil precisa de gente que faz, que constrói que gera riquezas e empregos. Daí eu ter inveja da China sob certos aspectos, tanta inveja que abri este artigo com uma comparação entre os sucessos do Império do Meio e os fracassos da América Latina.
Apesar das imensas diferenças culturais, étnicas e linguísticas entre China e Brasil, acredito relevante comparar esses dois países emergentes, porque um e outro foram alvo do imperialismo ocidental, nós infelizmente nascendo como colônia europeia antes de nos formarmos como nação independente. A mim me parece que a China tem sabido lidar melhor com as potências ocidentais do que nós, aprendendo o que tem que aprender com elas, aprimorando aquilo que consegue absorver e descartando o que não lhe interessa. A China pirateia, hackeia, copia mal e porcamente, manteve sua moeda a um valor artificialmente baixo durante vários anos para incentivar as exportações e nunca se preocupou em dar muita satisfação sobre isso, pois o importante era conseguir o seu objetivo de não ficar para trás. O Brasil ao contrário tem sempre essa ânsia de agradar e ser aceito. Para ficar só nas últimas décadas, engolimos o receituário do FMI, o Consenso de Washington e nossa maior realização no momento foi ter gasto bilhões com a Copa do Mundo e as Olimpíadas para projetar nossa imagem no exterior. É verdade que a China também sediou os Jogos Olímpicos em 2008, mas eles então gozavam das polpudas reservas acumuladas ao longo de pelo menos duas décadas de crescimento econômico na casa dos dois dígitos, o que nunca ocorreu entre nós depois do milagre econômico da década de 1970.
Nossa imprensa pinta um quadro róseo da nossa república dos juízes. Quando o impeachment sair o Sr. Temer poderá de fato governar, instaurar a disciplina fiscal, aumentar a credibilidade do país e os investidores estrangeiros voltarão a comprar papeis brasileiros. Depois de alguns sacrifícios, a serem suportados pelos otários de sempre, voltaremos a crescer mediante o estímulo da privatização de serviços públicos e a corrupção terá diminuído depois da ação enérgica do judiciário. Ora, quem quer se informar sabe que o buraco é muito mais embaixo. Estamos à deriva, em crise existencial diante do fato de que ser fornecedor de commodities já não proporcionará os empregos e a renda que proporcionavam antes. Privatizar serviços públicos é bom desde que haja fiscalização das atividades do concessionário, senão vira um privilégio financiado por dinheiro do BNDES. E o endividamento do Estado só poderá ser debelado se o governo estiver disposto a enfrentar grupos de pressão, mas considerando o poder daqueles que mandam prender nesse cenário de caça às bruxas fica difícil imaginar políticos sendo corajosos para o bem público. Corremos o risco de sermos cada vez mais um país formado por uma elite que vive de emprestar dinheiro ao governo a taxas de agiotas e investe pouco na produção.
Enquanto isso lá no Oriente, em um país em que o Secretário Geral do Partido Comunista, Xi Jinping é um engenheiro, estão lá formando pessoas versadas em ciências exatas, construindo fábricas e infraestrutura, criando empregos e novos produtos, em suma preparando-se para o futuro com trabalho e esforço. Nós aqui estamos discutindo se pedalada fiscal é crime no sentido clássico da palavra ou apenas em sentido lato. Prezados leitores, oxalá depois que Dona Dilma seja defenestrada possamos estabelecer prioridades. De qualquer forma, o ideal seria que para colocar a mão na massa chamássemos os engenheiros.