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Basta de intermediários!

Posted by on 11/08/2015

Isso viola a essência do que fez a América um grande país em termos do seu sistema político. Agora é somente uma oligarquia, e a propina política sem limites é essencial para ser candidato a presidente e ser eleito presidente. O mesmo aplica-se aos governadores e senadores e deputados do Congresso dos Estados Unidos. Então agora estamos vendo uma completa reviravolta do nosso sistema político como pagamento para grandes doadores de campanha, que querem e esperam e algumas vezes conseguem favores para si mesmos quando a eleição acaba… Os eleitos, democratas e republicanos, veem esses rios de dinheiro como um grande benefício para eles próprios. Alguém que já está no Congresso tem muito mais a vender para um doador ávido do que alguém que é simplesmente um concorrente.

Jimmy Carter, ex-presidente dos Estados Unidos, sobre a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos de permitir doações ilimitadas de pessoas jurídicas a partidos

“Hillary Clinton, eu disse, esteja no meu casamento, e ela foi ao meu casamento,” disse Trump. “Ela não tinha escolha porque eu dava dinheiro à fundação.” […] “Eu dei a muitas pessoas antes disso. Quando eles ligam para mim eu dou. E vocês sabem de uma coisa? Quando eu preciso de alguma coisa deles dois, três anos depois, eu ligo para eles. Eles estão lá para me ajudar,” Trump acrescentou.

Trecho do debate realizado no dia 6 de agosto entre os candidatos do Partido Republicano a presidente dos Estados Unidos, em que Donald Trump responde ao questionamento sobre seu relacionamento com Hillary Clinton, a provável candidata democrata

    Prezados leitores, há mais ou menos três meses eu lancei a modesta proposta de facilitar o recall de líderes do Executivo federal no Brasil pela instituição do sistema parlamentarista inglês do tipo “the winner takes it all” para evitar essas lambanças a que estamos acostumados a assistir entre o Presidente e o Legislativo. Tenho agora uma segunda proposta a fazer em termos do tipo de pessoa a eleger para cargos majoritários, inspirada no modelo americano, de quem copiamos o famigerado presidencialismo. Pode parecer um contrasenso da minha parte, mas como não tenho a mínima esperança de que os brasileiros aceitem o governo dos deputados e senadores, ao menos posso sonhar que algum dia comecemos a eleger as pessoas certas, evitando os intermediários e atravessadores, que só encarecem o preço das transações políticas. Explico-me.

    Como todos sabem, o maior fenômeno político do momento na terra do Tio Sam é Donald John Trump, apresentador da versão original do Aprendiz, dono de uma fortuna de quatro bilhões de dólares obtida no ramo imobiliário, homem que já faliu quatro vezes, como foi revelado no debate de 6 de agosto, mas que definitivamente teve sucesso na vida. Trump é um fenômeno porque quanto mais declarações politicamente incorretas ele faz mais ele torna-se popular. E talvez essa popularidade diga respeito ao fato de que ele diga muitas verdades.

    Para não ferir as susceptibilidades de ninguém, não me deterei sobre a opinião que ele tem sobre os mexicanos que emigram para os Estados Unidos, ou sobre certas mulheres que o tiraram do sério. Se Trump pode ser acusado de racista e sexista, ao mesmo tempo ele colocou na agenda política o tema delicado do desemprego estrutural nos Estados Unidos causado pela desindustrialização do país que está perdendo a competição com a China, de acordo com o magnata. De fato, a taxa de desemprego lá, em julho de 2015, considerando aqueles que já desistiram de procurar por trabalho porque não tem esperança de encontrá-lo, é de 23%, de acordo com John Williams, que publica seus números em shadowstats.com.

    De qualquer forma, o que enfatizarei aqui, por causa das semelhanças com o Brasil, são suas declarações sobre as contribuições que ele faz para políticos e o que ele espera que esses recipientes de sua generosidade façam em retribuição. Trump colocou de maneira crua e sem rodeios que lá, como aqui, funciona o toma lá dá cá, o é dando que se recebe (lembram-se da mensagem franciscana do finado deputado Roberto Cardoso Alves?). Os que têm muita balha na agulha, como diz minha professora de ginástica, financiam a campanha de políticos que ao se elegerem defendem os interesses daqueles que lhes deram dinheiro para fazer a campanha, não daqueles que neles votaram. Isso cria um conluio de interesses altamente prejudicial à democracia, conforme apontado por Jimmy Carter, porque impede que a voz do povo seja ouvida, já que seus representantes fazem do eleitor um mero objeto de manipulação, de falsas promessas que tão logo cumpre seu dever cívico de votar, é descartado e esquecido.

    Nesse momento coloco muitas perguntas, que passo a relacionar. Se os deputados, senadores, governadores e presidentes servem a elite e a elite somente, para que termos intermediários? Não seria mais econômico elegermos diretamente os donos do dinheiro e do poder? Por que cumprir essa etapa de molhar a mão dos lacaios do poder, seres normalmente de classe média, como Hillary e Bill Clinton ou José Dirceu, além de ex-presidentes brasileiros, que por serem novos-ricos vão com grande sofreguidão ao pote? Seres que criam fundações para dar um verniz de respeitabilidade ao esforço arrecadatório, mas que querem mesmo é dinheiro para continuar elegendo-se ad infinitum? O ex-governador de Arkansas e sua esposa advogada começaram a amealhar fortuna durante o escândalo de Whitewater, umas trambicagens imobiliárias que conseguiram varrer para debaixo do tapete. Será que um biliardário como Donald Trump, que não precisa de dinheiro nenhum, que não precisa provar nada a ninguém porque é um sucesso retumbante, não faria um serviço melhor? Será que não teria o rabo bem menos preso? Ou mesmo que ele só defendesse os interesses do grupo do 1% ao qual pertence, será que tal transparência não faria bem ao resto da população que pertence aos 99%? Será que se finalmente as mácaras caíssem e os tais dos eleitores soubessem que eleger representantes não serve para nada não permitiria que fizéssemos uma “terapia em grupo” e rediscutíssemos a nossa relação democrática?

    Em suma, basta de intermediários, que vendem ilusões sobre democracia, participação, inclusão e nos impedem de enxergar a natureza crua do poder, como ensinou Maquiavel há mais de 500 anos. Torço para que Donald Trump consiga ser nomeado candidato dos Republicanos, embora ache isso bastante improvável, mas de qualquer forma ele prometeu no debate da quinta-feira passada que se não for o escolhido sai como independente. Apesar de ter sido o alvo preferencial da noite, ou talvez por causa disso, Trump continua firme na frente das preferências dos republicanos, com 24%, de acordo com o jornal O Globo. Aliás a força do seu carisma do grande ator que é o apresentador do Aprendiz é demonstrada pelo fato de a audiência do debate ter sido recorde, com 24 milhões de americanos assistindo ao show de Donald Trump.

    Plutocratas brasileiros, sigam o exemplo de Donald Trump e dispensem seus lacaios. Entrem para a política!

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