A revolução do fraqueamento não somente ajudou a estimular uma queda impressionante nos preços globais da gasolina, mas está diminuindo a influência da OPEP sobre os Estados Unidos e e o déficit comercial do país. Em novembro, os Estados Unidos importaram o menor número de barris de petróleo desde fevereiro de 2004, declarou o Gabinete de Análises Econômicas de Washington na quarta-feira. E as importações de países membros da OPEP caíram ao nível mais baixo desde 2009.
Notícia publicada no site de notícias Market Watch em 7 de janeiro de 2015
“Caso a Bolívia explore seus 1,5 trilhões de metros cúbicos de gás de xisto, 242 bilhões de litros de água serão contaminados para sempre e 2,6 bilhões de toneladas de gás carbônico serão emitidas, contribuindo para as mudanças climáticas”, afirma a Declaração contra o Fraqueamento na Bolívia.
Trecho do artigo “A Bolívia vai fraquear a Mãe Terra” publicado no jornal britânico The Guardian em 24 de fevereiro de 2015 sobre os planos do governo de Evo Morales de exploração do gás de xisto para incentivar a industrialização do país
Prezados leitores, nunca fui uma ambientalista de primeira viagem e sempre achei que comportar-se de maneira ecologicamente correta é apenas uma maneira de a pessoa dar-se ares de superioridade moral. Porque no final das contas, comprar vegetais orgânicos, artigos feitos com material reciclável e não comer carne não vão diminuir o nível de consumo de recursos naturais, apenas criam um nicho específico de mercado que satisfaz as necessidades de um grupo de pessoas que querem usufruir dos mesmos confortos dos não ecológicos, mas de uma maneira que lhes apazigue a consciência. Neste quesito de meio ambiente, sigo o preceito católico de considerar todos pecadores, inclusive eu, que acho um horror ver pessoas viajando para os Estados Unidos com o único objetivo de comprar coisas baratas.
Por outro lado, não há como negar que por mais que os ambientalistas sejam muitas vezes uns eco-chatos, seria estúpido negar que nossa interferência na Pachamama está ficando cada vez mais visível, levando-nos a nos perguntar se já não passamos dos limites do tolerável por nossa mamãe terra. O caso do fraqueamento hidráulico é emblemático nesse sentido, porque está ocorrendo em um país de Primeiro Mundo, os Estados Unidos, em que teoricamente todas as partes envolvidas têm voz nas discussões sobre o que fazer.
Para quem não sabe, o fraqueamento hidráulico é uma técnica que consiste na extração de gás de rochas porosas por meio da injeção de água misturada a produtos químicos. A indústria do fraqueamento permitiu ao Estado de Dakota do Norte registrar a menor taxa de desemprego dos Estados Unidos, um supéravit orçamentário de um bilhão de dólares e um PIB per capita 29% maior do que a média nacional, desde 2006. Mas há um lado negro neste quadro de pleno emprego e crescimento econômico, representado pelos efeitos ambientais da extração de gás por meio do fraqueamento. Esses efeitos estão sendo sentidos pelos pobres moradores da zona rural dos Estados americanos como Utah, Colorado, Wyoming e Pensilvânia, além claro de Dakota do Norte, que convivem com um barulho ensurdecedor e ininterrupto dos equipamentos utilizados pelas empresas de energia, com a liberação de gás metano que escapa pela torneira da cozinha, e principalmente pela contaminação dos lençóis freáticos tornando a água retirada de poços não potável. A luta desse moradores que viviam idilicamente no campo até terem sua paz perturbada pelos “fraqueiros” é particularmente difícil e até mesmo inglória, considerando que nos Estados Unidos o subsolo é propriedade privada, do dono do terreno e não propriedade pública, como ocorre no Brasil, por exemplo. Assim, a exploração torna-se mais ou menos uma corrida do ouro que não precisa ser alvo de concessão, autorização ou qualquer restrição por parte do poder público.
Os dilemas ambientais colocam-se de maneira clara nessa luta. Afinal, o que é mais importante para os Estados Unidos, garantir sua independência energética no futuro próximo ou garantir suas reservas de água? Até que ponto o fraqueamento significa o desperdício de um recurso precioso em um país que já sofre de estresse hídrico em Estados como a Califórnia? Até que ponto a riqueza criada pelo boom da exploração desse gás aprisionado nas rochas compensa a perda de recursos naturais? Por enquanto, os ganhadores têm mais influência que os perdedores, e as questões ambientais estão sendo minimizadas por aqueles que defendem que o processo é totalmente seguro.
Dos Estados Unidos passo para a Bolívia, nosso vizinho pobre, sem acesso ao mar, cuja renda per capita em 2014 era de 6.200 dólares, ante os 54.800 dólares dos Estados Unidos. Se o dinheiro fala mais alto em um país rico como os Estados Unidos, o que dirá nos Andes, em que na semana passada houve protestos dos trabalhadores da região de Potosí que exigem investimentos na região para a criação de empregos. Como Evo Morales pode deixar de ver como tentadora a possibilidade de explorar o gás de xisto no país? O aumento do PIB e dos empregos aumentaria as receitas públicas e lhe permitiria proporcionar mais saúde e educação à população, garantindo-lhe popularidade para reeleger-se indefinidamente. Como exigir que líderes, mais ou menos democráticos, preocupem-se com os efeitos ambientais de longo prazo de atividades econômicas quando sua preocupação cotidiana é a de mostrar resultados para tornarem-se elegíveis ou ao menos tolerados?
O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao Brasil e aos projetos de hidrelétricas na região amazônica. Belo Monte está 75% pronta e seus efeitos ambientais já se fazem sentir nas populações ribeirinhas do rio Xingu, por conta do assoreamento do rio, da diminuição da produção pesqueira, da remoção de milhares de pessoas de suas casas para dar lugar à barragem. Por outro lado, temos uma situação no Brasil de falta de oferta de energia que fez com que a conta subisse 75% desde dezembro do ano passado no Sul Maravilha. Há maneiras de conciliar os interesses das partes, como querem fazer-nos crer os ambientalistas, pelo investimento em fontes alternativas de energia como o bagaço da cana, o sol e os ventos? Será que considerando nossa capacidade atual de gerenciamento, planejamento, honestidade e conhecimento técnico não é uma quimera acharmos que poderemos fazer algo melhor do que hidrelétricas faraônicas para minimizarmos os males infligidos a brasileiros que tradicionalmente nunca tiveram uma voz muito ativa nos destinos nacionais?
Prezados leitores, para tentarmos resolver a questão do meio ambiente ou pelo menos fazer dele uma preocupação social onipresente, seria preciso que tivéssemos um tal nível de coesão social que conseguiríamos acomodar os diferentes interesses pelas concessões recíprocas. Em um mundo cada vez mais tecnológico e cada vez mais individualista, essa visão do todo está cada vez mais difícil, mesmo nos países desenvolvidos. No final das contas, Pachamama vai resolver ela própria o problema, seja causando uma diminuição considerável da presença humana na Terra por alguma catástrofe natural, seja de forma radical, causando a extinção do homo sapiens. O apocalipse está aí, ao menos para as populações mais vulneráveis, só não sabemos quando.