[…] uma função fundamental dos governos em todos os lugares é a resolução de conflitos. Mas as democracias oligárquicas com as quais o mundo acostumou-se, aqueles governos compostos de facções, não conseguem resolver conflitos. Quando uma eleição é uma disputa entre pessoas que representam facções contrárias, o conflito no governo é inevitável. As eleições exacerbam os conflitos. Não pode haver compromisso em relação às visões sectárias fundamentais. Mesmo quando possível, o compromisso entre aqueles que querem fazer algo e aqueles quenão querem fazer nada sempre resulta em políticas ineficazes que as facções então podem usar umas contra as outras. O “gasto inadequado” transforma-se em “gasto perdulário”, por exemplo. […] A separação das partes ou a opressão de uma pela outra torna-se a única solução para tais conflitos fundamentais.
Trecho retirado do artigo “ O fim da democracia estúpida: como a democracia falsa destrói a democracia real”escrito pelo filósofo americano John Kozy
Já que o Brasil fez sua escolha pelo PT entendo que o Sul e Sudeste (exceto Minas Gerais e Rio de Janeiro que optaram pelo PT) iniciem o processo de independência de um país que prefere esmola do que o trabalho, preferem a desordem ao invés da ordem, preferem o voto de cabresto do que a liberdade”, afirma o texto.
Twitter de Paulo Telhada, deputado estadual eleito pelo PSDB de Sâo Paulo
Prezados leitores, graças aos bons deuses acabou, este é meu último artigo sobre nossas eleições, eleições que parecem ter dado um desfecho de ouro ou de latão, a depender das preferências de cada um, a um ano que teve uma Copa do Mundo que nos mostoru que o Brasil como país do futebol é coisa do passado.Bendigo a chegada das oito horas do dia 26 de outubro, quando os resultados foram divulgados, não só pelo fim do programa eleitoral, que a mim atrapalhava-me sobremaneira de manhã, pois impedia-me de saber a previsão do tempo para o dia, algo extremamente útil. Como já disse n vezes neste meu pequeno espaço virtual, a eleição à Presidência da República Federativa do Brasil tornou-se uma disputa futebolística, em que há os perdedores e os vencedores, aqueles que “chupam”, ontem foi a tucanada que chupou, e aqueles que comemoram ruidosamente nas ruas, fazendo barulho e empunhando bandeiras, de alma lavada pela vitória do seu time, no caso, os petistas.
Chamo a tal contenda de Fla x Flu, PT versus PSDB. O Flamengo venceu pela quarta vez consecutiva, pois valeu-se da massa dos seus torcedores, que formam o maior contingente do Brasil. O Fluminense perdeu pela quarta vez consecutiva, porque é visto como um time de almofadinhas, para usar uma gíria antiga (eu poderia ter falado na elite branca criticada por Lula), que são desconectados da vida real dos brasileiros. Pelo menos é essa a imagem que fica. Para falar a verdade, eu não me arrisco a dar uma explicação sobre a vitória do PT. Deixo isso para os “especialistas”: marqueteiros, sociólogos, economistas, antropólogos. Não me arrisco porque há diferentes razões pelas quais as pessoas escolhem um candidato: para defenderem interesse próprio, para serem fiéis a um ideal, para expiarem culpas passadas, presentes e futuras. Quem sabe os mineiros, que afundaram Aécio Neves, tenham preferido Dilma Rousseff não por serem particularmente fãs da presidente, massimplesmentepelo fato de que, tendo elegido Fernando Pimentel para governador, seria mais sensato ter um presidente petista para conseguir verbas, perdão de dívida e outras benesses?
Entrar na cabeça de mais de 142 milhões de eleitores para sabera razão de terem votado no vermelho ou no azul é impossível, mas seria a maneira mais íntegra de explicarmos o resultado das eleições. Todo o palavrório que está sendo dito no dia da ressaca, segunda-feira, depende das opções ideológicas de cada um. Quem é viúvo ou viúva dos tucanos dirá que o PT ganhou porque usa o Bolsa Família para comprar lealdades, quem está do lado vencedor dirá que o povo não é mais bobo e sabe distinguir quem defende seus interesses, apesar da mídia querer fazer-lhe lavagem cerebral.Sendo infrutífera a busca das motivações íntimas dos eleitores,proponho-me uma reflexão sobre as consequências funestas dessa disputa futebolística.
Tais consequências eu já adiantei no início deste artigo, tomando emprestadas as palavras deJohn Kozy, que aponta em seu ensaio os males da democracia, tal como praticada no mundo comtemporâneo. Para ele, tais males derivam do fato de as pessoas serem muito diferentes, o que leva à formação de facções que disputam entre si. Kozy tem como objeto de estudo os Estados Unidos, mas o problema da diversidade talvez seja aindamais exacerbado no Brasil. Essa diversidade ficou patente não só no modo como as diferentes regiões votaram, mas como os brasileiros reagiram ao resultado. O Norte e Nordeste vestiu-se devermelho, o Sul, Sudeste e Centro-Oeste vestiu-se de azul. Os que perderam reclamam dos nordestinos, ao ponto do ex-coronel da Rota Paulo Telhada falar em separatismo. Uma vereadora do Rio Grande do Norte desenhou em um Twitterum mapa do Brasil em que a parte vermelha é Cuba, a parte azul é o “verdadeiro” Brasil. Os que ganharam nãodeixaram por menos. Choveram gozações nas redes sociais sobre os paulistas que votaram nos tucanos e estão morrendo de sede, enquanto os nordestinos estão por cima, porque podem gastar água à vontade.
Em suma, faltam verdadieras discussões proveitosas que levem a um consenso, sobram desconfianças, preconceitos mútuos, xingamentos, desentendimentos. O que será da política no Brasil em tal clima? Dilma e Aécio adotaram o tom politicamente correto da união, defendendo o diálogo e todo aquele blá, blá, blá sobre oposição construtiva. Vejamos como isos se dá na prática, mas quando eu assistia à transmissão dos resultados na Rede Bandeirantes, não pude deixar de notar que o Ministro Padilha, candidato derrotado ao governo de São Paulo, mal podia conter-se de felicidade:sorria o tempo inteiro e logo deixou sua cadeira para comemorar mais à vontade, depois de ter trocado acusações no limite da civilidade adequada à televisão com Álvaro Dias, senador pelo PSDB. Tenho certeza que se o tucano tivesse vencido, o sorriso de vitória seriao mesmo no paranaense. Não há mal nenhum em ficar contente com uma notícia, o problema é que o contentamento mostrado em nossas eleições sempre parece desmesuradamente triunfante, ao estilo de “ao vencedor as batatas”.
Prezados leitores, não vejo nada de bom nessas gozações mútuas, nesse sentimento de superioridade que um lado tem em relação ao outro, especialmente porque as diferenças entre PT e PSDB, que parecem abissais, são, em minha opinião, muito sobrestimadas. Ambos preocupam-se em acalmar os mercados, ambos estão em conluio com grandes grupos econômicos para se aproveitarem do Estado, e principalmente, parafraseando a finada candidata Marina Silva, ambos tem um bocadinho de incompetência para chamar de sua. O PSDB de São Paulo fez uma gestão no mínimo temerária da crise hídrica, o PT está tentando transpor um Rio São Francisco que é mais areia do que propriamente água.O jogo acabou, as torcidas estão deixando o estádio, os ânimos estão acirrados. Esperemos que o próximo jogo da democracia brasileira seja em clima de amistoso porque do jeito que está as coisas andarão mal parao nosso país.