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O Cometa Halley

Posted by on 06/10/2014

Pessoa, animal ou coisa muito rápida, que surge e some de repente

Definição de cometa tirada do Dicionário Houaiss

Horas depois, no meio da tarde da última terça-feira, a candidata do PSB mostoru que absorveu cada um dos conselhos e abandonou um dos pilares da sua nova política, o de fazer o debate, não o embate. […] No mais agressivo discurso nesta campanha presidencial, chamou o grupo da adversária de “essa gente”, desqualificou a trajetória política de Dilma e a acusou de mentir.

Trecho retirado do artigo “Em busca dos votos perdidos”, publicado no jornal O Globo de 5 de outubro

Poeira Poeira Poeira Levantou Poeira

Refrão da música “Sorte Grande” de Ivete Sangalo

    Prezados leitores, permitam-me fazer um mea culpa, até eu, que tanto critico nossa fissura por pesquisas,deixei-me fascinar pelosíndices de aprovação. Em uma campanha eleitoral em que todas as ações foram pautadas pelos númerosdo Datafolha e do Ibope, para falar dos institutos mais importantes, o sobe e desce nas pesquisas acabou sendo o único assunto comentado pelas pessoas, mais do que o outro assunto que foi as declarações do candidato Levy Fidelix sobre os homossexuais. Digo que deixei-me fascinar porque cheguei a acreditar que Marina Silva teria fôlego para chegar ao segundo turno ao colocar-se como a terceira via, além das picuinhas entre PT e PSDB.

    Devo explicar o porquê de eu ter acreditado. Em primeiro lugar, Marina pareceu encarnar aquele mítico novo que os brasileiros sempre procuram em uma eleição para cargos majoritários. Sejamos honestos: apesar de sempre louvarmos a democracia, o fato é que na prática não lhe damos a devida atenção e cuidado: na hora de escolhermos deputados estaduais ou federais, muitos votam nulo, ou no máximo dão-se ao trabalho de votar na legenda. Isso reflete a profunda desconfiança que os brasileiros têm dos membros do parlamento. De acordo com uma pesquisa do Data Popular feita com 15.652 pessoas em 159 cidades, 82% dos brasileiros desconfiam de deputados estaduais, 75% desconfiam de deputados federais e 65% desconfiam dos senadores.

    Ou seja, escolhemos mal os membros do Poder Legislativo, poder este que representa a população brasileira de maneira totalmente distorcida, privilegiando os Estados do Norte e Nordeste em detrimento do Sul e Sudeste. A única escolha que para os brasileiros realmente importa é aquela para governadores e presidente, é nela que depositamos nossas esperanças. Pela sua origem humilde de self-made woman, pelo fato de não ter ocupado cargo eletivo no Executivo, achei que Marina seriao foco dessas esperanças em 2014,.

      Em segundo lugar, achei que Marina iria emplacar porque seu discurso new age de sustentabilidade soaria bem aos ouvidos dos moradores das grandes cidades que querem usufruir dos benefícios da preservação do meio ambiente sem ter que arcar com os ônus de tal preservação, e jovens em geralsempre antenados com o novo. Enganei-me redondamente, pois Marina terminou mais ou menos no mesmo patamar onde estava em 2010. Cabe no momento a pergunta: o que ela fez de errado para subir vertiginosamente e de repente começar a cair pelas tabelas, deixando atrás de si somente a poeira do cometa?

    Acredito que os erros de Marina na verdade revelam muito sobre as caracteristicas do nosso processo democrático. O ideal em uma democracia seria que cada candidato tivesse seu programa pronto desde o início para que os competidores se posicionassem claramente e houvesse discussões em tornos dos pontos específicos de saúde, educação, economia etc. Como bem sabemos, não foi nada disso que aconteceu. Afinal, que importância havia em programas de governo se a própria presidente até o final do primeiro turno não lançou o seue Aécio lançou seu programa em capítulos na última semana de campanha? Num contexto desses, Marina, que queria debate, e não embate, e foi a primeir a lançar suas propostas, não levou muita vantagem. Mesmo nos debates televisivos foi rara a manifestação de alguma ideia crível, e sua intenção acabou tornando-se letra morta.

      De fato, as perguntas programáticas que foram feitas nos debates acabavam sendo logo esquecidas porque na maior parte das vezes elas eram uma simples oportunidade para o respindente criticar o candidato que fizera a pergunta, seu oponente nas pesquisas.  Só havia respostas mais detalhadas sobre programas de governo quando dois candidatos faziam conluio para atacar um terceiro indiretamente. Foi o caso, por exemplo de Aécio Neves e o Pastor Everaldo, que trocavam gentilezas mútuas sobre políticas públicas aproveitando para alfinetar Dona Dilma. No final das contas depois de debates na Record, Band, Globo e SBT eu pergunto a vocês: sabem o que cada um dos candidatos faria se eleito? De Aécio a única coisa que me ficou foi que ele vai nomear Armínio Fraga, o mago das finanças, como Ministro da Fazenda. Luciana Genro com certeza teria como primeiro ato de governo mandar prender Levy Fidelix pela sua “homofobia” e talvez mandasse prender também todos os banqueiros. Marina prometeu que iria pagar um décimo terceiro salário aos beneficiários do Bolsa Família, mas não explicou de onde viria o dinheiro. Eduardo Jorge com certeza liberaria a maconha e Levy Fidelix proporia ao Congresso uma lei contra a propaganda do homossexualismo às crianças, como fez Vladimir Putin, na Rússia.

    Em suma, em uma campanha política em que explicações sobre o que será feito, com que dinheiro e para quem será feito são raras, a boa intenção de Marina de propor caiu por terra ante a necessidade premente de responder aos ataques de Dilma e de Aécio. E convenhamos, Dona Marina pecou muito na organização, o que minou ainda mais sua tentativa depolítica do século XXI em um país que ainda não tem cultura nem para fazer a velha política parlamentar do século XX: seu programa teve erros e precisou ser corrigido depois de lançado, suia convivência com os caciques do PSB, o partido hospedeiro, foi para lá de complicada, pois ela recusou-se a subir em muitos palanques regionais onde o PSB havia feito alianças com pessoas que ela não considerava boas, para não falar do seu fracasso em montar seu próprio partido a tempo para a eleição. Talvez fosse o caso de Marina candidatar-se a governadora do Acre nas próximas eleições e adquirir maior tarimba para lidar com o mundo cão da democracia brasileira para que sua experiência lhe sirva para aprimorar sua prática da política baseada nas alianças de pessoas que têm ideias comuns.

      No frigir dos ovos, depois da passagem do Cometa Halley perto do Cruzeiro do Sul, teremos como sempre o velho FLA FLU, tão nosso conhecido. Preparemo-nos para vermos no programa eleitoral manchetes de jornal sobre escândalos de corrupção, Alstom, Petrobrás, notícias de contas na Suíça e por aí vai. Viva nosso ringue tupiniquim!

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