Sua descrição de como ela foi bombardeada com mensagens de texto de Hollande implorando-lhe que voltasse para ele durante os seis meses seguintes à “demissão” pública de Valérie – “Ele foi pego em flagrante; Eu fui a demitida,” ela escreve – fornece uma prova a mais que o Presidente não consegue comprometer-se com nada, um relacionamento, um rompimento, de forma que como podem os eleitores acreditar que a troca de ministros na semana passada e a virada econômica à direita significam que ele finalmente decidiu seguir uma linha política clara?
Trecho tirado do artigo “Como Valérie selou o destino do Presidente”, escrito por Anne-Elisabeth Moutet e publicado no jornal britânico Daily Telegraph na edição de 5 de setembro de 2014
Os evangélicos são 22,2% da população, segundo o Censo 2010. Somam 28 milhões de eleitores. Desde o ingresso de Marina na disputa, as campanhas dos três principais candidatos iniciaram uma corrida por esse voto.
Trecho retirado do artigo “O Voto Evangélico ainda em Formação”, publicado no Estado de São Paulo em 7 de setembro de 2014
Ele tem o charme do JK e o jogo de cintura do Tancredo. Só faltam uns fios de cabelo branco e uma primeira-dama para ele assentar.
Opinião proferida em 2008 pelo publicitário Nizan Guanaes sobre Aécio Neves
Prezados leitores,para aqueles que acompanham os acontecimentos na Europa, uma das notícias mais quentes da semana foi a publicação do livro da ex-companheira do Presidente francês, Valérie Treierweiler, denominado Merci pour ce moment, sobre seu relacionamento de sete anos com François Hollande até que ele começasse a dar uns passeios clandestinos de scooter para encontar-se com Julie Gayet, passeios estes que foram flagrados por câmeras indiscretas em janeiro de 2014. Valérie, nascida Valérie Massoneau, descendo às mais baixas torpezas para vingar-se do homem que a humilhou publicamente, revela como Hollande mostrou-se profundamente aborrecido quando foi jantar na cada da família da companheira, filha de um aleijado que perdeu uma perna na Segunda Guerra Mundial e de uma recepcionista de rinque de patinação. Hollande comenta com Valérie, gozador: “estes Massoneaus não são muito bonitos, não é mesmo?” De acordo com o livro, o Presidente socialista refere-se aos pobres como desdentados, o que ensejou a criação de uma hashtag no Twitter #sansdents.
É verdade que os franceses normalmente não condenam moralmente os políticos que dão suas escapadelas, muito pelo contrário, os puladores de cerca tradicionalmente foram resguardados pela imprensa, sob a justificativa de que a vida privada do indivíduo não tem nada a ver com sua vida de homem público. No caso de François Hollande, foi aberto um precedente, tanto que o livreo já está na primeira posição entre os mais vendidos. Suas trapalhadas são tantas e tamanhas que os franceses parecem ter se convencido de que o fato de o homem não conseguir estabelecer regras de convivência entre a mãe de seus quatro filhos, Ségolène Royal, a amante oficial, Valérie, e a mais nova conquista, Julie Gayet, longe de mostrar as proezas sexuais e capacidade de sedução de um galanteador francês, mostram um indivíduo indeciso, incapaz de organizar sua própria família estendida, que dirá um país. De fato, em 2012 François permitiu que sua então companheira Valérie apoiasse por meio do Twitter um candidato socialista dissidente, Olivier Farloni, oponente de Ségolène Royal nas eleições em La Rochelle. Olivier ganhou as eleições, o que causou um grande mal-estar no Partido Socialista, já que Hollande havia manifestando-se a favor da mãe de seus quatro filhos. Depois da separação de Valérie no início do ano, ela retirou-se para escrever seu livro-bomba, pegando-o de surpresa e obrigando-o a afirmar publicamente que dedicou sua vida a ajudar os pobres. Isso em um momento em que a França vive uma crise: o PIB cresceu míseros 0,3% e a produção industrial caiu 0,4%, o déficit público foi de 4,1% do PIB e o desemprego atingiu 10,2% em 2013.
Prezados leitores, trago este exemplo da França, em que a vida pública de poucas realizações do chefe de Estado parece ser um reflexo da vida privada cheia de indecisões e mentiras, para uma reflexão sobre nossas eleições presidenciais. Será que deveríamos adotar o mesmo critério que os franceses, ao menos temporariamente, estão adotando em relação ao seu pífio presidente e ver a vida pública e a privada como duas esferas ligadas? Será que talvez esse seja o único critério que nos reste para decidirmos em quem votar? Afinal, os três principais candidatos parecem ter todos o mesmo programa, tanto assim que todos fazem salamalaques ao mercado, o que é um eufemismo para nos referirmos aos donos do dinheiro. Do lado de Marina Silva Walter Feldman, o coordenador de campanha, e o tesoureiro, o ex-presidente do Citibank Álvaro de Souza, já foram prestar as devidas homenagens ao Bank of America, empresas de shopping e de construção. Há reuniões marcadas com o Bradesco, o Citibank e o GP Investimentos, de propriedade de Jorge Paulo Lehman. Quanto à Dilma, avisou nesta semana que Guido Mantega, que não tem agradado aos empresários, nã continua em um segundo mandato. Aécio no primeiro debate da TV anuciou com todas as letras que o homem forte da economia será Armínio Fraga, mais ortodoxo impossível.
Nesse sentido, só nos resta tentar vislumbrar alguma coisa do caráter do candidato para saber que tipo de líder ele será na Presidência. Em 2009 o jornalista Juca Kfouri acusou o candidato tucano de em uma festa do estilista Francisco Costa no Hotel Fasano no Rio dar um safanão em Letícia Weber, a mulher com quem casou em outubro de 2013. Será que Aécio é um baladeiro incorrigível, fútil, incapaz de ter prazer em uma pacata vida familiar? Será que seu hedonismo o levará a ser mais um político corrupto na chefia do Executivo, preocupado somente com seus interesses pessoais? Ao contrário, será que o estilo ascético de Marina, sua verve religiosa (ela chegou a morar em um convento em Rio Branco, no Acre, o das Servas de Marias Reparadoras), o fato de usar salmos da Bíblia para sua ação política, de considerar que há uma predestinação na sua candidatura devida à morte de Eduardo Campos, já anuncia que ela será a líder que acabará com a corrupção, que fará com que a moralidade reine entre nós?
Muitas perguntas e nenhuma resposta, mas é óbvio que muitos brasileiros caminham por essa direção de traçar um paralelo entre a vida privada e a vida pública para decidir sobre seu candidato, mais com base nos valores morais, religiosos do indivíduo do que no programa de governo. Se isso provar-se-á mais uma maça envenenada árvore do nosso personalismo político ou se mostrará uma maturidade do nosso sistema político, em que os partidos parecem ter chegado a um consenso sobre o que deve ser feito, e as diferenças são pontuais, só o tempo dirá depois que verificarmos na prática o desempenho do candidato escolhido.