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Turismo

Posted by on 10/02/2014

         Prezados leitores, como lhes havia informado na semana passada, estou em férias na Sicília. Não é possível expressar o alívio que senti quando senti a frescura do frio pela primeira vez ao sair do aeroporto e entrar em contato com o clima real.Imediatamente esqueci o calor infernal do Brasil, a estiagem, o racionamento de água e energia, o lançamento do PAC3 sem que tenham sido completados nem o PAC 2 e muito menos o PAC 1. Estou em modo viagem, por assim dizer, deleitando-me com o sol siciliano, que tem brilhado todos os dias, apesar da temperatura que gira em torno de 15 graus. Um clima perfeito se você está bem agasalhado e pode de vez em quando tomar um expresso.

       Viagens são feitas para esquecermos nossa vida comezinha, nosso ramerrão diário, são feitas para nos darmos um tempo que normalmente não temos. Tempo para apreciar coisas belas, para nos determos sobre pequenos detalhes de um prédio, de uma paisagem. Tempo para esquecermos que precisamos ganhar dinheiro e para nos darmos ao luxo de gastarmos despreocupadamente, esquecendo que o euro vale quase 3,5 reais. Tempo para nos darmos a chance de sentarmos em um banco de praça e comermos uma tangerina para aplacar a fome do turista que, andarilho incansável, tem sempre um apetite leonino.Tempo para lembrarmos do Brasil com saudade das coisas boas, quando anteontem em um restaurante, enquanto eu comia um delicioso macarrão com anchovas, daqueles que minha mamãe sempre tentou fazer e nunca conseguiu, eu ouvia a música ambiente e tinha certeza que ela era versão em italiano de MPB de autoria do nosso grande Djavan.

        Na quinta-feira fui à catedral de Monreale, construída pelos normandos, que reinaram na Sicília de 1130 a 1250. Ontem fui ao Palácio Real, onde ficava a sede do governo. Não me cansei de ver mosaicos em ouro de Jesus Cristo Pantocrator, Nossa Senhora e todos os santos da Igreja Católica. Não sou religiosa, mas qualquer pessoa apreciadora da beleza se impressiona com os dedos em riste de Jesus, sua face séria, concentrada, firme, falando a verdade. Dada a quantidade de igrejas que há na Itália, dá pena pensar que daqui a 50 anos provalvemente só as mais espetacularmente belas se salvarão da ruína, afinal a fé do povo se esvai cada vez mais, e veem-se muitas igrejas fechadas, provavelmente por já estarem em um estado lamentável de conservação e por não haver público que cuide delas. De qualquer forma é uma herança e tanto: a Capela Palatina em Palermo, dentro do Palácio Real, tem elementos muçulmanos (as formas geométricas), gregos (os mosaicos e as inscrições) e normandos (as janelas em ogiva). No mesmo palácio assisti a uma exposição comemorando os 50 anos da realização do filme O Leopardo de Luchino Visconti, exatamente sobre a Sicília, na época da unificação italiana, no final do século XIX. Pude ver dois dos figurinos originais usados por Cláudia Cardinale para interpretar Angélica, e ter uma noção dos preparativos do diretor para a escolha dos cenários.

         Prezados leitores, mas nem tudo são flores, claro. Para que eu possa me deleitar com as construções de Palermo preciso fazer certas concessões à realidade. Uma delas é não ficar em um hotel, mas alugar um apartamento que é muito mais barato, e isso significa arrumar a casa, ir ao supermercado LIDL onde os produtos são mais em conta, carregar as compras até o ponto de ônibus, fazer comida em casa, lavar a louça.E devo confessar que o Brasil tem uma grande vantagem em relação a qualquer velha civilização europeia como a Itália, que perdeu a Segunda Guerra Mundial e portanto está mais presa pela canga dos americanos. Nós não respeitamos direitos autorais, portanto a maioria dos documentários e programas disponíveis na internet são facilmente acessíveis na terra do samba e do pandeiro, ao passo que aqui na Itália, quando eu sonhava em passar minhas noites tranquilamente assistindo a tudo aquilo que não consigo em Sâo Paulo, qual foi minha frustração ao perceber que tudo é barrado. Até o site kboing de músicas é inacessível, provavelmente deve ser pura pirataria. Mas tudo isso são detalhes que não abalam minha convicção de que viajar é preciso, para qualquer lugar que seja, para transportarmo-nos à tranquilidade das estrelas.

          Para não me acusarem que só fiquei navegando nas estrelas, acompanhei a grande novidade deste domingo na Europa, que é o resultado do referendo ocorrido na Suíça a respeito do restabelecimento de cotas de imigração, que haviam sido suspensas depois de um tratado biletaral do país com a União Europeia.Desde 2002, entraram 80.000 estrangeiros no país quando as autoridades haviam prometido apenas 8.000 no máximo por ano, o que fez com que a porcentagem de imigrantesno país aumentasse de 20% para 23,5%. A consequência das tergiversações dos governantes é que 56% dos helvéticos, a maior participação desde 1971, votaram e decidiram, por 50,3%dos votos, estabelecer limites à imigração, introduzindo um sistema parecido com o do Canadá de triagem de quem pode e de quem não pode entrar com base na qualificação.

        O resultado deste referendo pode abrir a porteira para outros grupos dentro da Europa que não estão contentes com o estado de coisas atual, e facilitar a vida de partidos de direita no Reino Unido (UKIP) e na França (Front Nationale). Resta saber qual será a reação concreta da União Europeia, que ultimamente andamuito combalida depois do”Fuck the EU” dito pela diplomata americana Victoria Nuland. Quem sabe os suíços não se sentiram encorajados com esse desprezo e resolveram mandar seus grandes empresários, partidos, governo e principalmente a UE às favas? Veremos os próximos desdobramentos. Preciso agora voltar ao fogão para preparar meu jantar e economizar os euros para os meus passeios!

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