“Quando penso no futuro de Fukushima, parece que a liberação da radiação será praticamente inevitável. Os níveis de radiação nos prédios 1, 2 e 3 está agora tão alto que nenhum ser humano pode entrar nos núcleos derretidos ou chegar próximo deles. Portanto, sera impossível remover esses núcleos por milhares de anos, se é que será possível.”
(..) um dos primeiros passos que o governo japonês deveria realizar para impedir consequências graves será cancelar os Jogos Olímpicos de Tóquio de 2020.
Helen Caldicott, física australiana opositora da energia nuclear
Em agosto de 2013, quase dois anos e meio após o acidente nuclear, verificaram-se vários vazamentos de material radioativo e, ainda, a possibilidade de um grande transbordamento de água contaminada com material radioativo para o Oceano Pacífico, colocando em estado de emergência o complexo nuclear de Fukushima e acirrando as pressões sobre a Tepco. O governo do Japão acredita que os vazamentos de água estejam ocorrendo há dois anos.
A Tepco havia construído uma barreira subterrânea junto ao mar, mas a água proveniente dos reatores danificados está passando por cima da estrutura de contenção. Segundo um dirigente do Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão, o volume de água despejado diariamente no Pacífico é de aproximadamente 300 toneladas por dia. Segundo o jornal Asahi Shimbun, uma força-tarefa do governo japonês calculou em três semanas o prazo para a água contaminada chegar à superfície.
Retirado do verbete “Acidente em Fukushima” da Wikipedia
Quando eu resolvi ter meu próprio espaço virtual para escrever, convenci-me a fazê-lo respaldada na convicção de que eu poderia apresentar um ponto de vista diferente ou fatos pouco divulgados que pudessem ser úteis aos meus leitores: úteis para saberem de algo que não sabiam ou para pensarem algo que nunca tinham pensado. Inovar é algo muito difícil, especialmente em um mundo em que temos excesso de tudo, ainda que obviamente muito mal distribuído. Sempre que sento na cadeira para escrever um artigo pergunto a mim mesma: o que estou trazendo que não pode ser lido nos jornais e nos sites de notícias mais conhecidos na internet? Se eu não consigo me convencer de que o que vou escrever vai além da minha própria personalidade e serve para outros eu desisto. Afinal, auto-idolatria e narcissismo brotam como erva daninha na internet, todos querendo chamar atenção para si, para quão especiais eles são. E na verdade como diz o velho ditado, o cemitério está cheio dos insubstituíveis…
Dito isso, minha contribuição dessa semana procura passar ao largo de assuntos que deram notícia. Acho engraçado como nós, os bem pensantes, falamos mal das celebridades e no entanto ficamos obcecados com elas. Neste domingo li um artigo de página inteira, escrito por um acadêmico, sobre Alexander de Almeida, considerado um dos reis da noite de Sâo Paulo pela Veja. Mesmo que o artigo fosse de crítica, o fato é que para uma celebridade, independentemente do julgamento moral que se faça sobre ela, o importante é que ela fique em evidência. Julgamentos morais hoje são irrelevantes em vista do valor principal que é consumir, portanto quando falamos sobre celebridades estamos fazendo o jogo delas. A única maneira de não encorajarmos o seu culto seria simplesmente ignorá-las.
O mesmo ocorre com outro tipo de celebridade, os políticos. Nossos jornais dedicam páginas e página às novas leis, aos novos programas, às alianças dos polítcisos, suas marchas e contramarchas na dança pelo poder. Sou da opinião que se deixássemos de dar importância aos políticos como pessoas e passássemos a focalizar as políticas concretas que são executadas no Brasil, como elas de fato se desenrolam, que resultados elas alcançam independentemente de quem tenha tido a ideia original, tenho certeza que nossa conscientização sobre nossos problemas e as possíveis soluções aumentaria. Mas isso seria pedir muito, porque afinal é muito mais palatável e divertido ver a política como um embate dos poderosos, tucanos versus petistas, Dilma versus Aécio, conservadores versus progressistas: sempre haverá os perdedores e os ganhadores e esse tipo de raciocínio é muito enraizado em nossas mentes.
Meu assunto é a tragédia de Fukushima, que se desenrola desde 11 de março de 2011. Não tenho condições de entrar nas minúcias do que ocorreu lá porque não sou física nem engenheira nuclear. Meu objetivo aqui é chamar a atenção dos meus leitores para algo tão importante, que terá repercussõesmundiais e que no entanto é tratado de maneira secundária. Repercussões mundiais não só pela água radioativa que está sendo lançada no Oceano Pacífico, pelos reatores que ainda estão queimando, sem possibilidade alguma de serem desligados. As emissões radiativas podem tornar a vida no Norte da Terra perigossísima, e não haveria a possibilidade de transferir um bilhão de habitantes para o Sul do Equador, que ficvaria a salvo da radiação.
Outro dia assisti na televisão a uma reportagem sobre donas de casa em Seul, na Coreia, que compram peixes somente em lugares em que há medidores de radiação e não há produtos originários do Japão. Infelizmente desastres ambientais não dizem respeito a uma determinada região, mais cedo ou mais tarde todos que estão na Mãe Terra, como diria o historiador britânico Arnold Toynbee, serão afetados. Afinal, as águas radioativas que estão sendo despejadas no Pacífico correrão o mundo.
Nem os japoneses e muito menos a comunidade internacional está sendo informada da seriedade da coisa. Tóquio foi escolhida como sede das Olimpíadas de 2020 como se o Japão continuasse a ser um país normal, quando na verdade tornou-se um país condenado a ver a incidência de câncer aumentar exponencialmente, a ver partes do seu exíguo território serem consideradas absolutamente inabitáveis.Aliás, se não tivesse havido o tsunami e os reatores sido invadidos pela água, hoje pelo menos metade do Japão já estaria totalmente imprestável. O Japão é um páis amaldiçoado para sempre por Fukushima e no entanto, a mentalidade é de “business as usual”.
Prezados leitores, talvez muitos de vocês já sabiam do que está verdadeiramente ocorrendo em Fukushima e portanto minhas informações são irrelevantes. De qualquer forma, meu objetivo foi mostrar que um tipo de acontecimento em que não há protagonistas, não há heróis nem vilões especiais, mas apenas incompetência democraticamente distribuída entre o governo e o setor privado, passa despercebido pela mídia. Eu posso estar sendo pessimista, e só o tempo é o senhor da razão, mas um acontecimento tão enfadonho e técnico como um acidente nuclear poderámudar para sempre a vida na Terra.