Send Blair to the Hague
Dizeres de uma camiseta a ser dada como brinde àqueles que contribuírem financeiramente para a realização de um documentário sobre a trajetória do ex primeiro-ministro britânico Tony Blair
O principal eixo de atuação do Instituto Lula é a cooperação do Brasil com a África e a América Latina. O exercício pleno da democracia e a inclusão social aliada ao desenvolvimento econômico estão entre as principais realizações do governo Lula que o Instituto pretende estimular em outros países.
Missão do Instituto Lula
Prezados leitores, antes de falar sobre meu tópico dessa semana, e até mesmo como introdução a ele, devo fazer uma ressalva a respeito do que escrevi no dia 8 de setembro relativamente ao pronunciamento de Lula sobre a espionagem americana no Brasil. Para quem acompanha os jornais, esse caso vem tendo desdobramentos, porque Dilma parece ter decidido não se encontrar com Obama em Washington em outubro em vista das flagrantes mentiras contadas pelo Prêmio Nobel da Paz para minimizar a extensão da bisbilhotice americana. No final das contas, pelo menos de acordo com as revelações do jornalista Glenn Greenwald após a detenção do seu namorado, David Miranda, por nove horas no aeroporto de Londres, a Petrobrás, a maior empresa brasileira e administradora da exploração do pré-sal, é um dos alvos principais. Portanto, há sim, espionagem comercial em larga escala, e não só levantamento de informações para melhor conhecer os parceiros dos Estados Unidos.
Minha ressalva é motivada pelas observações de um leitor, que me apontaram que talvez a fala do Lula seja mais motivada pela pauta do seu marqueteiro, João Santana, do que por uma indignação real em relação ao modo de agir do Tio Sam. Falar mal dos americanos sempre dá ibope, e Lula, como bom político, quer ser popular. Pode ser que haja um pouco dos dois, do anseio de estar na mídia por não estar ocupando no momento nenhum cargo público, e da crença de que os EUA muitas vezes extrapolam as boas práticas do direito internacional. De qualquer forma, esses comentários que recebi por e-mail me fizeram refletir sobre o objetivo do Instituto Lula. É um meio de conseguir doações politicamente corretas que possam ser canalizadas para os projetos políticos do ex-presidente do Brasil, incluindo uma volta à Presidência? Ou realmente quer propor uma ordem internacional mais multilateral?Provavelmente é uma mistura dos dois.
Independentemente do futuro político do Molusco, o fato é que há uma característica marcante nesse mundo globalizado a respeito de pessoas que ocupam o cargo mais alto no Executivo de algum país proeminente na cena mundial. Tal experiência, que antes era o ápice da trajetória do indíviduo, hoje parece ser apenas um item a mais do seu currículo, usado na verdade como trampolim para carreiras mais promissoras na iniciativa privada. Se antestínhamos líderes como Jimmy Carter, Ronald Reagan, Margaret Thatcher se aposentando e dando sua opinião parciminosamente sobre osacontecimentos mundiais, hoje os ex-presidentes e ex primeiro-ministros são globe trotters, viajam pelo mundo dando palestras, entrevistas, prestando consultoria, lançando livros, e ganhando muito dinheiro com isso. Afinal, em nosso mundo pessoas bem-sucedidas são regiamente recompensadas pelos seus talentos.
Um caso emblemático é o de Tony Blair, primeiro-ministro britânicode 1997 a 2007. Menciono-o por duas razões, em primeiro lugar por um interesse nacional. Ao que eu saiba, em 2010 o governador do Rio contratou os serviços de assessoria do homem que esteve envolvido na organização dos Jogos Olímpicos de Londres de 2012, como frisou Sérgio Cabral, que nos assegurou que faria uma vaquinha com as empresas brasileiras para pagar os polpudos honorários. Tenho lá minhas dúvidas, porque também haviam nos prometido que as arenas seriam todas construídas com dinheiro privado, que o povo não gastaria um tostão, e fomos obrigados a contribuir, com as consequências que todos sabemos…
A outra razão pela qual o menciono é que a carreira de Blair como ex-líder tem sido extremamente bem-sucedida. George Galloway, membro do Parlamento Britânico disse em entrevista que ele fatura 25 milhões de libras esterlinas por ano. Para quem quiser está em http://www.kickstarter.com/projects/22595538/the-killing-of-tony-blair?ref=banner. De fracassado especulador imobiliário de antes de sua passagem pelo governo do Reino Unido, Tony Blair foi altamente eficiente em amealhar uma fortuna prestando consultoria a países obscuros como Azerbaijão e Mongólia, países “patrocinadores do terrorismo” como Líbia, que foram perdoados pelos pecados de antanho,atuando como conselheiro do J.P. Morgan para o qual fez lobby na Líbia para que o fundo soberano do país trabalhasse com aquele banco de investimentos americano, fundo este que acabou tendo grandes prejuízos recentementehttp://www.ft.com/intl/cms/s/0/8fc046c4-870e-11e0-92df00144feabdc0.html#axzz2f07jbKhf.
Enfim, Tony Blair soube se aproveitar de sua posição de líder global, mas agora há pessoas que querem que ele preste contas da sua atuação. No site que mencionei acima, Galloway está arregimentando doações para realizar um documentário intitulado The Killing of Tony Blair, em que o objetivo é mostrar o lado negro daquele que é considerado por muitos como o assassino do Partido Trabalhista, oassassino de mais de um milhão de pessoas no Iraque, Afeganistão, Paquistão, Líbano. Galloway acusa Blair de ser o homem que fez transações obscuras com Gaddafi, para cujo filho arranjou um PhD na London School of Economics em troca de uma doação àquela instituição de ensino, com a Arábia Saudita, que é a maior financiadora do terrorismo extremista, enfim de ser um homem que lucra ajudando a criar os monstros, i.e. o terrorismo internacional, e depois posa de paladino defensor das democracias ocidentais.
Se tudo isso for verdade, Tony Blair é um verdadeiro psicopata, se mais não fosse pelo fato de se colocar como convertido ao catolicismo e realizar debates com ateus inveterados, como Christopher Hitchens, já falecido, defendo a religião. Com certeza Barack Obama vai se juntar à trupe dos papas da governança global, e depois de sua saída da Casa Branca desfilará suas credenciais de primeiro presidente negro pelos quatro cantos do mundo, e ajudando-o a manter uma vida de nababo. Duvido que o mesmo aconteça com o Vladimir Putin, afinal ele é muito politicamente incorreto, ditador que apóia ditador, anti-gay, anti-feminista. E no entanto, suas manobras até agora evitaram uma intervenção direta americana na na Síria. Eu pergunto: quem é o líder e quem é simples andarilho à caça de níqueis, toneladas deles, pelo mundo?