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Un village brésilien

Posted by on 21/07/2013

          Depois de um ano de labuta, que incluíram duas férias sacrificadas no altar dos livros e do notebook de anotações, acabei meu trabalho de conclusão de curso, o famigerado TCC, que discorreu sobre as disputas do Brasil contra o Canadá em torno dos aviões (Embraer x Bombardier, lembram-se?) e contra os Estados Unidos no caso do algodão. Como patriota brasileira que sou, falei mal dos países desenvolvidos, que protegem com unhas e dentes sua agricultura na Organização Mundial do Comércio por meio de um acordo que tem tantas exceções, ressalvas e tergiversações que fica difícil achar qualquer problema com as políticas agrícolas dos Estados Unidos e da União Europeia. O clube dos ricos alega que a agricultura não pode se submeter aos rigores do livre comércio preconizado por Adam Smith porque ela não tem uma função estritamente econômica, mas social, cultural e ambiental.

        Bem, apesar de tal postura afetar a balança comercial do meu país em virtude da perda de exportações que isso acarreta, não se pode negar que há uma certa lógica. Tal lógica ficou muito clara para mim ao assistir a um programa na TV5 intitulado“Le Village Préféré des Français 2013”. No verão, os franceses, que têm direito a férias remuneradas, picam a mula das grandes cidades e muito frequentemente procuram lugares em seu próprio país. Daí a pertinência de uma enquete sobre quais as pequenas cidades preferidas para descansar em julho e agosto. Para quem tiver curiosidade sobre as vilas campeãs, http://www.france2.fr/emissions/le-village-prefere-des-francais/accueil.

       O que é oferecido aos turistas na Alsácia, na Normandia, nos Pirineus e outros lugares? Basicamente boa comida e bebida, melhor dizendo, comida e bebida típicas de cada região preparadas de acordo com métodos e ingredientes locais: há a pimenta de Espelette, o pernil preparado à maneira medieval em cavernas, chamadas de troglôs, porque formadas a partir da exploração de pedra para construir os castelos dos nobres, as tortas doces do País Basco. Está aí o caráter especial da agricultura. Atualmente, ela responde por 2% do PIB e 3,8% da mão de obra na França, o que a torna insignificante do ponto de vista econômico, mas as externalidades positivas que ela gera justificam os privilégios de que goza. Afinal, esses agricultores e produtores rurais que possibilitam que haja pratos encontrados somente em uma determinada região no final das contas viabilizam a própria indústria do turismo, a maior do mundo: em 2012 a França recebeu 83 milhões de turistas estrangeiros.

          É claro que as pessoas não vão à França somente para comer e beber, vão para visitar museus, construções históricas, etc. Mas o que seriam das pequenas igrejas, das ruínas de castelos senão houvesse pessoas no local, que lá conseguem se manter à custa de polpudos subsídios concedidos pela Política Agrícola Comum, que causa calafrios em todos os países com vocação agrícola natural como o Brasil? Provavelmente, se as pequenas vilas ficassem despovoadas muito do patrimônio histórico ficaria descuidado, para não falar das paisagens, que não seriam floridas e encantadoras como são. Em suma, a agricultura respalda em muito a situação econômica atual em que 80% do PIB da França é produzido pelo setor de serviços.

          Repito, sou uma patriota e quero o bem do meu país. Não vejo chances de o Brasil conquistar mais participação no comércio agrícola mundial por meio de acordos multilaterais, porque como mostrei aqui, embora os subsídios acabem beneficiando grandes produtores de commodities agrícolas e de vacas loucas, não se pode negar que os pequenos produtores beneficiam-se em menor escala, mas com todos esses efeitos benéficos que venho descrevendo. São esses efeitos que gostaria de ver serem imitados no Brasil.

          O turismo no Brasil é anêmico. Atraímos por ano 5,6 milhões de visitantes estrangeiros por ano, o mesmo que a Argentina, um país que é três vezes menor do que o Brasil. Nós brasileiros preferimos viajar aos Estados Unidos e à Europa do que conhecermos nosso país. Claro que há o problema da nossa mente colonizada, mas não há como negar as dificuldades de acesso, os preços que fazem com que Miami ou Paris apresentem uma relação custo-benefício melhor. Não vou tratar aqui do custo Brasil, isso é matéria econômica, vou apenas propor que ofereçamos nossas próprias villages brésiliens, e para tanto precisamos criar nossas próprias tradições.

         Sim, tradição é algo que se cria, não é algo dado, mas algo conquistado. Explico-me: todo lugar tem sua história, seus pratos típicos, bebidas preferidas. A questão é que alguns países conseguem consolidar todas essas idiossincrasias e estabelecer que aquilo é tradicional, agregando valor a um costume pela mera aposição de um nome. Infelizemente no Brasil achamos que só porque fomos fundados em 1500 não temos nada para contar. Mas temos sim, e muito, e para ilustrar meu ponto não vou falar da comida mineira, ou baiana, do arroz de carreteiro, do pato no tucupi. Falarei de duas viagens que fiz no Brasil que foram frustrantes porque não pude visitar locais que para mim eram interessantes e que poderiam sê-lo a outros turistas se isso lhes fosse oferecido.

       Há três anos fui a Sergipe e não houve meio, apesar de muito procurar, de encontrar alguma agência que me levasse a Angico onde Lampião foi abatido pelas forças da ordem. O cangaço é parte da nossa história, da nossa tradição de justiça feita com as próprias mãos à margem do Estado que passa pela Guarda Nacional, pelos linchamentos e pelas milícias de que tanto se fala hoje em dia. Só me restou fazer passeio de barco pela Hidroelétrica de Xingó, e o museu que lá havia sobre as populações autóctones estava fechado. A outra viagem que fiz e que não proporcionou tudo o que podia, foi a Congonhas do Campo, em Minas Gerais. O local de onde Aleijadinho tirava a pedra-sabão, matéria-prima das esculturas dos profetas, está abandonado, disse-me um guia local.

     Ante o estado calamitoso das finanças da maioria dos municípios brasileiros, é urgente criarmos atividades econômicas que possam fazer com que eles deixem de ser eternamente dependentes das verbas do Fundo de Participação dos Municípios. Seria bem-vinda qualquer ajuda financeira que criasse nossas próprias localidades, cheias de tradição para dar e principalmente vender.

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