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Cadê a sustentabilidade?

Posted by on 19/04/2013

             Vivemos no país a festa democrática, temos eleições a cada dois anos e se não bastasse essa profusão de escolhas em que parecemos decidir a respeito de cores diferentes de roupas, a mídia insiste em antecipar a discussão dos candidatáveis. Isso fica patente principalmente em relação ao cargo de Presidente da República, em que os jornais, revistas, sites na internet mais tratam do tema como meio de entretenimento do que como oportunidade de discussão dos rumos do Brasil. Afinal, tudo fica reduzido a um jogo ou corrida de cavalos: pesquisas são publicadas frequentemente para ver quem está no páreo e quem não está, quem é cavalo manco e quem é promissor. Os candidatos são identificados não por suas ideias, sobre o que fazer para resolver nossos problemas, mas por seus marcadores de performance, os índices nas pesquisas.

                  Não estou aqui a atacar a idoneidade das pesquisas e levantar o argumento comum de que eu não conheço ninguém que tenha sido entrevistado para uma enquete de intenção de votos. Eu mesma na eleição para prefeito do ano passado fui entrevistada pelo Data Folha e com base nessa minha modesta experiência pessoal creio que não há nenhum problema metodológico com o trabalho realizado por órgãos de reconhecida competência. Meu problema não são as pesquisas em si, mas o modo como elas são usadas: ao mesmo tempo que fisgam a população pelo aspecto da disputa empobrecem a pauta das eleições. Mesmo havendo a realização de debates eles são no mais das vezes um marco, um evento para dar ensejo a uma nova pesquisa que avaliará quem perdeu ou ganhou como se existisse algo desse tipo quando são discutidos temas como educação, saúde, economia, segurança, corrupção, infraestrutura, para citar os mais candentes.

                   Estamos agora com as portas abertas do Jockey Clube Brasil e as apostas estão abertas. Há o galego pernambucano de olhos azuis, Eduardo Campos, um potencial azarão (desculpem o clichê batido, mas em prol da minha argumentação devo levar minha metáfora “cabalística” como diria o saudoso Vicente Matheus até as últimas consequências), há a altaneira égua Marina Silva que foi uma surpresa na corrida passada chegando em terceiro lugar. Quem sabe se ela conseguir as tais 500.000 assinaturas para registrar sua Rede Sustentabilidade no TSE ela não consiga surpreender uma vez mais e disputar cabeça a cabeça com a égua mãe, veterana corredora, Dilma Rousseff? Não devemos esquecer do garanhão que quer tornar-se corredor, Aécio Neves, representando uma ilustre raça de cavalos que nos últimos páreos teve um desempenho frustrante.

                 Dentre esses lindos espécimes equinos, não vou deter-me sobre Eduardo Campos que não me interessa. O Congresso Nacional, como eu tentei mostrar na semana passada, é dominado por representantes do Norte e do Nordeste, o Executivo, em que a eleição de fato é proporcional à população, é normalmente terreno de alguém que fez carreira no Sul Maravilha. Há exceções como Fernando Collor de Mello, mas elas não são significativas a ponto de macular o ponto principal de que candidatos com base política no Nordeste não têm muita chance em uma eleição nacional,em que o princípio de que cada cabeça equivale a um voto é realmente para valer. Quanto ao Aécio Neves, ele é mais um dentre os tantos príncipes do partido que tenta sair ileso da fogueira das vaidades dos bem nascidos e convencidos tucanos.

               Falarei da Dona Marina, a candidata dos bem pensantes, dos globalizados, dos conectados, enfim dos que herdarão a terra. Afinal o próprio nome do seu partido, ainda em gestação, mostra como ela está em sintonia com a modernidade. Rede, ligação de pessoas fisicamente distantesmas que compartilham valores, sustentabilidade, conceito-chave que encapsula tudo o que um governo deve perseguir: crescimento econômico combinado com desenvolvimento econômico, aumento do PIB combinado com justiça social, aumento da capacidade produtiva do país preservando o ambiente como ativo estratégico, globalização combinada com respeito às culturas locais. Quem pode ser contra uma agenda dessas? Especialmente se esse alguém é educado, vive em centros urbanos e lamenta a indigência material, social e moral a que muitos brasileiros ainda estão condenados por uma visão arcaica da economia e da política?

                   O problema está aí. Será esta sustentabilidade uma verdadeira agenda, no sentido de ser um programa factível de governo? Não estou aqui a ponto de fazer a crítica estúpida de que falta detalhamento às propostas de Marina. Afinal, para que ela tem o ilustre economista e filósofo Eduardo Gianetti da Fonseca como seu guru intelectual? Minha suspeita com relação à ex-seringueira é a respeito de um posspivel modo de governar.

                      Essa pulga surgiu na minha orelha depois que li um seu artigo no domingo dia 14 de abril sobre os haitianos que chegam ao Estado natal dela, Acre, em busca de uma vida melhor aqui no Brasil. Marina, em nome dos direitos humanos dos refugiados, conclama o governo brasileiro a fazer mais por eles, a agilizar a emissão de papeis, a arregimentar uma aliança de países para ajudá-los (ela sensatamente admite que não podemso fazer isso sozinhos). Um discurso bonito, sem dúvida, e eu seria cruel em atacar propósitos tão dignos, mas permitam-me sê-lo.

                      Se começarmos a acolher haitianos aqui dando-lhes de comer e beber e carteira de trabalho, isso vai incentivar outros a virem. E que vantagem o Brasil leva em recepcionar esas pessoas? Por acaso são os engenheiros, os técnicos de que precisamos tanto no Brasil? Posso estar sendo leviana, mas quem chega aqui a nado, andando pela Floresta Amazônica, não é um imigrante qualificado, mas um desesperado que trabalhará em qualquer coisa. Não me consta que tenhamos falta de pessoas desqualificadas para começarmos a importar os descamisados de alhures. O mais sensato para mim seria mandá-los de volta ao Haiti, pagando-lhes a passagem.

                Temo que Marina Silva Presidente seria uma people pleaser(para quem quiser saber mais sobre o que é isso http://psychcentral.com/lib/2011/21-tips-to-stop-being-a-people-pleaser/all/1/). Ela tentaria fazer o bem a muitas pessoas de maneira séria e determinada como é de seu feitio, mas sem foco, sem prioridades. Porque priorizar é dizer não, é fazer inimigos, como Margaret Thatcher fez, tanto que sua morte foi comemorada por todos aqueles que foram deixados para trás por suas reformas econômicas: mineiros, funcionários públicos, operários de empresas deficitárias. Por outro lado, a Dama de Ferro sabia exatamente o que ela queria fazer, e dedicou todas as suas energias ao que escolheu, obtendo resultados: Londres não seria o grande centro financeiro globalizado que é se não fosse por causa da milk snatcher.

                     Governar bem é dizer não o tempo todo, tendo em vista o objetivo que se deseja alcançar. Dizer sim sempre e querer agradar todo mundo em nome de ideais grandiloquentes não é sustentável. Eu votaria na Marina para um cargo no Legislativo em que seu bom mocismo servisse de contraponto a excessos de crueldade, mas considerá-la seriamente para presidente é uma loucura.

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