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Viúva negra

Posted by on 15/02/2013

      Em meu recesso carnavalesco assisti no You Tube a um programa que eu adoro, Secrets D’Histoire. Felizmente eles estão colocando a versão integral na internet, coisa que não faziam antes. Pois bem, o episódio era sobre Henri IV, rei da França de 1589 a 1610. Seu assassinato por Ravaillac pega o reino desprevenido, já que o herdeiro tinha apenas nove anos, e a viúva, Marie de Médicis, assume o poder como regente. A “banqueira bronca”, como a chamava uma das amantes do rei, revela uma paixão furiosa pelo poder, mas não a mesma habilidade para governar. Dá rédeas soltas a um favorito, Concini, e no momento em que seu filho chega à idade para tornar-se de fato rei, ela se nega obstinadamente a largar o osso e se revolta abertamente contra ele. Ao final o novo rei, Luís XII, consegue livrar-se de Concini, assassinado, e Marie é expulsada França, amargando um exílio miserável em Colônia na Alemanha até sua morte

      Quando terminei de ver a saga da viúva que assume o poder e mete os pés pelas mãos não pude deixar de me lembrar de Cristina Fernández de Kirchner, a presidente da Argentina que está se esmerando nas trapalhadas. Seu mandato era para ser tampão, para guardar lugar para o marido, Néstor, que governou de 2003 a 2007, e eis que em 27 de outubro de 2010 o pinguim morre, frustrando os planos do casal,” restando” a Cristina candidatar-se à presidência para um segundo mandato, conquistado em outubro de 2011.

       Não é meu objetivo aqui fazer uma análise detalhada do desempenho do casal na presidência do nosso vizinho mais importante, mas a princípio destacar alguns pontos positivos e negativos. A reestruturação que Néstor fez da dívida argentina já no primeiro ano do seu governo, apesar de ter sido na prática um calote nos investidores, que até hoje tentam reaver o dinheiro em instâncias internacionais, era a coisa mais sensata a fazer. Digo até que é um exemplo que deveria ser seguido por países europeus como Espanha, Grécia, Portugal, porque fingir que é possível pagar o impagável só para que o sistema financeiro não tenha prejuízos traz consequências sociais desastrosas. Infelizmente, o calote soberano da Argentina permanecerá um caso isolado, porque os porquinhos europeus estão sob o jugo inclemente do ex maoísta José Manuel Durão Barroso, e da filha de pastor luterano Angela Merkel.

     Por outro lado, a lei que Cristina, provavelmente com as bençãos do marido, conseguiu aprovar no Congresso em novembro de 2008, transferindo 30 bilhões de dólares de ativos de fundos de pensão privados para o sistema público de previdência, é uma grande lástima, porque enche a classe média de desconfiança e temor e sem uma classe média pujante que trabalhe esperando algo melhor no futuro nunca haverá prosperidade real em país nenhum. Nós na América Latina precisamos aprender de uma vez por todas que muito mais importante do que conquistar a confiança dos investidores estrangeiros é conquistar a confiança do nosso povo, que mora aqui, que abre negócios, que dá empregos, dar-lhe segurança que não será tungado, que seu dinheironão será confiscado. Infelizmente ainda não estamos suficientemente amadurecidos para vermos nossos governantes terem verdadeiro respeito pelo povo e não vê-lo simplesmente como fonte de votos.

       O confisco do dinheiro dos fundos de pensão ocorreu no primeiro mandato de Cristina, enquanto ela ainda tinha Néstor ao seu lado, mas parece estar havendo uma mudança qualitativa no desempenho da presidente que, em seu segundo mandato se viu viúva com o poder nas mãos.Ela parece não saber o que fazer com ele, e as lambanças tem sido rotineiras, mais do que quando estava acompanhada do marido. Não dou muita importância sobre o pito passado pela presidente do FMI, Christine Lagarde, em 24 de setembro de 2012 a respeito da pouca confiabilidade dos números apresentados pelo governo argentino sobre inflação e crescimento econômico. Se não deixa de ser verdade que as estatísticas kirchnerianas são pouco confiáveis, não menos verdade é que sob certo ponto de vista tal acusação da advogada defensora de banqueiros é covarde porque os Estados Unidos manipulam suas estatísticas sobre inflação e desemprego impunemente. Para quem quiser mais detalhes, veja o site do estatístico americano John Williams em shadowstats.com: os trabalhadores que desistem de procurar emprego não são levados em conta, como se tivessem desaparecido, e para substimar a inflação, pressupõe-se que havendo um aumento de preço de um produto o consumidor irá substituí-lo por outro, de qualidade inferior, e ele terá a mesma satisfação. Em suma, a Argentina é condenada por manipular estatísticas simplesmente por não ter muito poder no cenário internacional.

       Em minha opinião, a loucurada viúva negra Cristina está mais napublicação de uma carta aberta dirigida a Cameron em três de janeiro deste ano pedindo a devolução das Ilhas Malvinas. Qual é o objetivo dela? Criar uma desculpa para uma declaração de guerra ante a negativa do primeiro-ministro britânico? O país não tem problemas mais sérios com quelidar neste momento?De fato, o país tem, um deles sendo a inflação ascendente. A última medida da presidente, introduzida pelo Secretário de Comércio Interno, Guilllermo Moreno, o Concini de Cristina, é um congelamento de preços “acordado” com as principais cadeiras varejistas do país. Em uma economia capitalista, em que as decisões de compra e investimento são determinadas pelo preço dos produtos e pela margem de lucro esperada, isso só leva à falta de produtos e à disparada de preços.

       As trapalhadas da presidente da Argentina não são uma infelicidade só para osargentinos, mas para nós vizinhos e membros do Mercosul. Ter nosso principal parceiro comercial cometendo desatinos enfraquece nossa aliança, já tão combalida pela suspensão do Paraguai, pela entrada na surdina da Venezuela, e principalmente pelo fato de um país com um grau razoável de governança como o Chile ignorar-nos solertemente em prol de um Acordo de Livre Comércio que está sendo negociado entre os países do Pacífico, sob a liderança dos EUA. Enfim, a Argentina desvairada é um Mercosul fraco, isolado e pobre. Torçamos para que Cristina se cure de suas estultices porque a alternativaserá esperar que alguém lhe arranje um exílio oportuno, e isso tem sempre consequências funestas na América Latina.

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