Meus caros leitores do Montblatt, nosso editor sempre reclama com razão que vocês não fazem comentáriosnem positivos nem negativos a respeito dos artigos. Não há como obrigá-los a fazê-los, portanto a saída é conformar-se ou ir atrás de “fidibéqui” alhures. Foi o que fiz semana passada, quando mandei meu artigo sobre o Obama a uma amiga que coincidentemente falara sobre a biografia dele e quanto admirava sua trajetória de vida. Depois de receber meu artigo criticando o Prêmio Nobel da Paz de 2009, ela me espinafrou dizendo que eu me negava a ver qualquer qualidade nele e o nome de rabugenta vinha bem a calhar. Quando eu repliquei que me mandasse algum artigo falando dascoisas que o Obama realmente fez, e não o que ele falou, ela quis me mandar informações tiradas do twitter dele e do site da presidência. Eu agradeci e disse que essas não são fontes fidedignas porque são promocionais.
Este intróito serve para que eu reitere minha posição rabugenta e a explique de maneira mais detalhada. Reitero minha posição porque, apesar de achar que com Romney o desastre seriamais total para o mundo, isso não exime o presidente das suas falhas. Mitt Romney já declarou expressamente que vai ajudar ainda mais os rebeldes na Síria, que vai aumentar a presença americana no Afeganistão e que vai pressionar ainda mais o Irã. Em suma ele é uma criatura do complexo industrial militar em nível mais elevado que Obama, o que não significa que o Prêmio Nobel da Paz tenha feito algo que contribuísse para acalmar os ânimos na cena mundial.
As intervenções no Oriente Médio e na África, particularmente a derrubada de Gaddafi na Líbia e a destruição em curso do regime de Bashar al-Assad, só servem para mostrar que os EUA agem como um império, defendendo seus interesses econômicos e geopolíticos sem nenhuma preocupação com os efeitos a longo prazo em termos de aumento da violência e miséria do povo. Na Síria, um dos objetivos é atingir um dos inimigos dos EUA, a Rússia, que tem sua última base naval no Mediterâneo na costa da Síria, em Tartus. Na Líbia, Gaddafi havia se tornado ovelha negra porque ousara fazer negócios com os chineses, que exploravam petróleo no leste da Líbia. E para isso vale tudo, apoiar a Al-Qaeda, antigo inimigo número um, na Síria contra os alauitas de Assad,derrubar os sunitas de Saddam Hussein no Iraque que que os Estados Unidos haviam apoiado antes na Guerra Irã-Iraque e lutar ocntra o talibã no Afeganistão, antigo aliado contra a antiga União Soviética.
O lema é dividir para governar, estratégia sempre bem sucedida, pois infelizmente os muçulmanos preferem continuar brigando entre si e acabam se aliando aos países do Ocidente para ganhar força contra o grupo rival.As escaramuças atuais entre Turquia e Síria, que podem fornecer a desculpa parauma intervenção da Otan na guerra civil, é um exemplo típico disso. E quem mais sofre com governos que se vendem ao Ocidente obviamente é a população muçulmana, que é a vítima cotidiana dos ataques terroristas, das intervenções militares, da indigência econômica. Em suma, o primeiro Afro-Americano a chegar lá segue os script dos seus antecessores quando o assunto é política externa e longe de se pugnar pela paz perpétua sonhada pelo filósofo Kant em 1795 a faz um instrumento desprovido de princípios e de consistência,para atingir os quedesafiam o poder americano, como a China e a Rússia.
O fato é que esta mistura de politicamentecorreto com a face mais negra do capitalismo me faz ser uma rabugenta. O Obama usou sua “negritude” em sua carreira políticapara conseguir votos dos negros e dos brancos que se sentem culpados pela escravidão. E como ele teoricamente pertence a uma minoria está imune a ataques. Mostrem-me realizações de fato dele e serei toda ouvidos, mas não vale falar do aspecto simbólico da eleição de um negro para a presidência. Símbolos são importantes se eles galvanizam providências práticas, mas se são usados como máscaras para encobrir a inação, o indivíduo politicamente correto que fala coisas bonitas como “estender o arco da justiça” acaba pornão se diferenciar em termos de resultados efetivos deum homemque se reconhece como sendo de direita como Mitt Romney, que declarou que não espera que os 47% dos americanos que não pagam imposto de renda votarão nele, porque ele propõe o corte dos benefícios sociais.
Leitores do Montblatt, infelizmente minha alma rabugenta tem tido muito com que se alimentar. A última é este Prêmio Nobel da Paz à União Europeia. É verdade que a União Europeia, com a ajuda dos americanos,em seu início evitou novas brigas entre países europeus. Hoje ela insufla os cidadãos contra os governos nacionais,fazendo-os descrerem da democracia com esses infindáveis e inúteis programas de austeridade. Ter paz não significa só não ser convocado para uma guerra militar, mas ter emprego, poder pagar suas contas, não viver ansioso esperando pelo pior. Perguntado sobre a concessão do prêmio pela BBC, um dos membros do movimento dos Indignados na Espanha disse que a União Européia foi uma força do bem nos primeirostempos, mas nos últimos dez anos ela é apenas um instrumento do mercado para negar direitos ao povo. Concordo em gênero, número e grau.
Chega de rabugices, semana que vem tem mais, para os que aguentam meus rompantes.