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Política externa

Posted by on 26/11/2012

            A presidente eleita Dilma Rousseff leu seu discurso ao lado dos seus companheiros da longa jornada, entre os quais o nosso familiar Sarney, que consegue estar em todas, à direita, à esquerda, no centro e tenho fé que ao final estará no inferno, seu lugar merecido. À parte os chavões que caracterizaram toda a campanha, como a defesa do pré-sal, esse factóide em que estamos nos fiando para queimar etapas e chegarmos ao primeiro mundo sem muito esforço, foi gritante a falta de qualquer menção às nossas relações externas. Dilma não parece muito preocupada com isso, pois talvez concentrará seus esforços na erradicação final da miséria, na ampliação do Bolsa Família, no outro grande factóide que é o PAC, que talvez agora se transforme em realidade. Mas o fato é que o pouco que ela pretende fazer, pois quase não falou durante a campanha em nenhuma grande reforma fiscal, previdenciária ou política, dependerá muito de nossas relações externas, neste mundo globalizado.

            Estamos passando por um período de grande acomodação das placas tectônicas da geopolítica. O advento de Barack Obama ao poder, que prometeu mudanças e está seguindo a velha cartilha do imperialismo e dos privilégios à elite financeira, parece marcar o início da decadência dos Estados Unidos. A bolha imobiliária estourou e os americanos perceberam que estão de calças curtas, com uma taxa de desemprego estrutural, fruto da desindustrialização por que passaram e um déficit gigantesco, intratável, fruto entre outras coisas das guerras pelo mundo afora e agravado recentemente pela ajuda vergonhosa aos bancos, que só permitiu a estes maquiar seus balanços e distribuir bônus generosos a seus executivos.

            Mesmo ferido pela globalização que ajudou a detonar e menos auto-confiante do que outrora, o Tio Sam ainda tem alto poder de destruição. Estamos vendo isso se desenrolar aos nossos olhos com a política do Banco Central americano de despejar dólares no mercado para que os banqueiros emprestem às empresas e consumidores e assim reativem a economia. Nenhuma das duas coisas está acontecendo, mas os banqueiros estão se dando muito bem pegando esse dinheiro a taxas de juro próximas de zero, e inundando os países emergentes, entre os quais nós, de dólares. Aqui são atraídos pelas taxas de agiotagem que temos que manter, em vista do nosso imenso déficit público que esquerdistas e direitistas nunca souberam ou quiseram tratar. Para enxugar essa enxurrada e não sobrevalorizar por demais o real, o nosso Banco Central compra os títulos do Tesouro americano que hoje não rendem nada.

            Essa sangria não dará boa coisa para nós ainda que possa ser extremamente rentável aos financistas. De um lado empilhando títulos de um tesouro que a cada dia se revela mais incapaz de honrar seus compromissos. De fato, a vitória do Tea Party nos EUA mostra o alarmismo de uma parte da população americana com o tamanho do rombo. De outro, provocando a alta de nossa moeda, e, ao lado de nossa infraestrutura inexistente, de nossa mão de obra desqualificada, contribuindo para a perda de competitividade da indústria nacional e a inundação do Brasil de manufaturados importados.

            Os Estados Unidos, na melhor tradição do big stick não assumem sua responsabilidade por esse desequilíbrio que está causando nos mercados de câmbio e elege como bode expiatório a China, que nada mais faz do que proteger seus interesses, seja desenvolvendo sua capacidade manufatureira, seja não permitindo que sua moeda oscile muito. Fica claro que teremos que tomar uma decisão a respeito do que queremos para nós e é aqui que a presidente Dilma terá que dar atenção às nossas relações externas. Faremos coro com os Estados Unidos para pressionar a China a ceder e deixar o ren min bi se valorizar ou tentaremos nos desvencilhar da nossa ligação com o dólar que está cada dia mais enfraquecido?

            Nesse sentido, seria bom que nossa política externa fosse pautada menos pela tentativa de mostrarmos alinhamento com uma pauta de esquerda. O flerte do Lula com o presidente do Irã é um típico exemplo de desperdício de munição. Nenhum esforço diplomático que o Lula fizesse seria suficiente para dirimir as tensões, porque já há um consenso estabelecido por todos aqueles que apóiam o complexo militar americano e o lobby israelense, de que o Irã é do “eixo do mal” e de que deve estar na mira do Império, como o Paquistão, o Afeganistão e o Iraque. Por que então nos desgastarmos com um país que não faz parte dos nossos interesses estratégicos? Para mostrarmos nossa independência em relação aos EUA? Seria melhor mostrarmos essa independência tomando uma atitude firme em relação ao quantitative easing perpetrado pelo Banco Central Americano. José Dirceu, Marco Aurélio Garcia, ou quem quer que vá dirigir as relações exteriores do Brasil, chega de bravatas, chega de um terceiro mundismo e de um anti-americanismo do século XX, os desafios mudaram, realismo já em nossa política externa!

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