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O Macunaíma que deu certo

Posted by on 26/11/2012

            Com a idade é normal que nós nos tornemos mais seletivos, que nós estabeleçamos nossas prioridades de maneira muito clara. Lembro até hoje de uma cena do filme “Guerra ao Terror”, ganhador do Oscar no ano passado, creio eu, em que o personagem vivido por Jeremy Renner fala mais ou menos o seguinte para seu filho: “Sabe carinha, há um momento na vida em que sabemos o que é importante para nós e o que não importa.” E depois disso ele volta para o inferno do Iraque, abandonando a mulher e o filho, porque se sentia mais feliz lá desmontando bombas, tomando decisões dificílimas sobre a vida e a morte dele e de outras pessoas. Na guerra ele se realizava, em casa na vida familiar ele se angustiava por não conseguir escolher a marca correta de cornflakes. E assim o personagem escolhe o que era importante para ele e descarta o que era desimportante. Isso implica perdas e sofrimento para si e para outros, mas c’est la vie.

            Fazer escolhas requer maturidade e responsabilidade para arcar com as conseqüências. Essa qualidade parece estar se tornando cada vez mais rara no nosso mundo de consumo, em que tudo é permitido e permissível e portanto, basta irmos à gôndola do supermercado e se não gostarmos da embalagem do produto é simples: deixamos no carrinho ou no caixa do supermercado e pegamos outros sem maiores problemas. A questão é que há problemas neste pegar e descartar sem cerimônia. Basta olharmos para como os líderes do mundo globalizado agem para vermos como esse comportamento inconseqüente tem produzido péssimos resultados.

            Vejamos o caso do Prêmio Nobel da Paz, Barack Obama, tão admirado aqui no Brasil por ser um negro que chegou lá, ao contrário dos nossos negros que em sua maioria só chegam lá no rastro de uma bola de futebol ou na rabeira de uma bunda bem arrebitada. Pois bem,  o homem de fala moderada e mansa fez um discurso em 19 de maio no Departamento de Estado sobre a necessidade de estabelecer um Estado Palestino e um Estado Judeu respeitando as fronteiras demarcadas em 1967. Imediatamente foi ovacionado por sua coragem em confrontar Israel, em responder aos anseios do povo árabe, manifestado nas rebeliões populares deste ano no Oriente Médio e Magreb, de que os muçulmanos sejam tratados com mais justiça.

            Pois bem, não demorou muito e diante do desgosto demonstrado pelo lobby de Israel nos EUA em 23 de junho ele compareceu à Conferência Anual da AIPAC (Comitê dos Assuntos Públicos de Israel e Estados Unidos), para acalmar os ânimos e dizer que o que tinha dito não era aquilo que falaram que ele tinha dito. Para coroar este volte-face do Estado Americano, em 24 de junho o Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi aplaudido de pé no Congresso em Washington, e colocou os pingos nos is: a prioridade da política externa dos EUA no Oriente Médio deve ser a segurança de Israel, o que quer que isso signifique: bombardear o Irã, fazer limpeza étnica na Faixa de Gaza, condenar os palestinos a apelar à arma desesperada do terrorismo (É claro que Bibi não disse isso claramente, mas sabemos o que o bem-estar de Israel significa.

            Assim, tudo continua como antes no quartel de Abrantes. Os EUA continuam na prática dando seu apoio incondicional aos israelenses, independentemente das barbaridades cometidas em termos de violações de direitos humanos, o que insufla o ódio dos muçulmanos contra o império ianque. Mas o que importa isso? O importante é que Obama é um cara “cool”: Yes, we can dar uma no cravo, fazendo discurso em prol do tão quimérico Estado Palestino e dar outra na ferradura, apaziguando os zionistas sobre a possibilidade de Israel ter que devolver os territórios ocupados desde 1967. Belas palavras a platéias diferentes. Que mal há nisso? Que mal há em não tomar um curso firme e manter-se nele a despeito de tudo? Pode-se ao mesmo tempo dar uma ajuda humanitária aos famélicos palestinos, lhes acenar com suas terras, pedir a Israel que não construa mais assentamentos e ao mesmo não fazer nada para que Israel interrompa sua política de colonização.

            Não há mal nenhum justamente porque as pessoas parecem cada vez mais facilmente impressionáveis por belas palavras, submetidas que são ao ataque incessante da propaganda pela terra, pelo ar e pelo mar. Num mundo de factóides, de imagens fugidias, de cliques no i-pad, um comportamento coerente ao longo do tempo que mostre um princípio e aponte um fim, não faz muito sentido. Aliás, é entediante e não prende a atenção. Melhor são os lances de impacto: “discursos históricos”, “visitas inéditas”, apertos de mão simbólicos”.

            Obama, por ser o mais visível dos nossos líderes globais, me parece ser o grande mestre do faz de conta, a epítome do herói sem caráter, que longe de ser um pobre Macunaíma latino-americano é um grande vencedor. A economia americana está indo pelo ralo, o dólar cada vez mais enfraquecido, as guerras do Império cada vez mais intermináveis, os desafios à paz cada vez mais entrincheirados e ele sempre com o mesmo sorriso, a pose segura de grande animador de auditório, daquele que fala sempre coisas agradáveis, para quem noções como o certo e o errado, o moral e o imoral, não passam de conceitos retrógrados  de quem não vê que a polarização é obtusa. O legal é estar no meio, surfando na onda da popularidade, mantendo-se sempre na crista sem pender para nenhum lado. Uau! Deve ser uma sensação maravilhosa para o surfista, mas para quem está de fora e vê a próxima onda gigante se avolumando pode ser muito angustiante. O ideal talvez seria adquirirmos todos um pouco mais de responsabilidade e exigirmos dos nossos surfistas menos auto-complacência e mais remadas.

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