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Mulheres no poder

Posted by on 26/11/2012

            Muito se discutiu aqui no Montblatt a respeito das mulheres no poder, se seriam intrinsecamente melhores do que os homens, ou se deveriam ser julgadas objetivamente por sua conduta no poder, sem pré-julgamentos. O fato é que termos mulheres em postos de comando ainda é uma raridade em todo o mundo, daí ser muito difícil conseguirmos fazer um julgamento sobre a atuação feminina sem antes haver uma reação de surpresa das pessoas, quer positiva ou negativa.

            A reação positiva vem daqueles que consideram que é sempre bom haver mais mulheres participando da vida política para refletir sua crescente importância na vida econômica. Para esse grupo de pessoas, não importa qual a origem do poder conquistado: se foi por meio de um marido político, como a Hillary Clinton, nos Estados Unidos, como a Corazón Aquino, nas Filipinas, se foi por meio do apoio de um político homem, como nossa Dilma Rouseff, se foi por meio de ligações familiares, como Benazir Bhutto no Paquistão, ou se foi por meio das próprias pernas, como Michelle Bachelet no Chile, Angela Merkel na Alemanha, ou Margaret Thatcher, no Reino Unido.

            A reação negativa é daqueles que fazem ressalvas ao tipo de mulher que é alçada ao poder. As que se valeram da fama dos maridos, dos pais ou de seus mentores políticos nada mais fazem do que reforçar o paternalismo masculino. As que trilharam caminho sozinhas não valem, não são “mulheres”: ou já estão na menopausa e portanto não são mais “fisiologicamente” ou “biologicamente” mulheres, ou então se comportam como homens, abdicaram de uma vida familiar normal, ou pior, foram incapazes de qualquer relacionamento emocional, são ou desquitadas, ou solteiras ou sem filhos. Essa visão de que mulheres no poder na verdade não são mulheres na pura acepção da palavra é aparentemente corroborada pelos fatos. a premiê da Alemanha é casada, mas não tem filhos, veste sempre o mesmo uniforme de calça e casaco para esconder suas imperfeições físicas, é totalmente desprovida de charme. Michelle Bachelet é desquitada, apesar de simpática. Margaret Thatcher na época em que esteve no poder era casada e tinha filhos, mas já estava na fase das ondas de calor, ou muito além dela, e talvez por isso pôde governar a Inglaterra com mão de ferro…

            O que deve acontecer em termos de mulheres no poder para que superemos essa dicotomia? Qual a solução para que uma mulher no poder seja vista como um ser do sexo feminino, com filhos para criar, com marido em casa, em pleno gozo de suas capacidades reprodutivas, mas também das intelectuais? Será impossível às mulheres terem uma carreira política, conquistarem altos cargos antes dos 50 anos? Será que sempre haverá oportunidade de um homem falar de uma presidente, ou de uma primeira ministra (como ouvi falar da Dilma recentemente): ah, fulana tem um p. no meio das pernas?

             Talvez, mais fácil do que tentar mudar a mentalidade das pessoas seja mudar a própria realidade. E isso pode acontecer se a ex candidata a vice-presidente e ex-governadora do Alaska, Sarah Palin, sair candidata nas eleições de 2012 contra Barack Obama.

            Muitos que estejam lendo este artigo darão um risinho de desdém. De fato, Sarah Palin foi trucidada pelos humoristas americanos, por seu flagrante descaso pelo aquecimento global, pela defesa da prospecção de petróleo no Alaska, por seu apego às armas, por sua ignorância, por sua falta de credenciais acadêmicas (ela é formada em jornalismo num college qualquer). Para muitos ela será apenas a gostosa burra que não conseguirá mudar em nenhum milímetro os estereótipos sobre mulheres no poder.

            Tenho minhas dúvidas a respeito disso. Sarah Palin é casada, tem cinco filhos, sendo um deles bem pequeno ainda, tem charme, pernas bonitas, usas roupa femininas que a tornam sexy. Mais importante, tem percorrido o país desde que perdeu as eleições na chapa de John McCain, é uma das líderes do movimento Tea Party já explicado aqui na semana passada pelo editor do Montblatt. Lançou uma autobiografia e nesta semana estreou na televisão um reality show em que aparece com sua família pescando salmões nas águas geladas do Alaska, caminhando pela neve, enfrentando a natureza. Em suma, tudo para mostrar que ela corporifica os valores americanos tradicionais: a defesa da família, do individualismo, do self-reliance. Ela pode ainda não entender a diferença entre sunitas e shiitas ou não saber exatamente onde fica o Paquistão. Mas repete um mantra que tem agradado à parcela de brancos americanos assustados com o tamanho do desemprego e do déficit: o Banco Central está destruindo o valor do dólar com a política monetária expansionista, nossa dívida está saindo do controle, o Obama está aumentando demasiadamente o tamanho do Estado. Para aqueles que consideram o presidente como um socialista muçulmano, as palavras de Sarah Palin são mel.

            Pode ser que esta mulher tão carismática, que tem a capacidade de falar ao coração das pessoas (a primeira vez que a vi falar foi na Convenção Republicana e fiquei espantada como é fácil acreditar nela) não consiga ir além de um eleitorado cativo radical formado dos contra o aborto e a favor das armas. E se assim for ela não conseguirá sequer a indicação republicana à presidência, que dirá bater Barack Obama. Mas se a situação nos Estados Unidos, país que se descobriu desindustrializado pelos asiáticos de uma hora para outra, deteriorar, o discurso inflamado de Sarah Palin poderá ter eco. Seria interessante ver a jornalista gostosa, a “hockey mom” como ela mesma se definiu na campanha de 2008, se digladiar com o professoral, frio e condescendente advogado Barack Obama. Se ela fosse eleita veríamos se desenrolar pela primeira vez uma mulher que se fez sozinha na política, mas que os homens não poderão acusar de ser um ser híbrido metade macho metade fêmea. Quem viver verá.

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