browser icon
You are using an insecure version of your web browser. Please update your browser!
Using an outdated browser makes your computer unsafe. For a safer, faster, more enjoyable user experience, please update your browser today or try a newer browser.

Esquerda (direita) rosé

Posted by on 26/11/2012

            Na semana passada ao falar sobre as agruras de Dominique Strauss Kahn, eu acabei dando uma definição de que ser de esquerda é querer tirar dos ricos para dar aos pobres e de que ser de direita é querer tirar dos pobres para dar aos ricos. Sob essa ótica, ser de esquerda é mais ético, porque está-se a fazer justiça social, ao passo que ser de direita seria imoral e até mesmo cínico. Mas ao longo da semana alguns episódios ocorreram que me fizeram refletir sobre essa visão.

            Não falarei aqui do grande mundo representado pelas roubalheiras do Palocci, pela desfaçatez da nossa (in)Justiça que depois de onze anos finalmente resolveu prender o Sr. Pimenta das Neves. Falarei aqui do meu pequeno mundo, particularmente da minha faculdade. Nesta semana veio à tona, por uma série de contratempos que houve entre alunos e elementos estranhos ao corpo docente e discente, que na sede do Centro Acadêmico há venda de drogas aos alunos. A celeuma foi muito grande, afinal como pode haver a prática de atos ilícitos em uma faculdade de direito? Muitas críticas foram feitas à atual gestão do XI de Agosto, por estarem coniventes e até se aproveitando do tráfico para conseguir comprar  droga para eles mesmos.

            O interessante para mim foi ouvir os argumentos colocados pelas partes: os diretores do Centro, eleitos no ano passado pelo partido dito Fórum da Esquerda, ante a exigência feita pelo pessoal da “direita” da faculdade de chamar a polícia e mandar os traficantes embora, argumentaram que o porão, como é chamado o local, é um espaço público e que não se pode simplesmente barrar a entrada de pessoas a priori, mas se eles tentarem vender drogas OK, haverá um segurança a mais para coibir.

            Na verdade há muito indivíduos, moradores de rua do entorno do Largo São Francisco que prestam pequenos serviços como coleta de garrafas quando há festas na faculdade. São pessoas da “casa”, que já conhecem o pessoal do Centro Acadêmico e estão sempre por lá. Como simplesmente expulsá-los sob o argumento de que são traficantes? Não é preconceito social e racial julgar as pessoas pela aparência, só porque são pretos e pobres como diria Caetano Veloso?

            Em uma reunião realizada para discutir o assunto, disse um dos membros do Fórum de Esquerda que quem quisesse estudar sem ter mendigos por perto, como ocorre com aqueles que estudam em uma faculdade pública no centro da cidade, que fossem então estudar no Mackenzie, em Higienópolis, local de gente diferenciada, onde não há mendigos. Nisso ele foi rebatido por um representante da “direita” que disse a ele: “Ué, tá com pena leva pra casa! E desse modo prosseguiu a reunião, os dois lados repetindo clichês como “Respeite o Centro e o Centro respeitará você”, “As coisas tem que ser resolvidas depois de profunda discussão”. “É proibido proibir”. “Não adianta ser hipócrita”.

            E assim, tudo ficou como dantes no quartel de Abrantes. De um lado os diretores do centro acadêmico certos de suas convicções, continuarão sendo freqüentadores assíduos do porão, onde passam o tempo todo discutindo as questões sociais e sendo totalmente negligentes com relação à tarefa para a qual o Estado lhes colocou lá, que é estudar Direito. Sairão depois de cinco anos com um diploma no bolso, conseguido à custa de um privilégio, e certos do seu papel político, com certeza arvorar-se-ão representantes dos movimentos sociais, e para isso tentarão conseguirão gordas prebendas por meio de seus contatos, afinal conhecem todo mundo, os funcionários da faculdade, os mendigos da faculdade, os meliantes da faculdade.

            De outro lado, haverá os alunos de “direita” que sequer pretendem se apiedar dos mendigos, que são a favor da ordem e da disciplina, mas que têm em comum com os de esquerda o fato de usufruírem do privilégio da educação superior gratuita sem se preocuparem muito com as conseqüências práticas disso. Afinal, qual deveria ser o objetivo público de o Estado dar tal privilégio? Será o de simplesmente perpetuar a posição favorecida de alguns poucos, seja de direita ou de esquerda, ou de investir nessas pessoas para que elas possam render frutos depois e contribuir com a prosperidade da sociedade como um todo? Será que não deveria haver uma conscientização maior por parte dos alunos e professores de que o papel da elite deveria ser o de dar o tom na sociedade isto é, estabelecer padrões de conduta ética que, embora em última análise sejam elaborados à imagem e semelhança dela ao menos tenham um mínimo conteúdo de justiça?

            Mas não, ao contrário o que temos é uma divisão da faculdade em guetos, tribos, os “maconheiros”, os “nerds”, os nazistas”, os “esquerdistas”, os “alienados” que não dialogam verdadeiramente porque não entendem ou não querem entender as premissas mútuas. E o resultado é uma má formação de ambos os campos. Aqueles que passam os cinco anos flauteando no Porão terão aprendido alguns clichês jurídicos sobre direitos humanos, devido processo legal, etc. e talvez algum dia exerçam a profissão, mas sem muita pressa, porque não precisam lutar para sobreviver. Os mais pragmáticos, que querem ganhar dinheiro e arranjar um bom emprego, terão estudado mais para serem operadores da técnica jurídica, sem nenhuma preocupação de como sua justiça, a justiça que ele praticará graças ao seu diploma gratuito, afeta os brasileiros comuns.

            Por isso digo que muito mais importante do que ver quem é de direita e quem é de esquerda, o mais importante é saber quem está pagando e quem está ganhando na sociedade, e daí quem tem vontade de mudar a situação e quem não tem. Em nosso Brasil, a direita e esquerda acabam se fundindo num rosa insidioso que por ser claro e benévolo, sempre acaba se perpetuando no poder.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *