De acordo com o historiador Boris Fausto em seu livro História do Brasil, “a campanha presidencial de 1909-1910 foi a primeira efetiva disputa eleitoral da vida republicana.” De um lado estava o baiano Rui Barbosa, apoiado por São Paulo e Bahia, de outro estava o Marechal Hermes da Fonseca, apoiado por Rio Grande do Sul e Minas Gerais. “A candidatura civil de Rui, em oposição ao militar Hermes da Fonseca, deu nome à sua campanha: a campanha civilista. Pela primeira vez na história republicana, um candidato à presidência percorreu vários pontos do país em busca de votos” (Vitor Amorim de Angelo in http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/campanha-civilista.jhtm ). “Rui procurou atrair o voto da classe média urbana defendendo os princípios democráticos e o voto secreto. Deu à campanha um tom de reação contra a intervenção do Exército na política. Atacou os chefes militares e contrapôs a Força Pública estadual ao Exército, como modelo a ser seguido. Embora a base política mais importante de Rui Barbosa fosse, naquela altura, a oligarquia de São Paulo, sua campanha se apresentou como a luta da inteligência pelas liberdades públicas, pela cultura, pelas tradições liberais, contra o Brasil inculto, oligárquico e autoritário. A vitória de Hermes produziu grandes desilusões na restrita intelectualidade da época.” (Boris Fausto em “História do Brasil”) Hermes obteve 403 mil votos e Rui Barbosa obteve 223 mil votos, tendo ganho de Hermes em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, sua cidade natal
Lembrei-me deste episódio um tanto quixotesco da história do nosso Brasil quando li nesta semana a respeito do plebiscito que será realizado em 11 de dezembro no Pará para decidir pelo desmembramento do Estado em Carajás, Tapajós e Pará. É preciso que nós, aqui do Sul, nos mobilizemos contra esse absurdo. E quando digo nós, não estou incluindo os políticos, porque estes, mesmo que saibam que seus respectivos Estados ficarão ainda mais sub representados do que já são na Câmara dos Deputados e no Senado, não têm razões para se indignar porque estão todos comodamente usufruindo das benesses do poder, dos cargos públicos, dos empréstimos privilegiados do BNDES, naquele arranjo onde uns poucos ganham e a maioria perde que é tão tipicamente brasileiro. Nós, os trabalhadores do Brasil, é quem vamos pagar a conta.
De acordo com cálculos do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), os custos anuais de manutenção de Carajás e Tapajós seriam de R$ 2,9 bilhões e R$ 2,2 bilhões, respectivamente, o que geraria um déficit de R$ 2,16 bilhões, montante que seria pago pelo governo federal. Em média, Tapajós gastaria 51% do seu PIB (Produto Interno Bruto) com a máquina pública e Carajás 23% –a média nacional é de 12,72%. (http://noticias.uol.com.br/politica/2011/07/20/dalmo-dallari-faz-requerimento-no-tse-para-que-o-brasil-todo-vote-sobre-a-divisao-do-para.jhtm). Ou seja, à exceção de Carajás que viveria da extração mineral, os outros Estados são inviáveis economicamente. Os que defendem que a criação de mais dois Estados na Federação estimularia o desenvolvimento regional devem com certeza estar se referindo à criação de empregos públicos: dois novos Judiciários, dois novos Legislativos, dois novos Executivos. Isso não significa criação de riqueza, significa aumento de despesas, que serão pagas por aqueles que trabalham e geram empregos e cuja renda é em grande parte garfada por um Estado que impõe uma carga tributária de 33,6%, superior a de países como Suíça (29,4%) e Canadá (32,2%) (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/792959-carga-tributaria-no-brasil-e-maior-do-que-nos-eua-dinamarca-lidera.shtml), cujo nível de serviços públicos digamos que seja infinitamente melhor do que aquele que é oferecido em nossas terras tropicais.
Já falei anteriormente neste espaço sobre o endividamento do Brasil e muito melhor do que eu o Paulo Passarinho. Os EUA estão dando um grande calote em todo mundo pela desvalorização de sua moeda, que provoca a valorização do nosso real. Não se sabe o futuro do Euro, se os eurocratas conseguirão fazer com que os países do Sul do continente engulam a pílula amaríssima de anos de depressão econômica para pagar as dívidas contraídas com banqueiros inescrupulosos. Em suma, podemos estar adentrando mares revoltos, com uma debandada dos especuladores que sustentam nosso vício de perdulários, o que nos obrigaria a aumentar ainda mais os juros, deteriorando ainda mais nossas contas públicas. Não é hora de torrarmos dinheiro público com bobagens como essa. É claro que há interesses poderosos por trás dessa iniciativa, por exemplo, da Vale que quer se livrar do inconveniente dos sem-terra, dos políticos que querem arrumar um jeito mais fácil de se elegerem. Mas é preciso que as pessoas de bem deste país se unam contra as forças do mal, para que não haja o locupletamento da minoria à custa da maioria silenciosa e bovina.
Eu lancei um apelo aos meus colegas de faculdade para que levantassem essa bandeira no Centro Acadêmico XI de Agosto, cujos temas de luta recentes foram a mobilização pelos direitos dos homossexuais e contra os ataques machistas da imprensa contra Dilma e suas companheiras de ministério. Só recebi alguns poucos e-mails de gozação e uma sobranceira indiferença de quase toda a juventude dourada que estuda Direito na São Francisco na mesma turma que eu, para quem palavras como pagar contas ou declarar imposto de renda são etéreas, porque os mancebos são dependentes dos pais ou então funcionários públicos, querem mais é preservar o “esprit de corps”.
Vejo no entanto, uma luz no fim do túnel. Dalmo de Abreu Dallari, professor da minha faculdade, apresentou requerimento administrativo ao TSE para que TODA a população brasileira seja consultada sobre a criação dessas novas unidades políticas, com base no artigo 18 da Constituição Federal. O requerimento será votado em agosto. É preciso que coloquemos pressão nesses juízes, porque se formos depender do bom senso deles tudo estará perdido. E se a divisão for decidida em referendo pelo povo paraense com certeza a divisão será aprovada no Congresso Nacional, dominado pela bancada do Norte e Nordeste, e sancionada por Dona Dilma para agradar a base aliada, já que entre suas convicções (se é que ela tem alguma) e a necessidade de ceder às chantagens, temos visto recentemente que seu caráter é fraco demais para resistir à tentação.
O gênio da propaganda maligna Duda “Goebbels” Mendonça comandará a campanha pela criação de Carajás. O circo está sendo armado para os palhaços se apresentarem. É preciso que nós, as pessoas que pagam as contas deste Brasil, finquem o pé e não entremos no picadeiro.