Leitores do Montblatt, desde já peço perdão pelo conteúdo do meu pequeno artigo, ele será muito azedo. Mas hoje estou azeda, tive que trabalhar até tarde no escritório, ao menos não trabalhei além das duas horas regulamentares que a CLT estabelece por dia para hora extra. E trabalhei doente, com gripe, o nariz escorrendo, a garganta doendo, sentindo-me como quem tivesse levado 100 chibatadas no Pelô e metaforicamente levei, porque fui obrigada a labutar além do expediente sem a mínima possibilidade de escolha.
Estou a ponto de derramar uma lágrima… Como a Xuxa, vocês viram a loira mais famosa do Brasil na Contigo, dizendo que não é feliz? E não é para menos, com vários familiares doentes e sua mamãe querida com Mal de Parkinson. Alguns espíritos de porco, entre os quais eu, irão objetar que na verdade ela deveria estar é rindo. Rindo do seu inenarrável privilégio de poder oferecer à mãe TUDO o que a medicina geriátrica tem de melhor: fisioterapia, equinoterapia, hidroterapia, radioterapia, cuidadores, enfermeiros.
De fato, pagar 40 mil reais por mês em um asilo de luxo para sua mamãe é uma gota no oceano para a animadora da rede Globo, ao contrário dos pobres mortais como eu, que se enche cada vez mais de angústia ante a total e inexorável volta da minha progenitora à condição de criança. A mãe da Xuxa pode até se dar ao luxo de combinar Alzheimer com Parkinson e não será nenhum problema para sua filhinha. Ela visitará a mãe todos os dias e ficará feliz em ver a velhinha cheirosinha, de fraldinha big fral Kimberley Clark que nem se percebe de fora, devidamente medicada para não dar vexame para os convidados, e mesmo que não a reconheça não é de cortar o coração, porque a demente estará numa boa passeando pelo jardim do asilo com sua cuidadora, toda paciente e terna. E quando a paciência de um se esgotar ante as rabugices e teimosias da velha, haverá um substituto, afinal não se está a pagar 40 mil reais à toa.
Será que meu azedume já ultrapassou as raias da decência? Será que realmente a Xuxa não tem o direito de chorar em público reclamando para os 200 milhões de brasileiros de sua sina? Bem, nesse caso então vou dar uma chupeta para a Xuxa, acho que ela precisa é de colo, por favor vocês aí no Riiiiiiio, se a Xuxa chorar de novo ninem a pequena grande notável e dêem uma chupeta americana comprada em Miami e provavelmente feita na China, acho que ela vai se sentir querida. Esse é o problema, ela precisa ser o centro das atenções e quando fica muito tempo sem que lhe falem como ela é importante para todo mundo, como ela é o ó do borogodó se ressente e surta. Chupeta na rainha dos baixinhos, leitores do Montblatt!
Por falar em baixinhos, lembrei-me de algo que vai entornar ainda mais o caldo deste meu artículo. Há alguns meses assisti a um programa na BBC sobre prostituição infantil em nossas plagas. Credo, que assunto chato, já estamos carecas de saber que há, o Brasil é uma das mecas do turismo sexual, ao lado de Tailândia e outros países do Sudeste Asiático. Afinal, o que vêm fazer aqui os turistas europeus que lotam vôos charter? Não é isso que vendemos a eles? Sexo, bundas, mulheres e homens bonitos, sensualidade, homossexualidade sem preconceitos. alegria? Para que os leitores do nosso já saudoso hebdomadário, como diria o Sérgio Augusto, não me acusem de bairrista, não falarei que o Rio é a Sodoma brasileira. O programa mostrou o ponto de prostituição no estádio de futebol de Fortaleza, onde haverá jogos da Copa do Mundo. Meninas de SETE anos conseguem seus clientes ali.
Há todo um esquema: o motel que aceita menores, a conivência das “ôtoridades” que fazem batidas nas espeluncas de vez em quando, mas que se cansam e depois largam mão, deixando tudo voltar ao que era antes. E houve o momento mais importante na minha opinião, o momento em que eu senti ganas de obedecer ao verso da “Marseillaise” (aux armes citoyens): o repórter conversa com uma baixinha, no intervalo de um dos seus programas (não, não é o Xou da Xuxa, é o encontro no motel, onde a menina ajoelha todas as noites. Ela atende pedófilos europeus, coisa fina, faz pelo menos dez chupetinhas por noite, sem parar, chupetinhas para todos os gostos, brancaranas, morenas, chocolate, chupetinhas mais peludas e menos peludas. Putz, que fôlego tem essa menina, será que ela não se afoga não? Acho que a menina tira de letra, porque ao falar sobre seu emprego ela nem se abalou, descreveu de maneira prosaica, sem derramar uma única lágrima, sem auto-piedade, sem dar muito importância a algo que é uma tragédia..
Pois é, foi isso que me deixou indignada, e me deixa mais indignada ainda quando vejo pessoas como a rainha dos baixinhos se lamuriando. A menina falava muito pouco, e tinha um olhar de resignação completa, aos 7 anos já tinha a experiência de vida de uma mulher de 50. Aquilo é um trabalho, necessário porque sua própria mãe a manda fazer aquilo e exige o cumprimento das metas, isto é, trazer certa quantia para casa. O que há de mal em um trabalho, afinal é melhor ela fazer chupetinha do que roubar, não é mesmo? Sim, pode ser, e de mais a mais, mesmo que o Conselho da Infância e da Juventude, o Ministério Público de fato tirassem essa menina da rua e a colocassem com pais adotivos, ela provavelmente continuaria a chupetear pelo resto da vida. Se ela chegar à vida adulta nunca terá uma relação saudável com homem nenhum, de quem só conheceu o lado porco, nunca conseguirá amar porque não aprendeu em casa o que é isso.
Saí da mais absoluta crueldade à mais desabusada sentimentalidade. Peço humildemente o perdão de todos ao tratar de um assunto marginal. Estou sendo moralista, afinal a Xuxa não é culpada pelo fato de uma menina de 7 anos ter que fazer sexo oral para sobreviver em Fortaleza. OK, o país está bombando, Brasil, o rei das commodities, vamos arrebentar a boca do balão na Copa e a menina arrebentará a dela de tanto fazer chupetinhas… É melhor eu parar, não consigo me controlar, essa gripe está me deixando descompensada, acho que preciso de colo também… Buáááááááááá!!!!!!!!!